Brasil perde mais de 2.300 agências bancárias em 2 anos de pandemia

País tem menos de 18 mil agências bancárias, segundo o BC. Nova onda da covid adoece bancários, fecha locais de atendimento e agrava apagão bancário

Banco do Brasil tem a maior rede de agências do sistema bancário brasileiro, com menos de 4.000 locais de atendimento presencial espalhados pelo país
14 de Janeiro, 2022 | 04:30 PM

São Paulo — O Brasil perdeu quase 12% do total de agências bancárias nos dois primeiros anos da pandemia da covid (2020 e 2021). Foram 2.324 unidades que sumiram no período, segundo dados do Banco Central. Em dezembro, o sistema bancário do país tinha 17.640 locais físicos de atendimento. No fim de 2019, eram 19.964. Com o avanço dos serviços financeiros por meios eletrônicos com o surgimento das fintechs e a adoção de medidas de redução de custos com operações de M&A (fusões de aquisições) no setor bancário, já estava em andamento essa redução na última década, mas se acelerou com a pior crise sanitária do século. No fim de 2013, o país tinha 22.918 agências, 23% a mais do que hoje.

A nova onda de casos de covid, com a variante ômicron tornando-se dominante, voltou a obrigar os bancos a interromperem o atendimento presencial em diversas cidades do país. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) diz ignorar o total de profissionais doentes e quantas agências estão deixando de funcionar. Já o Sindicato dos Bancários de São Paulo informa que 150 agências tiveram de ser temporariamente fechadas em uma semana apenas em sua área de atuação (capital paulista, Osasco e região) e que já há o registro de 500 bancários confirmados com covid ou influenza no período.

Muitas agências estão sendo fechadas, e o sindicato atua para que os protocolos de segurança sejam respeitados, que incluem a sanitização da agência, afastamento de bancários com suspeita de contaminação e testagem dos funcionários próximos”, diz a entidade, em comunicado.

Em nota, a Febraban afirma que “os bancos brasileiros têm assegurado as condições de um ambiente de trabalho com o máximo de proteção à saúde tanto para os funcionários quanto para os clientes, tendo adotado protocolos rígidos de proteção sanitária” e que, desde o início da pandemia em 2020, “tal prática inclui a higienização, distanciamento entre os postos de trabalho, controle do número de pessoas dentro da agência e organização de filas para que não haja contato entre os próprios clientes”. O posicionamento da entidade contraria os relatos das entidades sindicais de que algumas instituições estão relaxando protocolos e omitindo casos confirmados.

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A Febraban acrescenta que, como em toda a sociedade brasileira e demais setores, tem recebido relatos no setor bancário de aumento no número de casos de contaminações pela nova variante da covid. “Nos casos de contaminação confirmada, as agências passam por um novo processo de higienização desde o início da pandemia, em 2020. Tais procedimentos permanecem vigentes, sem qualquer alteração. Esses fechamentos variam diariamente e podem ocorrer por algumas horas ou até um dia, de acordo com o tamanho da agência. Também não há qualquer prejuízo na prestação de serviços financeiros e bancários à população”, afirmou a Febraban.

Em 2020, 67% das transações bancárias foram realizadas por meio do celular ou internet, demonstrando o elevado grau de digitalização dos usuários bancários, segundo a nota da entidade. “As agências bancárias são responsáveis por 3% das transações,e os eventuais fechamentos para sanitização não estão comprometendo o atendimento bancário”, diz a Febraban, que recomenda o uso dos canais digitais (internet banking e aplicativos) para realizar quase que a totalidade dos serviços oferecidos nas agências físicas.

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Entre 2016 e 2020, os meios digitais passaram de 52% do total para 62% em 2019 e 67% em 2020, segundo a Febraban. No celular o volume passou de 43% para 51% entre 2019 e 2002. A participação das transações em agências bancárias vem caindo nos últimos anos, de 9% em 2016 para 3% em 2020.

Bancos públicos

Os bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) ainda possuem as maiores redes de agências do país, segundo os dados do BC. O pagamento de benefícios sociais para populações de baixa renda ajuda a explicar essa realidade, já que essas instituições precisam ter presença nos 5.568 municípios do país, embora nos últimos anos houve enxugamento das redes de agências por conta de restrições orçamentárias, com cancelamento de concursos e lançamento de programas de desligamento.

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Com o início da pandemia em 2020, essas unidades registraram aglomerações devido às longas filas para o recebimento do auxílio emergencial. Em novembro do ano passado, a Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa) divulgou o resultado de uma pesquisa, realizada com a ajuda de estudiosos de três universidades, apontando problemas como falta de ventilação adequeada em aproximadamente 80% das agências onde bancários foram entrevistados pelos pesquisadores, além de .contato próximo entre clientes e funcionários com menos de dois metros de distanciamento.

Além de São Paulo, outras capitais do país também registram fechamento de agências devido à nova onda de contaminações pela covid e pela influenza. No Ceará, cerca de 30 agências bancárias interromperam o atendimento nas duas primeiras semanas do ano por causa de funcionários infectados, segundo o sindicato dos bancários do estado. No Rio Grande do Sul, pelo menos 40 agências foram fechadas neste ano - a maioria das unidades é do Banrisul, que também foi obrigado a interromper o atendimento em Santa Catarina. Houve também casos de agências sem funcionar em Londrina, no Paraná, e no interior paulista.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.