Petróleo a US$ 100 o barril é questão de tempo para mercado

Disparada da demanda, menor receio em relação à ômicron e dificuldades da aliança Opep+ em aumentar produção ditam alta

Yacimientos de petróleo en Rusia
Por Andrew Janes e Serene Cheong
19 de Janeiro, 2022 | 10:52 AM

Bloomberg — A disparada da demanda, o menor receio em relação à variante ômicron e a incapacidade da aliança Opep+ de aumentar a produção estão por trás de um surpreendente salto na cotação do petróleo.

O barril do tipo Brent, referência global, avançou 25% desde o final de novembro para US$ 88. Para muitos especialistas, a questão é quando — não se — o preço baterá nos três dígitos pela primeira vez desde 2014.

O Goldman Sachs informou esta semana que o barril deve atingir US$ 100 no terceiro trimestre devido ao consumo acima do esperado.

Esse patamar de preço intensificaria a já considerável pressão inflacionária na economia global e os problemas enfrentados por bancos centrais e governos.

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Os principais fatores para movimentação do barril são discutidos a seguir:

Avanço da demanda

O preço do petróleo se recuperou da descoberta da variante ômicron no final de novembro, que fez lembrar a delta e derrubou o Brent para menos de US$ 70.

A procura vem crescendo e cargas no mercado à vista são arrematadas com prêmios nitidamente mais elevados. Falta óleo diesel no mundo e até mesmo o querosene de aviação voltou com tudo graças à retomada das viagens aéreas de longa distância.

A não ser por grande surto de coronavírus na China (discutido abaixo) ou o surgimento de uma nova cepa assustadora, a demanda dificilmente se reverterá.

Estoques sem retaguarda

Os estoques globais de petróleo finalmente recuaram aos níveis anteriores à pandemia no início de janeiro, de acordo com a consultoria Kayrros. As quedas foram mais acentuadas na China e nos EUA, onde os estoques estão no menor patamar desde o final de 2018.

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Dificuldade da Opep+ de ampliar a produção

Oficialmente, a aliança entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e outras grandes nações produtoras está restaurando a produção a um ritmo mensal de 400.000 barris diários. Na prática, não está nem perto disso.

Os países africanos da aliança não conseguem elevar a produção. A Opep somou apenas 90.000 barris diários em dezembro, uma vez que a maior oferta da Arábia Saudita foi ofuscada por perdas na Líbia e Nigéria.

Problemas de abastecimento serão fator essencial na marcha do petróleo para a marca de US$ 100.

Reação da indústria de xisto dos EUA

A produção de petróleo dos EUA está aumentando, mas não o suficiente para conter a escalada dos preços. A oferta vinda da Bacia do Permiano – área com reservas de xisto que abrange os estados do Texas e Novo México -- bateu recorde em dezembro, mas o custo fixo mais alto em outras áreas e problemas nas cadeias de suprimentos até agora impedem a aceleração da atividade.

Coronavírus na China

A estratégia do governo chinês de tolerância zero com a Covid — impondo rigorosas medidas de lockdown em cidades inteiras — evitou um surto mais amplo e uma queda significativa na demanda no país que é o maior importador mundial de petróleo.

No entanto, a China se prepara para o feriado prolongado do Ano Novo Lunar e os Jogos Olímpicos de Inverno. Infecções pela variante ômicron já foram relatadas em Pequim, Xangai e Shenzhen. Para a Eurasia Group, o potencial fracasso da estratégia chinesa contra a pandemia é o maior risco político de 2022.

Dificilmente o governo conseguirá controlar essa variante altamente transmissível da mesma forma que estancou surtos anteriores e parece já recuar na estratégia Covid Zero. O impacto de uma grande onda de contágio sobre o crescimento econômico e a demanda por energia na China talvez seja o fator menos previsível para a cotação do petróleo nos próximos dois meses.

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