Bloomberg Opinion — Alexis Leondis: Você é ilustrador, músico e fundador de uma empresa financeira, a The Hell Yeah Group, que ajuda pessoas criativas com suas finanças pessoais e empresariais. No início de sua carreira, você trabalhou em um grande banco como agente de cobranças e em uma tradicional empresa de planejamento financeiro. Em seu novo livro “Finance for the People: Getting a Grip on Your Finances”, você pega observa essas experiências “dos bastidores” para ajudar aqueles que se sentiram ignorados ou mal atendidos no gerenciamento de seu dinheiro. Qual é a mensagem mais importante para esses leitores?
Paco de Leon, fundador da The Hell Yeah Group e autor de “Finance for the People”: Este mundo é para essas pessoas. Sou prova disso. Eu estive do lado de dentro e ainda me sinto como se estivesse do lado de fora. O motivo foi porque não sentia que havia uma pessoa que pudesse me receber de braços abertos. Eu serei essa pessoa para todos que quiserem conhecer melhor esse mundo.
Se eu tivesse que resumir a uma frase, seria “não tema suas finanças e não tenha medo de falar sobre isso”. Existe essa ideia cultural de que falar sobre dinheiro não é adequado. Alguns ambientes de trabalho desaprovam a discussão de salário entre funcionários, o que acho muito desagradável – afinal, estamos no trabalho para isso: ganhar dinheiro! Então, você acaba ficando por lá sem falar sobre o motivo pelo qual está ali. Meu livro e meu trabalho falam sobre começar uma conversa mais ampla sobre dinheiro. Acredito que quando estivermos mais à vontade ao falar sobre dinheiro, as pessoas vão começar a encarar suas finanças.
AL: Como você acha que sua abordagem a finanças pessoais difere de outros livros sobre o mesmo assunto?
PdL: O livro tem entre 50 e 75 ilustrações originais que eu mesmo desenhei. O objetivo dessas ilustrações é alcançar pessoas que podem olhar um livro sobre finanças com muito texto e se sentirem intimidadas. Às vezes, observar uma imagem de um biscoito pode ajudar-lhe a entender algo que parecia complicado. Alguns conceitos, como “valor”, são abstratos; as ilustrações os tornam mais concretos.
Além disso, é uma zona livre de julgamentos para as pessoas que analisam seus orçamentos ou pensam em seus “erros” financeiros do passado. O julgamento é um forte pilar do setor de finanças pessoais – é o comportamento que vemos quando o conselho é “apenas pare de comprar aquele cafezinho na padaria”.
AL: Como devemos ver as “boas práticas” de finanças pessoais que são citadas há anos – não gaste mais de 30% de sua renda com aluguel ou parcela de financiamento de uma casa; saque 4% de seu fundo de pensão, entre outras? Elas ainda são válidas ou devemos apenas esquecê-las?
PdL: Elas são ótimos pontos de partida. Existem certas sabedorias populares no mundo das finanças pessoais que sempre serão verdadeiras. Por exemplo, deve-se sempre gastar menos do que ganha. No entanto, isso se torna um desafio, principalmente quando você está se formando na faculdade e entrando no mercado de trabalho. É quando as finanças pessoais realmente ficam pessoais. Acho ótimo entender a mentalidade e o raciocínio por trás das boas práticas. Então podemos manipular essas regras e fazer nossas próprias escolhas.
AL: Muito do nosso mundo financeiro parece depender do trabalho para um empregador, desde a obtenção de uma hipoteca até um seguro de saúde. O acesso não é tão fácil quando você é autônomo. À medida que mais e mais pessoas começam a trabalhar por conta própria, o que elas precisam saber?
PdL: Quando você trilha o caminho menos tradicional, você precisa realmente se comprometer e entender toda a mecânica por trás de suas finanças pessoais. Se você focar em alinhar suas finanças pessoais, isso ajuda na forma como você administra sua prática autônoma, como define seu preço, como está gerenciando seu faturamento, como está negociando com clientes. Tudo está sobreposto e interligado.
AL: Você fala muito em seu livro sobre como somos todos estranhos quando se trata de dinheiro e sobre o papel que as emoções desempenham na tomada de decisões financeiras. Por que é tão importante pensar e trabalhar essas associações e sentimentos subjacentes quando se trata de questões financeiras?
PdL: Ao longo dos anos, notei que as informações existem: todo mundo sabe que não deve gastar mais do que ganha e todo mundo sabe que deve economizar. Mas as pessoas não agem em seu melhor interesse. Eu vi isso acontecer com pessoas que ganhavam US$ 1 milhão por ano e com pessoas que ganhavam US$ 30 mil por ano.
Há muita coisa atrelada entre dinheiro e nossas origens. O dia todo estamos em um conflito interno e ouvimos um discurso pronto em nossa mente. Parece estranho e difícil de acreditar, mas esse discurso molda nossa forma de ver o mundo. É importante entender como essas narrativas moldaram nossa realidade atual. Se pensar bem, o passado é como uma mão invisível que transcende espaço e tempo e afeta nossas ações hoje. E é importante reconhecer que, como os seres humanos são criaturas emocionais, tomamos decisões com base nas emoções. E tentamos racionalizar essas decisões mais tarde.
Temos que entender qual é o gatilho e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para gerenciar essas emoções para que não estejamos apenas sendo reativos e ainda mais estranhos no que diz respeito a finanças.
AL: Você enfatiza a disparidade de renda que enfrentou em sua carreira, quando teve a revelação de que ganhava 13 centavos para cada dólar que seu chefe ganhava – e como os ganhos são um componente subestimado da equação financeira. Qual é o seu conselho para aqueles que acreditam (ou já sabem) que são mal pagos?
PdL: Os trabalhadores de hoje têm muitas vantagens, mais do que já vi na minha vida profissional até agora. E você deve usar isso a seu favor. Entenda que é difícil encontrar bons funcionários e que, se você for capaz de agregar valor à organização de alguém, terá o poder e a vantagem.
Uma falha fatal em minha vida profissional até agora foi que eu não aprendi a negociar. Eu via tudo de fora. Cometi muitos erros negociando contra mim mesmo desde o início. Não tenha pressa em aprender a negociar. É possível encontrar muitos recursos on-line.
AL: Quais são suas opiniões sobre o investimento em criptoativos? Você os considera promissores ou perigosos?
PdL: Eu os considero um ativo alternativo. Eu possuo alguns criptoativos. E meu raciocínio para investir em criptoativos é que não quero ser um estranho no ninho – ou seja, se os ativos subirem, não quero parecer a pessoa idiota que não comprou nada. Não sei qual será o futuro da tecnologia. Não sei por que gostaríamos de ficar tanto tempo no metaverso. No entanto, vou participar [da onda dos criptoativos] e gerenciar meu risco.
Eu digo que a coisa fascinante e empolgante sobre criptoativos é que eles destacam o fato de que o dinheiro é uma ilusão. É um sistema compartilhado de crenças sociais de que é algo valioso. E essa é a mesma razão pela qual qualquer moeda ou qualquer token é valioso: porque uma comunidade de pessoas acredita neles.
AL: Alguns jovens podem ter a preocupação de que, ao entrar no sistema financeiro atual e seguir suas regras, estejam perpetuando suas desigualdades. O que diria a eles?
PdL: Se quiser ser um objetor de consciência da economia moderna, vá em frente. Existem muitas opções para participar de comunidades ou até mesmo tentar sobreviver sem dinheiro algum.
O lucro no mercado acionário se baseia na exploração. É algo extrativo. Você só ganha dinheiro porque os trabalhadores criam o valor. Então o valor é extraído e dado ao acionista, e é assim que se constrói a riqueza. Então a forma de conciliar isso é parar para pensar. E você fica com esses sentimentos negativos e precisa encontrar uma maneira de existir no mundo.
Então, pense: como retribuir? O que você pode fazer para compensar o que está fazendo? O que eu falo no livro é que se quiser criar mudanças sociais, é possível criar organizações e comunidades nas quais o benefício é para a comunidade, não para o acionista.
O atual sistema recompensa a riqueza. E também exige dinheiro, que também é um meio de poder para criar essa mudança. Meu conselho para você é pegar o dinheiro e fazer a mudança. Você pode ampliar seus valores e criar o que deseja ver no mundo.
AL: Qual mudança na política você acredita que seria a mais útil para promover mais segurança financeira para autônomos?
PdL: Eu adoraria ver uma renda básica universal. Isso permitiria que as pessoas explorassem e descobrissem seus dons. Quando perdi meu emprego antes de me tornar autônomo, fiquei desempregado por mais ou menos 99 semanas. E era minha responsabilidade resolver esse problema, abrir meu negócio e entender meu propósito: falar com as pessoas sobre minhas filosofias e ensiná-las sobre dinheiro.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Alexis Leondis é colunista da Bloomberg Opinion que cobre finanças pessoais. Anteriormente, supervisionou a cobertura fiscal da Bloomberg News.
--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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