Risco da Ucrânia abala títulos e commodities com tensão elevada

Acúmulo de tropas russas está sendo citado por estrategistas como uma das principais ameaças aos mercados globais

Por

Bloomberg — O acúmulo de tropas russas na fronteira com a Ucrânia agora está sendo citado por estrategistas como uma das principais ameaças aos mercados globais, embora o presidente Vladimir Putin tenha dito repetidamente que atualmente não tem planos de atacar.

Os mercados locais de títulos, moedas e ações em Moscou e Kiev já foram atingidos, mas uma escalada nas tensões pode agravar as baixas. Embora as penalidades contra commodities russas não tenham sido discutidas pelos EUA e pela Europa, um conflito pode desestabilizar os preços do gás natural e do trigo. O apetite por títulos do Tesouro dos EUA está crescendo à medida que alguns investidores transferem suas participações para ativos mais seguros.

Ministros da UE devem discutir a situação da Ucrânia com o secretário de Estado dos EUA Antônio Blinken na segunda-feira. Aqui estão os principais aspectos dos mercados a serem observadas:

Gás na Europa

Embora os preços tenham caído desde o pico de dezembro, um problema na Ucrânia pode tornar a crise energética da Europa mais longa e mais severa. A maior vítima seria o Nord Stream 2, um novo oleoduto da Rússia para a Alemanha que ainda não iniciou suas operações. Qualquer escalada pode desencadear sanções ao projeto, potencialmente “restringindo os fluxos para a Europa por um período indefinido” enquanto empurra os preços para novos recordes, escreveram analistas do Goldman Sachs em nota. Os fluxos de gás russo para o continente estão em níveis reduzidos há vários meses, aumentando a pressão sobre os estoques baixos na região.

Ativos da Ucrânia

Os títulos estrangeiros da Ucrânia perderam 7,5% este ano em dólares, o pior desempenho nos mercados emergentes depois da Argentina, segundo índice da Bloomberg.

Metais

Os investidores estão ficando nervosos com as exportações de matérias-primas da Rússia, com as ações da MMC Norilsk Nickel PJSC, a maior mineradora da Rússia, caindo quase 5,9% em Moscou na segunda-feira. Analistas alertam que qualquer interrupção nos fluxos de outros metais, incluindo paládio, níquel e alumínio, pode impulsionar os preços drasticamente.

Veja mais: Putin pode estragar o sonho olímpico de Xi com uma guerra na Ucrânia

No entanto, cortar o fornecimento dos produtores de commodities da Rússia corre o risco de causar estragos nas cadeias de suprimentos de manufatura e não há indicações de que sanções diretas aos gigantes da mineração da Rússia estejam na agenda. Ainda assim, operadores também estão ponderando se quaisquer sanções mais amplas às instituições financeiras russas teriam um impacto indireto nas exportações de metais cotadas em dólares.

Ações da Rússia

Os estrategistas do Morgan Stanley prevêem uma queda de 27% no índice MSCI Rússia no caso de uma escalada substancial. Já com alguns dos piores desempenhos do mundo, as ações do país sentiram o calor novamente no final da semana passada, após um relatório de que Washington está permitindo que alguns países bálticos enviem armas fabricadas nos EUA para a Ucrânia. É provável que as empresas suspendam quaisquer planos de listagem de ações e esperem que os preços se recuperem antes de fazê-lo.

Títulos russos e rublo

À medida que a tensão aumentou, o Ministério das Finanças da Rússia cancelou os leilões regulares de títulos da semana passada, já que os rendimentos subiram para o nível mais alto em meia década. O rublo caiu na segunda-feira, recuando até 2,8% em relação ao dólar e liderando baixas em mercados emergentes. Os rendimentos da dívida local de 10 anos saltaram 33 pontos base para 9,76%.

Veja mais: Alta de juros no exterior traz menor perigo para emergentes

Ao mesmo tempo, uma recuperação nos preços das commodities permitiu à Rússia reconstruir suas reservas internacionais, que em mais de US$ 600 bilhões fornecem à economia uma proteção contra possíveis novas sanções.

Trigo

Os futuros de trigo atingiram a marca de US$ 8 pela primeira vez desde dezembro na semana passada, em meio a preocupações com possíveis interrupções no comércio.

Dependendo da escala de qualquer ação militar, a produção e exportação de commodities agrícolas ucranianas, incluindo milho e trigo, podem ser afetadas, Warren Patterson, chefe de estratégia de commodities do ING Groep NV, escreveu em nota na sexta-feira.

Para a Rússia, quaisquer sanções financeiras dificultariam o comércio, o que poderia afetar as exportações agrícolas, disse ele. A Rússia deve se tornar o maior exportador de trigo do mundo nesta temporada, depois da União Europeia. Ainda assim, após a anexação da Crimeia pela Rússia, não houve grandes interrupções nos fluxos de grãos da região, e os principais portos ucranianos estão longe da Rússia na parte ocidental da Ucrânia. Até agora, as conversas sobre novas sanções se concentraram nos setores financeiros, e não nas commodities.

Treasuries

Após o pior início de ano em décadas, os títulos do Tesouro dos EUA subiram à medida que a tensão entre a Rússia e a Ucrânia estimulou a demanda por papeis mais seguros. Os rendimentos dos títulos de 10 anos dos EUA caíram pelo quarto dia consecutivo depois de subir na semana passada para o nível mais alto em mais de dois anos. Os rendimentos de seus pares alemães, também considerados seguros, seguiram o exemplo e caíram na segunda-feira, depois de ficarem brevemente positivos pela primeira vez desde maio de 2019.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também

China não bate meta de acordo e aumenta pressão sobre Biden

Bitcoin x ações: estrategistas veem ligação positiva em 2022