Desmatamento no Brasil coloca tradings de soja na mira de investidores

Empresa norueguesa que administra mais de US$ 100 bilhões pode deixar de investir na Bunge e na ADM

Investidores aumentam a pressão para empresas eliminarem o desmatamento de suas cadeias de suprimento
25 de Janeiro, 2022 | 02:32 PM

Bloomberg Línea — A gestora de recursos norueguesa Storebrand (STB) anunciou ontem que pode deixar de investir nas ações das tradings ADM (ADM) e Bunge (BG), ambas listadas em Nova York. O motivo é ambiental. As duas empresas foram colocadas na lista de observação da asset management, que administra mais de US$ 100 bilhões em ativos e é a maior gestora da região nórdica, por haver o risco de ambas estarem contribuindo para o que foi considerado “graves danos ambientais”.

Ao entrar na lista de observação, Bunge e ADM passam a ser monitoradas mais de perto pela gestora, que pretende sugerir medidas e apresentar suas expectativas de resultado. “Esperamos que a empresa apresente melhorias dentro de um prazo pré-determinado. Dependendo do resultado, a empresa será excluída do nosso universo de investimentos ou será removida da lista de observação”, disse a Storebrand em comunicado publicado em seu site.

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Segundo a gestora, a aquisição de soja que Bunge e ADM fazem no Brasil está associada a um alto risco de estarem contribuindo com o desmatamento e da conversão do ecossistema nativo. Para ela, a produção de soja é um dos principais impulsionadores do desmatamento, que causa “emissão de gases do efeito estufa, perda da biodiversidade, aumento das temperaturas e violação dos direitos humanos dos povos indígenas e outras comunidades dependentes da floresta”.

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Do lado das tradings, ambas assumiram o compromisso em eliminar o desmatamento de suas cadeias de suprimento.

A Bunge se comprometeu a zerar o desmatamento até 2025 e a ADM até 2030. Contudo, isso parece pouco para a gestora. A Storebrand disse reconhecer as melhorias já realizadas, os planos de ação apresentados, as políticas adotadas e os compromissos assumidos, inclusive a evolução na rastreabilidade e monitoramento das cadeias de suprimentos.

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Foram exatamente esses avanços que garantiram que as tradings entrassem na lista de observação. No entanto, todas as medidas não foram suficientes até agora para evitar o desmatamento. A asset norueguesa “considera que os respectivos prazos das empresas para alcançar operações verificáveis sem desmatamento são muito longos e seus esforços atuais insuficientes para eliminar o risco de desmatamento de suas redes de fornecimento”.

Coincidência ou não, as ações das duas empresas têm operado em queda desde ontem (24). No primeiro pregão da semana em Nova York, os papéis da Bunge recuaram 0,7%, enquanto os da ADM terminaram o dia em queda de 0,5%. No início da tarde desta terça (25), as ações da Bunge operavam a US$ 92,40, com perdas de 1,4%. Já a ADM era negociada a US$ 67,38, em queda de 1,8%.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.