São Paulo — Paraísos do litoral nordestino lideraram as vendas de pacotes domésticos fechadas em 2021 no Hurb, site de viagens mais acessado pelos brasileiros, segundo o ranking publicado no “Relatório Setores E-commerce no Brasil, dezembro/2021″, da Conversion.
Maragogi, Maceió e Porto de Galinhas foram, na ordem, os destinos com melhor performance de vendas no ano passado. No turismo internacional, Punta Cana, Cancún e Orlando formaram o top 3. Neste ano, a procura por estadias nesses locais tende a continuar forte, apesar da cautela com as novas variantes da covid, como a ômicron, que tem sintomas mais leves.
“Não vemos arrefecimento do setor com a ômicron. A gente não espera que as fronteiras voltem a ser fechadas. Não temos visto uma redução estrutural de demanda”, diz Pedro Thompson, co-CEO da plataforma de viagens online, em entrevista à Bloomberg Línea.
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A plataforma promoveu um rebranding há cerca de três anos, seguindo uma tendência das empresas de tecnologia encurtando seu antigo nome (Hotel Urbano). Com a ajuda da consultoria financeira e gestora de ativos Lazard, o Hurb pretende encontrar, sem pressa, um sócio para seus planos de expansão e estuda realizar aquisições na área de tecnologia, aproveitando o movimento de retomada do setor de viagens. Com sede no Rio de Janeiro, a empresa tem escritórios de recrutamento de talentos em Sorocaba, no interior de São Paulo, e em Portugal, na cidade do Porto, e no médio prazo na Universidade McGill, em Montreal, no Canadá.
Quanto ao ranking dos destinos mais procurados, Thompson considera que Maragogi, no litoral de Alagoas, Maceió, capital alagoana e Porto de Galinhas, em Pernambuco, são lugares fantásticos e maravilhosos, mas a presença nas primeiras posições do ranking se deve também às estratégias de divulgação e fomento dessas praias e às parcerias com a malha hoteleira local, o que possibilita oferecer pacotes mais econômicos.
“Com a nossa capilaridade com a rede de hotéis e com a divulgação de conteúdo via ferramentas de Google, a gente tem a capacidade de promover, fomentar e tornar alguns lugares populares. Nossa malha hoteleira nessas três cidades é muito grande. São pontos que a gente divulga muito, dada à toda nossa expertise de operação local, ao nosso conhecimento e capilaridade com a malha local”, explica o co-CEO do Hurb.
EUA
A reabertura das fronteiras aéreas, no quarto trimestre do ano passado, permitiu a reativação das rotas aéreas para os EUA. Thompson indica a presença de Orlando no ranking de pacotes internacionais mais comercializados no ano passado. A cidade norte-americana da Flórida, popular devido aos parques temáticos da Disney, voltou a ser invadida pelas famílias brasileiras com a volta dos voos entre os dois países, a partir de novembro.
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Já Punta Cana, lar de resorts de luxo na República Dominicana, entrou também na moda e tinha virado uma parada de alguns voos brasileiros com destino aos EUA. Cancún também bombou durante a pandemia, na onda do “turismo da vacina”, quando o México virou um trampolim de quarentena antes de se ingressar nos EUA.
Para Thompson, a taxa de câmbio é hoje o principal desestímulo às viagens dos brasileiros ao exterior. “Está caro efetivamente ir para fora”, reconhece. No fim de 2021, o viajante pagava mais de R$ 6 por uma cédula de dólar. Antes do início da pandemia, no fim de 2019, o papel-moeda não chegava a R$ 5. Em janeiro, ensaia-se um movimento de retorno da cotação comercial a um patamar ao redor de R$ 5,50.
Expansão
Os planos de expansão da Hurb incluem ampliar seu acesso à atual rede de 11 mil hotéis e avançar no modelo de “travel as a service”, que é a oferta de pacotes (aéreo e terrestre) com períodos elásticos de seis meses a dois anos para uso, uma tendência potencializada pela pandemia diante das diversas ondas da covid e consequentes receios com viagens nos períodos de pico de casos. Já a mais recente aposta da companhia é o segmento de atividades, como passeios de ecoturismo por parques e trilhas, atrações extras que permitem atrair outros perfis de viajantes e aproveitar sinergias com os pacotes tradicionais.
“Outra vertical que é muito estratégica para nós é oferecer produtos que ajudem a gestão hoteleira”, diz o co-CEO do Hurb, citando uma aquisição de uma empresa especializada na gestão de utilities e facilities para otimização de custos e sustentabilidade, resultando, por exemplo, em economia de energia e água pelos hotéis.
Thompson considera restrito enxergar o Hurb apenas como uma agência online de venda de pacotes turísticos, já que como empresa de tecnologia com foco nas experiências de viagens, uma OTA (online travel agency), atua em outras frentes, no B2B e B2C, como o fomento da hotelaria, ainda em rota de recuperação das perdas acumuladas durante os picos da pandemia. Ele também destaca o poder impulsionador de vendas do chamado Clube Hurb, um dos três principais canais de vendas da empresa.
“A gente sempre pensa muito fora da caixa. Hoje um dos nossos maiores canais de distribuição é o Clube Hurb. É um programa de afiliados, que são pessoas físicas, influenciadores, que produzem conteúdo de turismo e direcionam nossos produtos recebendo uma bonificação caso a transação seja convertida”, afirma o co-CEO da plataforma online de viagens.
Sócio
Em 2021, o Hurb contabilizou um GMV (vendas brutas) de R$ 1,8 bilhão, segundo Thompson, sendo cerca de R$ 1,3 bilhão com a comercialização de pacotes turísticos e cerca de R$ 500 milhões com a intermediação de diárias de hotelaria. “Para 2022, esperamos um crescimento de 30%”, projeta Thompson.
A plataforma não comercializa passagens aéreas sem hospedagem. O mercado doméstico responde por entre 80% e 90% das vendas totais, dependendo do ritmo de retomada das viagens internacionais, cuja demanda a Hurb vê ainda como crescente. Por enquanto, a ômicron apenas provoca aumento do indicador de sinistralidade, segundo o executivo, como o surgimento de casos de passageiros que se infectam no exterior e são obrigados a cumprir quarentena, tendo de remarcar a data de retorno ao Brasil, por exemplo.
Um dos principais temas da agenda da plataforma para 2022 é a possível entrada de um novo sócio, cujo perfil deve ser um investidor com foco em empresas de tecnologia, de crescimento acelerado (growth). Segundo o co-CEO, já há conversas em andamento, mas o processo de escolha está sendo feita sem pressa. Para assessorá-lo, o Hurb trabalha com a consultoria financeira e gestora de recursos Lazard. Hoje o capital da companhia está nas mãos dos irmãos fundadores João Ricardo, outro co-CEO, e José Eduardo Mendes, além de um grupo de executivos.
Mercado
O Hurb apareceu em primeiro lugar na categoria sites de agências de viagem e turismo mais visitados no país no “Relatório Setores E-commerce no Brasil, dezembro/2021″, da Conversion, que calculou o “traffic share” da plataforma em 20%. Na segunda posição está o Booking (15,6%), seguido por 123Milhas (11,9%), Clickbus (7,4%), Airbnb (7,2%), Gol (7,2%), Decolar (6,6%), Latam (5,7%) , Azul (5,2%), Localiza (2%), CVC (2%), Maxmilhas (1,9%), Viajanet (1,8%), Unidas (1,6%) e Movida (0,8%).
No segundo semestre do ano passado, o setor de viagens se beneficiou do fim das restrições à mobilidade nas principais cidades do país após uma explosão de infecções de covid no primeiro trimestre do ano. A cidade de São Paulo, por exemplo, registra melhora mensal da atividade turística desde maio do ano passado, segundo um indicador da Fecomércio-SP, federação de lojistas.
Apesar do consenso de que a alta temporada de viagens de verão está melhorando a cada ano, desde o início da pandemia, ainda há um rastro de prejuízos nos diversos segmentos dessa indústria. Desde o início da crise sanitária, as atividades ligadas ao turismo já acumulam perda de R$ 463,8 bilhões no Brasil, com os estados de São Paulo (R$ 199,9 bilhões) e o Rio de Janeiro (R$ 57,1 bilhões) concentrando mais da metade (55,4%) desse valor, segundo levantamento da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços de Turismo), divulgado no último dia 13.