Bloomberg Línea — Com apenas nove meses de vida, a Inventa é a segunda startup brasileira investida pela renomada empresa americana de capital de risco Andreessen Horowitz (a16z). Depois da unicórnio Loft, a a16z agora se junta ao esforço regional da brasileira Monashees com US$ 20 milhões investidos na novata. A rodada inclui outros nomes como Founders Fund, Greenoaks, Greylock, Tiger Global e os anjos Hans Tung e Carlos Garcia, CEO da Kavak. Investidores existentes como Pear VC, NXTP, ONEVC, MAYA Capital e Alter Global também participaram do aporte.
A startup pode ser nova, mas o fundador da Inventa, o espanhol Marcos Salama, já é um nome conhecido desses fundos.
Engenheiro mecânico de formação, Salama trabalhou para empresas de engenharia e arquitetura antes de se mudar para os Estados Unidos para um MBA em Stanford. Ele ainda passou pela consultoria McKinsey antes de ajudar a construir a história da gigante colombiana do delivery, a Rappi.
Salama foi diretor global de supermercados na Rappi por quatro anos. Depois da Colômbia, ele foi responsável por abrir a operação da empresa no Brasil, Chile, Argentina e Uruguai. “Tivemos um crescimento espetacular. Gostei muito da experiência na Rappi e vi que há muitas soluções para o cliente final. Mas existem muito menos soluções para o pequeno varejo que trabalha com e-commerce”, disse Salama, CEO da Inventa.
Ele conta que, quando percebeu essa dificuldade do varejista de comprar online em plataformas como a Amazon, Rappi e Mercado Livre, foi explorar modelos de B2B marketplaces exitosos na Índia e Europa. Isso validou sua ideia de empreender - junto de Fernando Carrasco, especialista em ciência de dados, e Laura Camargo, ex-investidora da General Atlantic - apostando neste modelo.
Para dar certo, o novo negócio teria que ser baseado em dados, segundo o CEO. Porque, de forma geral, o varejo compra dos fornecedores segundo a experiência do dono da empresa, e não com uma informação baseada em dados. Outro problema é que o pequeno varejista depende do crédito dos prazos de pagamento ao fornecedor.
A Inventa promete dar crédito para o varejo ao mesmo tempo que faz a gestão de quanto o pequeno empreendedor gasta com produtos de fornecedores e usa tecnologia para recomendar produtos melhores.
Recebíveis de cartão
Em junho do ano passado, o Banco Central alterou as regras para a operacionalização do registro e para a negociação de recebíveis de cartão. Isso possibilita aos varejistas utilizar os recebíveis de cartão em aberto como forma de pagamento, sem precisar pagar taxas de antecipação. A Inventa oferece esta opção de pagamento no site por meio de uma empresa parceira.
Hoje, a Inventa tem um modelo em que o pequeno lojista entra na plataforma com crédito pré-aprovado de R$ 1.000 para comprar de fornecedores. Em um cenário de juros subindo para conter a inflação, isso ajuda o lojista a pagar a compra de fornecedores em até três vezes, por boleto, dentro da plataforma da Inventa.
A ideia, segundo Salama, é que o lojista comece a pagar com o dinheiro da venda dos produtos, o que faz diferença no fluxo de caixa.
“Nossa missão é solucionar a vida dos pequenos empresários, que têm sofrido com os juros altos, e pequenos fornecedores. Parte dessa solução é o software de gestão para o estoque, que é grátis”, explica o fundador.
A plataforma é gratuita para a empresa que já trabalha com varejo e tem clientes. Porém, para cada novo cliente que a empresa adquire usando a plataforma, a Inventa cobra 15% de comissão.
A empresa não faz recomendações de produtos de commodity. O foco da startup é o segmento de cosméticos e comunidades saudáveis. “Se eu recomendo para o varejista que ele teria que comprar uma Coca-Cola, ele iria dizer que já sabia. Mas se falo que ele tem que comprar um produto específico orgânico, vegano, que ele nem conhecia, ele vai comprar. E eu tenho isso baseado em dados. É uma recomendação muito mais poderosa. Quando você pensa em B2B marketplaces para produtos de commodity, você pensa muito mais em eficiência. Já quando você fala em um marketplace com produtos a longo prazo, você pensa muito mais em dados, recomendação e uma plataforma tecnológica”.
A terceira geração de fundadores na América Latina
A startup já tem cerca de 20 mil lojistas na plataforma e 400 fornecedores, com crescimento de 100% mês contra mês desde o lançamento da operação, em meados de junho de 2021.
A nova rodada, que veio apenas três meses depois da última captação Seed, aconteceu porque “o mercado é muito grande, com potencial gigantesco”, segundo Salama.
As rodadas garantem o capital para quem cresce rapidamente, mas, por outro lado, diluem a participação dos sócios na empresa. Salama não divulgou como ficou a composição do conselho da Inventa após o aporte. “Esses fundos têm muita experiência na construção de empresas parecidas, então, não trazemos apenas capital, mas também conhecimento específico”, disse.
“Nossa execução tem que ser muito boa. Com esta rodada nós vamos acelerar o nosso crescimento. Queremos multiplicar por dez a companhia ano que vem e vamos utilizar este capital para tecnologia, para contratar os melhores talentos do mundo e fortalecer o time de vendas”.
Hoje, a equipe da Inventa no Brasil tem 100 funcionários. Salama pretende chegar a 500 até o final de 2022, montando um time de tecnologia consolidado no Brasil para, em 2023, dar os primeiros passos para o México e a Colômbia.
“A América Latina tem um potencial gigantesco e tem problemas muito profundos para solucionar. Se a primeira geração de fundadores foi a do Mercado Livre, na segunda geração tivemos Rappi e Nubank. Agora estamos tendo essa terceira geração de pessoas que têm talento. Eu fiquei quatro anos na Rappi aprendendo, crescendo desde a Série A, então eu acho que o talento dos fundadores experientes da América Latina está preparado para receber esses investimentos”.
Este artigo foi atualizado para explicar melhor como funcionam as regras de recebíveis e para dizer que a Inventa já oferece essa opção de pagamento por meio de parceiros.