Bloomberg — Enquanto os Estados Unidos e a Europa realizam esforços cada vez mais frenéticos para impedir a Rússia de invadir a Ucrânia, é o presidente chinês, Xi Jinping, quem pode ter a maior influência nos planos de Vladimir Putin.
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O presidente russo disse que se juntará a Xi na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, em 4 de fevereiro. O líder chinês desembolsou bilhões de dólares para mostrar ao mundo o status de superpotência de seu país.
A última coisa que Xi precisaria é que Putin ofuscasse o grande momento da China ao desencadear uma crise de segurança global com os EUA e a Europa, dizem analistas. Esse é especialmente o caso, já que Xi está procurando reforçar seu prestígio em casa enquanto busca apoio para um terceiro mandato sem precedentes ainda este ano.
As duas nações muitas vezes se apoiaram mutuamente no cenário global. Elas trabalharam em conjunto para bloquear as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, crítica para ambos, e se alinharam em questões coletivas como a da Coreia do Norte. Elas se deleitaram com a retirada caótica dos EUA do Afeganistão. E permaneceram em grande parte neutras em ações de interesse nacional da outra – como a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.
Xi chamou Putin de “velho amigo” quando conversaram em meados de dezembro, enquanto o líder russo saudou o que disse ser uma “abordagem conjunta responsável para resolver questões globais urgentes”.
Mas iniciar uma invasão da Ucrânia no meio do momento olímpico de Xi pode ser um fardo pesado demais nessa amizade e arriscar atrair a China para a briga diplomática. É possível que Xi tenha pedido a Putin, em seu recente apelo, para não invadir a Ucrânia durante os Jogos, segundo um diplomata em Pequim, que pediu para não ser identificado falando sobre tais cenários. A embaixada da China na Rússia descartou, no sábado, essa perspectiva, acrescentando que Pequim defende uma solução para os problemas por meio da estrutura dos acordos de paz de Minsk.
Putin negou repetidamente que pretende atacar a Ucrânia neste momento.
O Ministério das Relações Exteriores da China destacou a importância que Pequim atribui ao assunto em uma coletiva de imprensa em 14 de janeiro. Todos os países devem observar uma resolução tradicional da Trégua Olímpica da ONU “de sete dias antes do início dos Jogos Olímpicos até sete dias após o fim dos Jogos Paralímpicos”, disse um porta-voz.
Essa é uma janela que vai de 28 de janeiro a 20 de março, quando a paisagem congelada de inverno do leste da Ucrânia começa a se transformar em lama, no degelo da primavera. Segundo analistas militares em Moscou e no Ocidente, isso poderia impedir uma rápida incursão russa. A resolução da ONU patrocinada pela China foi adotada por consenso no mês passado, com o representante da Rússia pedindo a todas as nações que observem a trégua.
“Putin precisa levar em conta os interesses dos parceiros ideológicos e se comportar com o maior cuidado possível”, disse Andrei Kolesnikov, membro sênior do Carnegie Moscow Center. “Se Putin invadir, ele criará um cenário muito negativo para os Jogos Olímpicos.”
É provável que a Rússia espere pelo menos até a próxima semana, quando diz que receberá respostas por escrito dos EUA às suas demandas de segurança. Depois de se reunir na sexta-feira (21) em Genebra com o secretário de Estado, Antony Blinken, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, rejeitou a “histeria” ocidental sobre a Ucrânia e repetiu que a Rússia não tem planos de invadir seu vizinho, mesmo tendo reunido cerca de 100.000 soldados perto da fronteira.
Embora seja menos provável que a Rússia lance uma invasão em grande escala imediatamente, ela pode optar por uma incursão mais limitada na Ucrânia em meados de fevereiro, disseram duas fontes familiarizadas com as recentes avaliações ocidentais. Outras ações, incluindo ataques cibernéticos e tentativas de desestabilizar a Ucrânia, podem ocorrer em paralelo ou preceder uma intervenção. Essa avaliação não significa que uma invasão maior esteja fora de questão, já que aliados ocidentais disseram repetidamente que não conhecem as intenções de Putin.
As forças russas continuam a chegar à Bielorrússia para exercícios militares conjuntos de 10 a 20 de fevereiro, em meio ao alerta dos EUA e da Otan de que poderiam ser usadas para atacar a Ucrânia pelo norte. A cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno é em 20 de fevereiro.
Putin e a China já estiveram nessa situação antes. A guerra da Rússia com a Geórgia em 2008 eclodiu no dia da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, para desgosto dos líderes chineses, levando Putin a voltar para casa para operações militares diretas.
Dias depois de Putin sediar a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 em Sochi, nos quais ele gastou um recorde de US$ 50 bilhões para sediar os Jogos, as forças russas iniciaram sua operação para anexar a Crimeia da Ucrânia.
Putin planeja informar Xi sobre a demanda da Rússia por garantias de segurança dos EUA e seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte quando os dois se encontrarem em Pequim, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a repórteres na terça-feira (18). Embora não tenha havido “coordenação” entre eles sobre o assunto, “naturalmente, o presidente Putin informará a Xi sobre o que está acontecendo”, disse ele.
Questionado em um briefing nesta semana sobre a possibilidade de uma invasão russa, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, disse que Pequim defende “tratamento equilibrado e justo das preocupações de segurança”, enquanto pede a todos os lados que “resolvam as diferenças por meio do diálogo e da consulta”.
A Rússia tem pouco incentivo para antagonizar com a China, seu maior parceiro comercial, com um comércio total de US$ 112 bilhões, em 2020, e um gigante consumidor de energia e minerais russos. A China foi o maior importador de carvão russo, comprando mais de 29 milhões de toneladas em 2020 ou 15% do total das exportações, segundo o site de notícias RBC.
Em meio aos esforços diplomáticos para neutralizar a crise atual, o presidente dos EUA, Joe Biden, emitiu alertas cada vez mais urgentes sobre o risco de um ataque russo à Ucrânia. Os EUA e a Europa ameaçaram sanções “severas” em resposta, se isso acontecer, medidas que podem fazer com que Putin se aproxime ainda mais da China para mitigar o impacto na economia da Rússia.
Ainda assim, alguns dizem que se Putin planeja agir, ele o fará no melhor momento para a Rússia, apesar das possíveis consequências.
“Putin não pode sacrificar os interesses estratégicos e a segurança da Rússia para fazer um vizinho se sentir bem, mesmo que seja altamente respeitado e estrategicamente importante”, disse Tatiana Stanovaya, consultora política e fundadora da R.Politik. Se o líder russo acredita que as negociações de segurança com os EUA não estão chegando a lugar nenhum “então ele irá para a Ucrânia, independentemente de qualquer pedido da China”.
- Com a colaboração de Colum Murphy, Yuliya Fedorinova e Gina Turner.
– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.
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