Bloomberg — O Fundo Monetário Internacional cortou sua previsão de crescimento econômico mundial para 2022, quando a pandemia de Covid-19 entra em seu terceiro ano, citando perspectivas mais fracas para os Estados Unidos e a China, juntamente com a inflação persistente.
Rebote Global
A economia global expandirá 4,4% este ano, abaixo da estimativa de 4,9% em outubro, declarou o FMI, com sede em Washington, em seu World Economic Outlook, na terça-feira (25). O fundo prevê crescimento de 3,8% para 2023, acima da projeção anterior, mas a expansão acumulada para os dois anos ainda será 0,3 ponto percentual menor do que o previsto anteriormente.
Os EUA, a maior economia do mundo, viram sua previsão cortada nas perspectivas para a agenda de gastos do presidente Joe Biden e a China, a segunda maior, em desafios no setor imobiliário.
A economia mundial cresceu 5,9% no ano passado, estimou o FMI, a maior em quatro décadas de dados detalhados. Isso se seguiu a uma contração de 3,1% em 2020, que foi o pior declínio em tempos de paz em números mais amplos desde a Grande Depressão.
Os bancos centrais, que reduziram as taxas de juros para amenizar o declínio econômico causado pela pandemia, enfrentam pressão para enrijecer ainda mais a política para enfrentar a alta dos preços ao consumidor, ameaçando reduzir a recuperação do crescimento. Os governos também têm menos espaço fiscal para gastar para atender às necessidades de saúde e impulsionar suas economias depois de acumular dívidas recordes.
‘Preparem-se’
“Os últimos dois anos reafirmam que esta crise e a recuperação em curso são sem precedentes”, escreveu Gita Gopinath, que se tornou a segunda autoridade do fundo neste mês após três anos como economista-chefe, em um blog que acompanha o relatório.
“Os formuladores de políticas devem monitorar atentamente uma ampla faixa de dados econômicos recebidos, preparar-se para contingências e estar prontos para comunicar e executar mudanças de políticas em curto prazo”, disse Gopinath. “Paralelamente, uma cooperação internacional ousada e eficaz deve garantir que este seja finalmente o ano em que o mundo vai escapar das garras da pandemia.”
Embora o FMI veja a variante ômicron ainda como um fator que pesará no crescimento no primeiro trimestre, espera-se que o impacto negativo desapareça a partir do segundo trimestre, supondo que o aumento global de infecções diminua e o vírus não se desdobre em novas variantes que exijam mais restrições na mobilidade.
As interrupções na cadeia de suprimentos estão estimulando uma inflação mais ampla do que a prevista, disse o FMI, com a taxa anual projetada para uma média de 3,9% nas economias avançadas este ano, acima da estimativa anterior de 2,3% e 5,9% nos países emergentes e em desenvolvimento.
O FMI vê o ritmo mais rápido de aumentos do custo de vida diminuindo gradualmente no final deste ano, supondo que as expectativas de preços permaneçam bem ancoradas, à medida que os gargalos de transporte diminuam e as principais economias respondam com aumentos das taxas de juros.
As economias avançadas que aumentam as taxas de juros podem criar riscos para a estabilidade financeira e os fluxos de capital, moedas e posições fiscais das economias de mercados emergentes e em desenvolvimento após o aumento dos níveis de dívida, disse o FMI. A cooperação internacional será necessária para preservar o acesso das nações ao dinheiro e facilitar a reestruturação ordenada da dívida quando necessário, alertou o fundo.
Projeções do FMI:
- O fundo reduziu sua previsão de crescimento nos EUA em 1,2 ponto percentual, para 4%. A revisão reflete a suspensão da hipótese de um impacto positivo do plano de gastos sociais do presidente Joe Biden, Build Back Better, que está parado no Congresso; retirada antecipada do apoio por parte do Federal Reserve; e gargalos contínuos na cadeia de suprimentos
- A previsão de crescimento da China foi reduzida em 0,8 ponto, para 4,8%, citando interrupções causadas pela pandemia, a política de tolerância zero do país para o Covid-19 e interrupções no setor de habitação
- O FMI cortou suas projeções de expansão para Brasil e México em 1,2 ponto percentual para 0,3% e 2,8%, respectivamente, com o combate à inflação já provocando uma política monetária mais apertada, que pesará sobre a demanda doméstica
- A Índia terá o crescimento mais rápido entre as principais economias em 9%, de 8,5%, devido a melhorias no crescimento do crédito
As projeções pressupõem que os desfechos ruins para a saúde causados pela Covid-19 recuem para níveis baixos na maioria dos países até o final deste ano, que as taxas de vacinação melhorem e os tratamentos se tornem mais disponíveis. Os riscos estão inclinados para o lado negativo, com novas variantes ameaçando estender a pandemia.
Acabar com a pandemia depende de acabar com a desigualdade de vacinas, disse o FMI. A parcela totalmente vacinada da população é de cerca de 70% para países de alta renda, mas inferior a 4% para nações de baixa renda. Oitenta e seis nações, representando 27% da população mundial, ficaram aquém do nível de vacinação de 40% no final do ano passado, que é a porcentagem que o FMI estima ser necessária para conter a pandemia.
O mundo também sofre com a profunda desigualdade nos testes de Covid-19, com taxas de testes cerca de 80 vezes maiores em países de alta renda do que em países de baixa renda.
– Com a colaboração de Zoe Schneeweiss.
– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.
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