Bloomberg — Os Estados Unidos ordenaram que familiares de diplomatas em sua embaixada em Kiev retornassem ao país “devido à contínua ameaça de ação militar russa”, sinalizando mais uma reviravolta no impasse sobre a Ucrânia.
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Enquanto os EUA renovaram os alertas de que a Rússia poderia enviar forças para a Ucrânia a qualquer momento, o New York Times informou que o presidente Joe Biden está considerando o envio de mais tropas para a Europa Oriental e os países bálticos. A tensão aumenta depois que as conversas entre os dois países na semana passada não apontaram para um caminho conclusivo para encerrar o impasse.
“Há relatos de que a Rússia está planejando uma ação militar significativa contra a Ucrânia”, disse o Departamento de Estado em um comunicado no domingo (23). “As condições de segurança, particularmente ao longo das fronteiras da Ucrânia, na Crimeia ocupada pela Rússia e no leste da Ucrânia, também controlado pela Rússia, são imprevisíveis e podem se deteriorar a qualquer momento.”
As ações refletem a posição dos EUA de que o presidente russo, Vladimir Putin, pode iniciar uma invasão a qualquer momento, disseram autoridades do Departamento de Estado no domingo (23), falando com repórteres sob condição de anonimato. A decisão de domingo não muda ou prejudica o apoio dos EUA à Ucrânia, e a embaixada em Kiev continua funcionando, disseram eles.
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia chamou a medida de “prematura”, com o porta-voz, Oleh Nikolenko, dizendo que “não houve mudanças significativas na situação de segurança recentemente”.
Tomamos nota da decisão do @StateDept sobre a saída de familiares da equipe do @USEmbassyKyiv. Embora respeitemos o direito de nações estrangeiras de garantir a segurança de suas missões diplomáticas, acreditamos que tal passo seja prematuro e um exemplo de cautela excessiva.
— Oleg Nikolenko (@OlegNikolenko_) 24 de janeiro de 2022
A Rússia, que negou repetidamente que planeja invadir a Ucrânia, disse que a ação dos EUA era estranha, informou a Interfax.
O Reino Unido retirou alguns de seus funcionários e familiares de sua embaixada em Kiev “em resposta à crescente ameaça da Rússia”, de acordo com um tweet do Ministério das Relações Exteriores. Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeia, contou a repórteres, na segunda-feira (24), que o bloco não tem planos de pedir que as famílias dos diplomatas na Ucrânia se retirem.
Biden está contemplando o envio de mais tropas para a Europa Oriental e países bálticos, e considerando o envio de navios de guerra e aeronaves para aliados da OTAN, como informou o New York Times. Isso pode envolver o envio de 1.000 a 5.000 soldados para a Europa Oriental, um número que pode ser aumentado em até dez vezes, se necessário, de acordo com o relatório.
As autoridades norte-americanas minimizaram as questões sobre o que motivou a ordem de partida e as perguntas sobre o risco de uma invasão da vizinha Bielorrússia, para onde a Rússia está enviando tropas e blindados a poucos quilômetros da fronteira ucraniana para exercícios militares conjuntos, que começam em 10 de fevereiro.
Os EUA têm observado os exercícios da Bielorrússia e continuam defendendo a ideia de que a situação geral pode mudar e se deteriorar rapidamente, disseram as autoridades. Os EUA não sabem se Putin já se decidiu sobre uma invasão, disseram eles.
A OTAN tem aproximadamente 4.000 soldados nos países bálticos liderados pelo Reino Unido, Canadá e Alemanha e um número não identificado de soldados das forças especiais dos EUA na Estônia. A Polônia tem cerca de 4.500 soldados dos EUA em regime de rodízio.
A OTAN anunciou a disponibilização de navios e aeronaves para membros, incluindo Lituânia e Bulgária.
Os aliados estão enviando mais navios e jatos para aprimorar as implantações defensivas da #OTAN na Europa Oriental. Um forte sinal de solidariedade aliada.
As ofertas incluem:
- Jatos F-16 para a Lituânia
- tropas para a Romênia
- Jatos F-35 para a Bulgária
- fragata indo para o Mar Negro
— Oana Lungescu (@NATOpress) 24 de janeiro de 2022
O comunicado também encorajou os cidadãos americanos na Ucrânia a considerarem deixar o país, agora se valendo de opções de viagens comerciais ou privadas. Os cidadãos americanos, particularmente aqueles que planejam permanecer na Ucrânia, foram solicitados a se registrar no Departamento de Estado.
Questionado no domingo (23) sobre uma possível retirada das famílias dos diplomatas, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que o governo Biden estava “rastreando intensamente, hora a hora e certamente dia a dia” se Kiev ainda estava segura.
Sanções contra a Rússia
Blinken rejeitou a pressão para acionar imediatamente as sanções contra a Rússia por seu acúmulo militar, dizendo que isso poderia limitar as opções do Ocidente no futuro.
Ele afirmou que os EUA se concentraram com seus aliados europeus em reforçar a ameaça de “consequências maciças” para a Rússia para dissuadir Putin de enviar forças para a Ucrânia e deixar a porta aberta para a diplomacia.
“O objetivo dessas sanções é impedir a agressão russa e, se forem acionadas agora, perde-se o efeito de dissuasão”, disse ele no “Estado da União” da CNN.
Ele disse que os EUA estão acompanhando um alerta do Reino Unido de que a Rússia está planejando instalar um governo pró-Kremlin na Ucrânia.
“Estamos preocupados e alertando sobre exatamente esse tipo de tática há semanas”, disse ele no programa “Meet the Press”, da NBC.
As autoridades dos EUA se recusaram a fornecer uma estimativa de quantos americanos estão na Ucrânia ou quantos familiares são afetados pela ordem de saída.
– Com a colaboração de Ian Fisher e Susanne Barton.
– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.
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