Hamsters, frango e camarões são alvo da política Covid Zero da China

Especialistas alertam que os supostos meios de transmissão visados pelas inpeções são improváveis e não comprovados

Mercado japonés
Por Bloomberg News
23 de Janeiro, 2022 | 02:39 PM

Bloomberg — À medida que o objetivo de erradicar a infecção por coronavírus se torna mais difícil de alcançar, com mais variantes transmissíveis e um mundo inundado pelo patógeno, a China continental e Hong Kong apontam uma ampla gama de rotas não humanas como potenciais furos de suas rigorosas medidas de controle.

As inspeções, que variam de pacotes a peixes e animais de estimação de quatro patas, ocorrem apesar de especialistas de fora da China alertarem que tais métodos de transmissão não são comprovados e improváveis.

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“Parece ser um tanto simplista culpar fontes estrangeiras pela origem do surto, em vez de atribuí-lo à possibilidade do vírus estar conseguindo escapar dos protocolos estabelecidos para detectar infecções”, Nicholas Thomas, professor adjunto de segurança da saúde da Universidade da Cidade de Hong Kong. “A realidade é que o vírus da covid – especialmente as variantes delta e ômicron – estão agora presentes em todos os países nas fronteiras da China. Seja por meio de casos importados que chegam a aeroportos ou portos marítimos, ou simplesmente por pessoas que cruzam as fronteiras da China, o vírus entrará na China”.

Aqui está uma lista do que tem sido visado pela estratégia Covid Zero:

Correio do exterior

O correio internacional ficou sob os holofotes depois que a primeira infecção por ômicron em Pequim foi encontrada em uma mulher que recebeu uma correspondência do Canadá. A carta, que passou pelos Estados Unidos e por Hong Kong, deu positivo para uma cepa semelhante encontrada anteriormente na América do Norte e em Singapura, segundo autoridades de saúde.

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A paciente espalhou o vírus para dois contatos próximos e as preocupações com um surto na capital poucas semanas antes dos Jogos Olímpicos de Inverno provocaram um alerta de uma autoridade local, orientando os moradores a minimizar as compras internacionais e desinfetar pacotes.

Um prédio de escritórios perto do Aeroporto Internacional da capital Pequim foi fechado na terça-feira (18) depois que o governo disse que haviam chegado correspondências contaminadas do exterior. Mais de 1.000 pessoas não puderam sair até que seus testes de covid e amostras do ambiente dessem negativo.

Uma residente em Shenzhen disse que seu código de saúde, que rastreia o status da infecção, ficou amarelo depois de receber um pacote do exterior, informou o jornal local The Paper. Ela disse que uma agência do governo alertou que interações recentes com correio internacional podem afetar o status de uma pessoa.

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Abate de Hamster

Em Hong Kong, hamsters estão sendo investigados como uma possível fonte de um caso surpresa de variante delta em um funcionário de uma loja de animais e potencialmente um exemplo raro de transmissão de animal para humano. Quase uma dúzia de roedores importados da Holanda foram infectados com a cepa virulenta e amostras do armazém da loja em outra parte da cidade também mostraram vestígios do vírus.

O governo ordenou a quarentena de mais de 100 clientes e abaterá cerca de 2.000 pequenos animais, incluindo hamsters, chinchilas e coelhos. As autoridades também suspenderam as importações dessas criaturas, ordenaram que as lojas que vendem hamsters fechassem imediatamente e pediram a qualquer pessoa que tenha comprado hamsters recentemente os entregue para serem destruídos.

Pitayas e cerejas

No início deste mês, três cidades da província de Zhejiang, no leste da China, pediram a qualquer pessoa que tenha comprado pitayas vietnamitas em certas lojas que se reportasse aos governos locais e fizesse testes de covid-19 depois que as embalagens de frutas importadas em dezembro deram positivo para o vírus.

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Províncias como Shandong e Jiangsu adotaram medidas semelhantes depois de encontrar o vírus em várias pequenas lojas de frutas locais, obrigando estabelecimentos a fecharem as as portas e colocando algumas pessoas em quarentena. Alguns governos locais suspenderam posteriormente o processamento e entrega de frutas importadas e produtos que precisam de refrigeração.

As cerejas importadas do Chile também foram alvo de escrutínio depois que um pequeno condado em Henan detectou o vírus na fruta. Ninguém foi encontrado infectado, enquanto as autoridades locais desencorajaram compras desnecessárias de produtos importados e pediram que as embalagens fossem completamente desinfetadas antes de serem levadas para as casas.

Asas de frango

As autoridades do centro de tecnologia de Shenzhen, no sul da China, alertaram os consumidores em agosto de 2020 para terem cautela ao comprar alimentos congelados importados depois que as asas de frango brasileiras deram positivo para coronavírus. A amostra parecia ter sido retirada da superfície da carne, e não da embalagem externa.

As autoridades locais testaram produtos relacionados e pessoas que podem ter entrado em contato com a carne, e todos os resultados deram negativos. Os moradores foram orientados a serem cautelosos ao comprar carne congelada e frutos do mar para reduzir o risco de infecção.

Camarão do Equador

Várias amostras retiradas das embalagens de camarão importado deram positivo em julho de 2020, levando a China a questionar se o vírus poderia ser transmitido por meio de produtos congelados.

Algumas cadeias de supermercado suspenderam a venda de camarão equatoriano em meio a suspeitas do consumidor sobre a cadeia de suprimentos, e o incidente levou o preço do crustáceo à maior baixa dos últimos cinco anos em Guangdong.

Em agosto de 2020, as embalagens de camarão congelado trazidas do Equador deram positivo em Anhui, onde testes regulares visavam cadeias de alimentos frios e trabalhadores. O fornecedor atacadista e os trabalhadores do restaurante onde os frutos do mar contaminados foram encontrados, juntamente com suas famílias, testaram negativo para coronavírus.

Salmão da Noruega

O peixe escandinavo foi um dos primeiros itens que a China culpou pela transmissão do vírus. O salmão norueguês foi inicialmente ligado a um surto em Pequim em junho de 2020, depois que um conjunto de mais de 300 infecções foi rastreado até uma tábua de cortar usada por um vendedor do peixe.

Mais tarde naquele mês, a China concordou com especialistas globais que era improvável que o comércio de alimentos fosse responsável pelos casos e a administração alfandegária do país disse que não imporia nenhuma restrição às importações.

Roupas infantis

Depois que três trabalhadores de uma fábrica de roupas infantis em Hebei foram infectados com o vírus, as autoridades a mais de 1.900 quilômetros de distância ordenaram que as pessoas que haviam recebido – ou mesmo apenas manipulado – pacotes da empresa fossem testadas.

Cerca de 300 embalagens foram testadas em Hebei em novembro, com todos os testes dando negativo.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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