Bloomberg Opinion — Graças à série “Drive to Survive”, da Netflix (NFLX), as corridas de Fórmula 1 estão em alta.
A série documental da Netflix expandiu a base de fãs da Fórmula 1 com cenas dos bastidores, lutas por poder e personalidades atraentes que ajudaram os espectadores a pensar no esporte como mais que apenas um espetáculo de corrida para aficionados por carros.
Infelizmente para os investidores da Netflix, a rival Walt Disney (DIS) está colhendo grande parte dos frutos do crescente interesse por ser dona da rede esportiva ESPN, que detém a licença da Fórmula 1 nos Estados Unidos. A audiência média dos eventos de Fórmula 1 na ESPN aumentou 56% no ano passado, de acordo com a rede de esportes (a ABC, outra emissora da Disney, também mostra exibe algumas corridas).
Enquanto concorrentes da Amazon.com, Apple (AAPL) e Disney buscaram maneiras de capitalizar o streaming de esportes ao vivo, a Netflix até agora nadou contra a corrente, julgando que seus dólares são mais bem gastos na exibição de conteúdo relacionado ao esporte, como “Arremesso Final”, documentário sobre Michael Jordan, ou a recém-anunciada série documental do campeonato de golfe PGA Tour.
No entanto, embora concorrer pelos direitos de licenciamento de grandes ligas esportivas como a NFL ou a NBA possa não fazer sentido no momento, um acordo com a Fórmula 1 permitiria à Netflix mergulhar nos esportes ao vivo de uma maneira complementar à sua série de grande sucesso.
Por enquanto, a Netflix diz não estar interessada em licenças de eventos esportivos. Em uma ligação com analistas em julho, o co-CEO Ted Sarandos disse que não estava claro como a Netflix, que divulgou os resultados do quarto trimestre nesta quinta-feira (20), poderia agregar valor.
“Nosso produto fundamental é sob demanda e sem publicidade, e os eventos esportivos tendem a ser exibidos ao vivo e serem repletos de propagandas”, disse.
Outro problema para a Netflix é que o licenciamento esportivo é incrivelmente caro e altamente fragmentado por região.
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No entanto, a Netflix não descartou a compra dos direitos da Fórmula 1. Reed Hastings, cofundador e co-CEO, surpreendeu quem estava acostumado com sua habitual rejeição de esportes ao vivo quando disse à revista alemã Der Spiegel no ano passado que, se a Fórmula 1 fosse colocada à venda, a Netflix consideraria comprá-la.
Kannan Venkateshwar, que acompanha a Netflix para o Barclays (B1CS34), observou em novembro que, embora muitos esportes tradicionais tendam a ser vinculados a uma região (como a final do campeonato asiático de futebol), esportes de nicho como UFC, WWE ou Fórmula 1 podem cruzar fronteiras mais facilmente em uma plataforma global de streaming como a Netflix.
Venkateshwar recomendou que a Netflix fizesse uma oferta pelos direitos de transmissão da Fórmula 1 nos EUA em 2022 e na Europa em 2023/2024. Enquanto isso, a ESPN disse que pretende renovar sua parceria com a Fórmula 1.
À medida que procura evoluir para um centro de entretenimento mais amplo, a Netflix recentemente rompeu com sua abordagem rigorosa ao conteúdo, entrando no ramo de videogames. Acrescentar esportes de nicho pode ser uma forma de aumentar a adesão de fãs de esportes, dando à Netflix, que elevou o preço de seus pacotes de assinatura mensal em US$ 1 a US$ 2 nos EUA na semana passada, mais espaço para aumentar os preços no futuro. Embora haja muitos obstáculos, os esportes podem ajudar a Netflix a “defender seu território contra o Amazon Prime, que já está entrando no esporte em grande estilo com a NFL”, disse Geetha Ranganathan, analista da Bloomberg Intelligence, por e-mail.
Todas as plataformas de streaming correm o risco de perder assinantes depois que os espectadores assistirem a seus programas favoritos. Adicionar a Fórmula 1 à plataforma daria aos fãs de “Drive to Survive” mais um motivo para manter sua assinatura da Netflix.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
David Wainer é colunista da Bloomberg Opinion que cobre negócios de entretenimento e telecomunicações. Ele já cobriu mercados, saúde, economia e assuntos internacionais para a Bloomberg News.
--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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