Bloomberg — O Taliban quer tomar parte, junto com a comunidade internacional, da distribuição da ajuda humanitária que tem sido enviada ao Afeganistão em meio a estratégias dos Estados Unidos, que tentam impedir a influência do grupo e canalizar os recursos internacionais somente para ações lideradas pelas agências das Nações Unidas.
O vice-primeiro-ministro interino, Abdul Salaam Hanafi, propôs a criação de um comitê conjunto para coordenar o uso dessa ajuda de bilhões de dólares, durante uma reunião na quarta-feira (12) com representantes da ONU. As “capacidades existentes do governo devem ser usadas, e o processo de distribuição da ajuda deve ser feito de forma transparente, sem discriminação, de forma eficaz e imparcial”, disse o líder talibã.
Os comentários de Hanafi vieram um dia depois que a ONU fez seu mais recente pedido de financiamento - na marca recorde de US$ 5 bilhões em ajuda -, que alcançaria mais da metade dos 40 milhões de habitantes do Afeganistão para “atender a níveis imediatos e catastróficos de necessidades”. Os EUA também planejavam dar US$ 308 milhões em ajuda ao país.
Os EUA afirmaram, no mês passado, que iriam ignorar o Taliban e buscar novas maneiras pelas quais os grupos de ajuda humanitária pudessem ajudar a aliviar a crise alimentar que se agrava rapidamente. O plano era injetar dinheiro diretamente na economia do Afeganistão, que está em queda livre desde que o grupo assumiu o poder em agosto.
Isso ocorre, em parte, porque os EUA e outros países ainda não reconheceram o governo do Taliban devido a preocupações de que ele possa estar mantendo ligação com grupos terroristas, além de promover violações aos direitos humanos. Alguns dos membros do gabinete do Taliban, incluindo Hanafi, são vistos com grande desconfiança pelos EUA e pela ONU.
“Ignorar o Taliban transmite a mensagem de que não há governo constituído no país”, disse Jawid Kohistani, analista político independente e ex-oficial afegão das forças de segurança em Cabul. “Para o Taliban, não há opção a não ser aceitar e deixar o mundo fazer o que puder, mesmo sem sua coordenação, para evitar a crise humanitária com a distribuição da ajuda.”
Embora Hanafi tenha celebrado o pedido de financiamento da ONU para este ano, ele lembrou que a ajuda humanitária “não é uma solução permanente para a pobreza”. A ONU também havia alertado, anteriormente, que milhões de pessoas no Afeganistão estão enfrentando fome aguda e que mais de um milhão de crianças podem morrer dentro de um ano.
Várias autoridades do governo Afegão culparam os EUA pela crise, lembrando que Washington congelou o acesso do país às suas reservas estrangeiras de US$ 9 bilhões, depois que o grupo militante assumiu o poder. Sem poder usar essas reservas em moeda forte, o governo Taliban está lutando para pagar salários e importar bens básicos.
Por enquanto, a ajuda financeira supervisionada pela ONU está chegando a conta-gotas. Uma quinta rodada de US$ 32 milhões em dinheiro físico chegou à capital Cabul nesta segunda-feira (10), elevando o valor total da contribuição estrangeira para mais de US$ 100 milhões, desde a retomada dos fluxos do auxílio, de acordo com o Da Afghanistan Bank, o banco central do país.
– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.
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