Bloomberg Opinion — O setor de exploração e produção dos Estados Unidos objetivo supremo este ano: relevância. Pode parecer estranho para um setor que, no ano passado, teve o melhor desempenho de longe no mercado de ações e que continua sendo a fonte dos dois maiores combustíveis do país – petróleo e gás.
Mas veja só: no mês passado, os preços do petróleo dispararam, puxando o setor com eles – tanto que as ações de energia agora compreendem impressionantes… 3% do S&P 500 (SPY).
O petróleo foi negociado acima dos US$ 80 por barril três vezes nos últimos cinco anos. Quando isso aconteceu em 2018, setor de energia representava 6% do S&P 500 (16% quando o petróleo atingiu seu pico histórico em 2008). Mas logo depois, os últimos vestígios do interesse dos investidores no setor se esvaíram. Quando os preços do petróleo caíram, os múltiplos das ações caíram com eles, quebrando o padrão histórico. Basicamente, o mercado não conseguiu enxergar uma solução para as empresas de exploração e produção e as abandonou.
A antiga relação inversa entre os preços do petróleo e os múltiplos reafirmou-se no rally do ano passado. A natureza (ou os recursos naturais) está se recuperando, como diriam os otimistas. Ainda assim, com essa representação de 3%, o setor tem um caminho a percorrer. E os preços mais altos do petróleo (e do gás), embora sejam úteis para aliviar o problema, não são a cura.
O principal déficit é o de confiança. Embora o ritmo crescente, mesmo volátil, da descarbonização certamente afete valuations de longo prazo, o que realmente assusta as empresas de exploração e produção é o passado. O boom do xisto da década de 2010 foi um triunfo da participação de mercado sobre os retornos de mercado, quando os clientes de energia se beneficiaram de um aumento de capital no produto (semelhante a qualquer pessoa que pegou uma carona no Uber (UBER) ou alugou um escritório na WeWork), mas os investidores não.
Esse déficit é aparente em todos os tipos de dados comparativos. Com 3,8%, o setor de energia ostenta o maior rendimento de dividendos de qualquer setor, mais que o dobro da média do índice. O múltiplo de fluxo de caixa final da energia é o único em um dígito – nove vezes. Talvez o mais impressionante: a participação do setor de energia no valor de mercado do S&P 500 é a mais baixa em relação à participação nos lucros projetados de qualquer setor.
A mensagem? Os investidores não confiam que o setor de energia vai gastar seus lucros de maneira sábia.
Felizmente para o setor, ele está recuperando essa confiança. As empresas de exploração e produção ficaram mais disciplinadas após muitos anos gastando mais do que recebiam. De acordo com o resumo trimestral “State of the Business” de Bob Brackett, da Bernstein Research, o setor registrou seu quinto trimestre consecutivo de fluxo de caixa orgânico livre (ou seja, antes das aquisições) nos trimestre encerrado em setembro. A quase US$ 15 por barril de petróleo equivalente, este foi o maior valor desde o terceiro trimestre de 2008. A grande diferença é que, enquanto o petróleo custava em média US$ 118 o barril no verão de 2008, era apenas US$ 70 no verão de 2021. Lembre-se de que, no último trimestre de 2021, a média de preço do petróleo foi de US$ 77.
Uma parcela maior desse dinheiro está sendo devolvida aos investidores ou, igualmente importante, usada para reparar balanços patrimoniais: com 61%, o setor de energia tem a menor relação entre dívida e patrimônio de qualquer outro setor no S&P 500. Além disso, embora a produção deva aumentar este ano – a Administração de Informações sobre Energia dos EUA acabou de prever 640 mil barris extras por dia em 2022 – os ganhos de produtividade persistiram durante a pandemia. Em outubro, o setor produziu mais de 3,3 mil barris de óleo equivalente por trabalhador, acima dos cerca de 2,7 mil no início de 2020.
Tudo isso desencadeia um rally contínuo em um setor que desfruta dos ventos incontroláveis dos preços do petróleo e da inflação mais ampla. Este ano, o rally dependerá menos do preço do barril em um determinado dia do que do múltiplo que os investidores estão dispostos a atribuir aos lucros desse barril. E essa é uma função do quanto a disciplina vai durar. Gerenciar o fluxo de caixa com rigor, em vez de perseguir preços sem pensar, oferece o melhor seguro para ações de empresas de exploração e produção contra qualquer fraqueza no mercado de petróleo. Essa será a diferença entre indiferença e relevância.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.
Liam Denning é colunista da Bloomberg Opinion e cobre energia, mineração e commodities. Anteriormente, foi editor da coluna “Heard on the Street”, do Wall Street Journal, e escreveu para a coluna “Lex”, do Financial Times. Também foi banqueiro de investimentos.
--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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