Bloomberg Línea — A brasileira BRF (BRFS3) e o fundo soberano da Arábia Saudita vão criar uma nova empresa de processamento de proteínas no Oriente Médio. O grupo nacional e o fundo saudita assinaram um memorando de entendimento para criar uma joint venture onde a BRF terá 70% do capital e o fundo os 30% restantes. O acordo prevê investimentos de US$ 350 milhões que serão aplicados ao longo de toda a cadeia de produção e não apenas na construção de unidades industriais.
Por trás da estratégia está o interesse saudita em incentivar a produção de aves no país e reduzir sua dependência do mercado externo. Com uma população de apenas 38,4 milhões de habitantes, a Arábia Saudita é o quinto maior importador de carne de frango do mundo, atrás apenas do Japão, México, China e toda a União Europeia junta.
O país consome por ano 1,5 milhão de toneladas. Com uma produção doméstica de 920 mil toneladas, a Arábia Saudita ainda precisa importar pouco mais de 40% de sua necessidade anual. Por mais de uma vez, o governo saudita já manifestou seu interesse de reduzir a dependência internacional e, para isso, tem pressionado seus tradicionais fornecedores a investirem na produção local de frango.
E é aí que entra a BRF. A empresa brasileira já opera uma fábrica na Arábia Saudita, porém voltada a produtos industrializados. Na prática, a companhia importa frangos e cortes in natura do Brasil para processar e agregar valor mais próximo de um de seus maiores mercados consumidores. No Oriente Médio como um todo, onde tem uma participação de mercado de 36,3% com a marca Sadia, a companhia ainda tem uma fábrica em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, onde também industrializa matéria-prima importada.
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Nesse contexto, o governo saudita sempre viu a BRF como um dos potenciais, para não dizer o principal, parceiros para alavancar a produção doméstica de frango. A ideia sempre foi aproveitar a experiência que o grupo brasileiro tem na produção e abate das aves para tentar implementar um modelo semelhante na região.
Contudo, produzir frango no Oriente Médio e instalar uma unidade de abate na região nunca esteve entre as prioridades da BRF devido à viabilidade econômica do projeto. Isso porque, para abastecer o aumento da produção das granjas seria necessário elevar as importações de milho. No Brasil, todas as unidades de abate da BRF estão instaladas nos principais polos de produção do cereal.
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Para tentar convencer a empresa brasileira, a Arábia Saudita enviou no ano passado alguns recados. No principal, o governo decidiu reduzir de um ano para apenas três meses o prazo de validade da carne de frango in natura congelada exportada para o país. Apesar de a medida não ter sido efetivamente implantada, foi vista como um claro sinal da insatisfação saudita com a demora em uma definição.
Com o anúncio de hoje, BRF e Arábia Saudita seguem juntas para reduzir a dependência de matéria-prima importada.