Bloomberg Línea Ideias — O ano de 2022, que começa em meio a uma série de desafios locais e internacionais, também enfrentará uma forte alta nos preços de energia, que alimenta a inflação e ameaça as perspectivas de crescimento do mundo, inclusive no Brasil.
Na verdade o que estamos vivendo é um choque de oferta de energia, que se soma a um choque de oferta do setor agrícola como um todo, com impacto nos índices de inflação e que pressiona os bancos centrais a agir para controlar a situação.
Nos EUA, os preços do gás subiram mais de 30% apenas nos últimos 12 meses, marcando o pior início de ano em quase 30 anos.
Não somente nos EUA, mas em vários outros países, com o aumento significativo da população vacinada, seguido da reabertura econômica, houve um rápido aumento no consumo das famílias, impulsionado pelo e-commerce e também pelos programas de ajuda dos governos.
Até pouco antes da ômicron se espalhar pelo mundo, o consumo em vários países tinha acelerado tanto que já se encontrava superior ao do período pré-covid. Se houver um arrefecimento da pandemia, o consumo pode reagir rapidamente, retomar a trajetória anterior, e pressionar ainda mais os preços de energia.
No mundo, a disputa por energia segue acirrada. O presidente russo Vladimir Putin prometeu aumentar as remessas de gás à Europa e o governo chinês ordenou um aumento da produção de carvão apesar dos esforços para renovar a matriz energética. A Europa é uma grande importadora de energia - a zona do euro importa aproximadamente 60% da energia utilizada e os EUA apenas 7%, segundo dados do Banco Mundial.
Matriz velha x matriz nova
Nos últimos anos tivemos um menor investimento em fontes de energia fóssil, a chamada “matriz velha” e um aumento nos investimentos na “matriz verde”, de energias renováveis. Esta transição energética da “velha economia” para a “nova economia” será mais lenta que a previsão do mercado pois o período de investimento é longo e estamos vivenciando no curto prazo um aumento na demanda de energia no mundo.
Quando analisamos os países emergentes, o Brasil lidera os investimentos em energias renováveis. De 2008 a 2019, investimos aproximadamente US$ 25 bilhões em energias renováveis. Depois, vem a Índia, com US$ 21 bilhões; México, com US$ 15 bilhões; e Chile, com US$ 14 bilhões, segundo dados da Bloomberg NEF.
O problema é que o aumento do preço da energia tem um forte impacto na inflação. O IPCA subiu 10,06% no ano passado, sendo que apenas a gasolina contribuiu com mais de 23% do índice; a eletricidade 9,7% e o gás de botijão, 4,1%.
Esse movimento inflacionário está ocorrendo em diversos países. O impacto da energia na inflação nos remete a um aperto antecipado na política monetária dos países desenvolvidos e também no Brasil, como já está ocorrendo.
Não acredito que o aperto monetário - ou seja, a alta da taxa Selic - trará impacto objetivo na inflação nos próximos meses, mas sim poderá frear o crescimento econômico no país, que já vem sendo revisado para baixo nas últimas semanas: de 0,28% para 2022, segundo o Boletim Focus.
Para tornar o cenário mais desafiador, o petróleo está numa espiral de alta e pode continuar subindo ao longo de 2022. O Bank of America (BofA) estima o preço do petróleo em US$ 100 no curto prazo e já tiveram negócios com opções do Brent com vencimento em dezembro de 2022 com strike de US$ 200.
O aumento dos preços dos combustíveis nos mercados internacionais também impacta o Brasil. Ainda somos muito dependentes de energia não renovável, como petróleo, gás natural e carvão.
Neste ano, a Petrobras já fez um reajuste nos preços dos combustíveis no mercado interno. Em um ano, a gasolina subiu 77% e o diesel, 79%.
O Brasil enfrenta também o aumento das tarifas de energia elétrica por conta da crise hídrica, por sermos muito dependentes da geração de energia hidrelétrica.
Apesar de um ano desafiador esperamos que a política monetária atinja o objetivo de reduzir a inflação para que o Brasil volte a crescer acima de 2%.
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