Avanço da ômicron sugere fraqueza em dose de reforço com RNA

Descobertas demonstram a capacidade da ômicron de escapar da imunidade gerada até mesmo pelos reforços da vacina

Em última análise, serão necessárias vacinas melhores para interromper infecções sintomáticas pela ômicron
Por Antony Sguazzin
19 de Janeiro, 2022 | 04:26 PM

Bloomberg — Doses de reforço com vacinas de RNA mensageiro, como as da Pfizer, não conseguiram bloquear a ômicron, segundo estudo de alguns dos primeiros casos documentados causados pela variante altamente contagiosa.

Sete visitantes alemães na Cidade do Cabo sofreram infecções sintomáticas de Covid-19 entre o final de novembro e o início de dezembro, apesar de terem recebido dose de reforço, e foram estudados pela Universidade da Cidade do Cabo e Universidade de Stellenbosch, com as descobertas publicadas na terça-feira (18) na revista The Lancet. Todos os casos foram leves ou moderados, mostrando capacidade das doses extras de evitar doenças graves, morte e hospitalizações.

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Ainda assim, as descobertas demonstram a capacidade da ômicron de escapar da imunidade gerada até mesmo pelos reforços da vacina. Isso ressalta a necessidade de continuar combatendo a pandemia com medidas além da vacinação, como distanciamento social e máscaras, disseram os autores do estudo.

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As doses parecem gerar proteção contra ômicron com outras partes do sistema imunológico além de anticorpos, como células T, e até agora os dados hospitalares e de mortalidade foram menos graves do que com a variante delta, que dominou anteriormente.

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Programas de reforço

A rápida disseminação global da ômicron, identificada pela primeira vez no Botswana e na África do Sul no final de novembro, estimulou o Reino Unido, os EUA, a África do Sul e outros países a intensificar ou introduzir programas de reforço. No entanto, as pesquisas mais recentes mostram os limites de tais planos.

As vacinas feitas com a nova tecnologia de RNA vieram à tona durante a pandemia de covid-19. As doses instruem as células a produzir anticorpos altamente específicos que bloqueiam o pico do coronavírus, uma proteína que permite que ele entre nas células. As imunizações mais tradicionais usam vírus inativados ou mortos para estimular uma resposta do sistema imunológico.

Dados preliminares de um teste israelense envolvendo 154 profissionais de saúde divulgado segunda-feira (17), apenas duas semanas após o início do estudo, mostraram que uma quarta dose da vacina da Pfizer não impediu a infecção pela ômicron. Ainda assim, os participantes do estudo apresentaram sintomas leves ou mesmo nenhum sintoma.

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Dados do Reino Unido também mostraram um aumento significativo na proteção contra infecções sintomáticas e hospitalizações após uma dose de reforço, mas sugerem que pode haver a necessidade de uma quarta dose para pessoas com mais de 65 anos, de acordo com um relatório da Bloomberg Intelligence.

No estudo da Cidade do Cabo, quatro dos alemães estavam treinando em hospitais locais, três estavam de férias e todos tinham entre 25 e 39 anos. Cinco eram do sexo feminino, dois do sexo masculino e nenhum era obeso.

Cinco receberam três doses da vacina Pfizer-BioNTech e um recebeu a vacina da Moderna, também feita com tecnologia de RNA, seguida de uma dose de reforço da Pfizer. Outro recebeu uma dose da vacina da AstraZeneca seguida de duas doses da Pfizer. Nenhum relatou uma infecção prévia por Covid-19. Cinco dos indivíduos receberam sua dose de reforço no final de outubro ou início de novembro.

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“Oportunidade única”

“A presença deste grupo da Alemanha apresentou uma oportunidade única para estudar infecções pela ômicron em indivíduos com reforços de vacina de RNA”, disseram os pesquisadores.

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Todos os indivíduos relataram o início dos sintomas respiratórios entre 30 de novembro e 2 de dezembro e, depois, experimentaram doença leve ou moderada, disseram eles.

Fortes respostas de células T foram detectadas nos indivíduos, disseram os pesquisadores. “O curso leve a moderado da doença sugere que a vacinação completa seguida de uma dose de reforço ainda oferece boa proteção contra doenças graves causadas pela ômicron”, disseram eles.

Em última análise, serão necessárias vacinas melhores para interromper infecções sintomáticas pela ômicron, disseram eles.

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