Juro real sobe com proximidade do fim do dinheiro fácil nos EUA

Salto vem após Fed sinalizar início do ciclo de elevação dos juros em março e redução gradual do balanço patrimonial de UUS$ 8,8 trilhões neste ano

Wall Street
Por Michael MacKenzie e Liz McCormick
20 de Janeiro, 2022 | 11:59 AM

Bloomberg — Os rendimentos dos títulos atrelados à inflação emitidos pelo Tesouro dos Estados Unidos estão se recuperando após atingirem os menores níveis em registro, causando perdas aos investidores e abalando os mercados financeiros, que se preparam para o fim de uma era de política monetária extremamente flexível.

O salto nos chamados rendimentos reais ao longo deste mês vem na esteira da sinalização do banco central americano, o Federal Reserve, de um provável início do ciclo de elevação na taxa básica de juros em março e da redução gradual de um balanço patrimonial de US$ 8,8 trilhões neste ano por meio da não rolagem de títulos vencidos.

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Com esse golpe duplo, talvez as perdas nos mercados de ações e títulos estejam apenas começando. Os investidores deixarão de contar com os juros reais negativos que embalaram os preços de inúmeros ativos — dos bônus de alto risco aos imóveis residenciais.

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“A importância dos rendimentos reais é muito maior do que no passado”, disse Dan Ivascyn, diretor de investimentos da Pacific Investment Management Co. (Pimco). “Os múltiplos dos ativos estão altos de modo geral por causa do regime de rendimentos reais baixos.”

O rendimento real dos títulos do Tesouro com prazo de 10 anos subiu mais de 0,50 ponto percentual desde o final de dezembro para -0,59% na quarta-feira (19). A taxa dos papéis de cinco anos avançou na mesma medida para -1,15%.

A persistência de rendimentos reais abaixo de zero reflete a política monetária ainda enormemente expansiva do banco central americano. Para muitos, isso sinaliza pessimismo sobre as perspectivas econômicas.

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A disparada dos rendimentos já abalou mercados. O S&P 500 caiu mais de 5% em relação ao recorde alcançado no início do ano, enquanto o Nasdaq Composite Index — concentrado em ações de perfil de crescimento que são particularmente sensíveis à alta de juros — recuou quase 11% em relação à máxima atingida em novembro. Um índice amplo de títulos do Tesouro acumula perda de 2,3% em janeiro. Junk bonds corporativos tiveram queda de 1,2% e caminham para registrar seu pior mês desde março de 2020, quando os mercados estavam paralisados.

Ainda não se sabe se a mudança iminente do Fed dará início a um período de maiores rendimentos reais. Muito dependerá da agressividade necessária para conter a maior inflação em décadas. Mesmo após o aumento deste mês, esses rendimentos ainda estão distantes do patamar próximo de zero visto no início de 2020.

“Para que o Fed aperte as condições financeiras, os rendimentos precisam subir” a partir de “níveis de extrema acomodação”, disse Bob Miller, responsável pela área de renda fixa multissetorial da BlackRock. O ritmo do aumento no curto prazo depende de como o Fed pretende reduzir o balanço patrimonial e isso pode não ficar claro por algum tempo, segundo ele.

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