São Paulo — O grupo financeiro Itaú Unibanco (ITUB4) anunciou, nesta quinta-feira (13), a compra do controle da corretora digital Ideal por R$ 650 milhões, indicando um reforço da aposta do maior banco privado do Brasil em um segmento do mercado dominado hoje por XP e Nubank. A Ideal oferece soluções de negociação em plataforma baseada em nuvem que opera desde 2019.
A aquisição será realizada em duas etapas ao longo de cinco anos, segundo fato relevante divulgado na manhã de hoje. Na primeira, o grupo irá adquirir 50,1% do capital social e votante da Ideal, através de um aporte primário e da aquisição secundária de ações que totalizam cerca de R$ 650 milhões. Na segunda, após cinco anos, o Itaú Unibanco poderá exercer o direito de compra do percentual restante (49,9%) do capital social da Ideal.
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Não é a primeira vez que o grupo segue esse padrão. No dia 11 de maio de 2017, o Itaú anunciou acordo para comprar 49,9% da corretora XP com opção de elevar para 75% em cinco anos (12,5% em 2020 e 12,5% em 2022).
“A gestão e a condução dos negócios da Ideal continuarão autônomas em relação ao Itaú Unibanco, conforme os termos e condições de Acordo de Acionistas dessa transação. Nesse contexto a Ideal continuará atendendo seus clientes, e o Itaú Unibanco não terá exclusividade na prestação de serviços”, diz o fato relevante.
O grupo apontou quatro reforços decorrentes da aquisição para seu ecossistema de investimentos: “contar com o talento e expertise dos profissionais da Ideal, reconhecidos pela alta capacidade de inovar nesse setor; a oferta de produtos e serviços financeiros (”broker as a service”) em modelo B2B2C por meio da plataforma “white label”; a possível aceleração da entrada no mercado de agentes autônomos de investimentos; e o aperfeiçoamento na distribuição de produtos de investimentos para clientes pessoas físicas”.
Segundo o fato relevante, a Ideal obteve sua licença de funcionamento em 2019 e e atualmente é uma das corretoras líderes em volumes negociados nos mercados da B3, oferecendo soluções de trading eletrônico e DMA (direct market access), dentro de uma plataforma flexível e cloud-based.
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“O investimento na Ideal reforça o compromisso do Itaú Unibanco com os seus clientes em busca de soluções transformadoras em um mercado em franca expansão, permitindo ampliar a oferta de produtos e serviços nos canais mais convenientes a cada perfil de cliente e desenvolvimento sustentável nos negócios”, afirma o fato relevante.
Esta é a primeira aquisição anunciada pelo grupo em 2022. O negócio depende ainda da aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e do Banco Central.
O avanço das fintechs, com o crescimento de plataformas de investimentos, é apontado por alguns analistas como um fator limitante para a perspectiva dos bancos tradicionais. No caso do Itaú Unibanco, além do seu aporte na XP em 2017, o grupo tem ampliado sua presença no mundo digital. Em 2021, lançou a plataforma íon. Neste mês, a XP anunciou a compra do banco Modal. Já bancos digitais como o Inter e o Nubank expandem seus negócios fora do Brasil. No ano passado, o Inter comprou a fintech USEND para ingressar no mercado dos EUA, enquanto o Nubank estreou na Bolsa de Nova York, em dezembro., como o banco mais valioso da América Latina.
Ampliar oferta
Nilson Monteiro, CEO da Ideal, permanecerá na liderança das suas operações, juntamente com os demais sócios-fundadores da companhia, informou o Itaú Unibanco, em comunicado à imprensa. “Esse investimento materializa o nosso mantra de centralidade no cliente, pois é ele quem mais ganhará com a transação, uma vez que a Ideal nos ajudará a ampliar e a uniformizar a oferta para diferentes canais”, afirmou Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú Unibanco, na nota. “Na prática, clientes de diversos segmentos do banco, como iti, íon ou mesmo a Itaú Corretora, poderão ter acesso aos mesmos produtos nas plataformas que preferirem”, acrescentou.
O investimento também beneficiará a oferta de produtos e serviços atuais, segundo Carlos Constantini, diretor da área de Wealth Management & Services (WMS) do Itaú Unibanco. “A Ideal conta com um time reconhecido pelo mercado e uma estratégia bem definida para o seu segmento de atuação. Essa estrutura será mantida e continuará atuando com autonomia, para que possamos aproveitar toda a capacidade da corretora e os benefícios de trabalhar com uma das líderes de mercado. A companhia terá um papel importante na consolidação do ecossistema de investimentos do Itaú Unibanco e na manutenção da nossa liderança de mercado. Por meio da plataforma da Ideal, enxergamos a possibilidade de ampliar a oferta de produtos de investimento do Itaú Unibanco dentro dos modelos B2B e B2B2C”, declarou o executivo.
O CEO da Ideal também divulgou um comentário. “A Ideal nasceu da ambição de que podíamos transformar o mercado. Em pouco mais de dois anos, nos firmamos como referência em experiência de cliente, tecnologia e espírito disruptivo. A união com o Itaú, além de um privilégio, é o sinal de que estamos na direção certa. Desde o início das conversas, ficou evidente que o novo capítulo na nossa história teria que ser com o Itaú. Por um lado, temos muito a contribuir na transformação digital do banco. E a Ideal terá um imenso potencial de aprendizado e escala. Agora, mais importante, o que sempre esteve claro foi o alinhamento de princípios e valores entre as empresas – e essa é a condição que mais pesa para o sucesso de qualquer projeto de longo prazo”, disse Monteiro.
Receitas
A aquisição da Ideal pode impulsionar o crescimento das receitas de tarifas do Itaú, pois traz uma plataforma com relevante participação de mercado, o que pode atrair mais clientes e aumentar a transacionalidade para o banco, avaliou a dupla de analistas Gustavo Schroden (Bradesco BBI) e Maria Clara Negrão (Ágora Investimentos) em nota.
Eles comentaram que, do ponto de vista dos corretores, o movimento do Itaú parece fazer sentido estratégico em um cenário em que os volumes de negociação ainda estão se mantendo decentemente e o potencial de crescimento do mercado como um todo permanece no caminho certo, apesar dos ventos contrários de curto prazo que podem ter taxas de juros mais altas.
“Do ponto de vista competitivo, no entanto, o mercado, principalmente no segmento institucional, já é muito forte, então não esperamos uma mudança material em sua estratégia com agressividade de preços potencialmente maior”, escreveram os analistas.
A Ideal registrou lucro líquido de R$ 9 milhões no primeiro semestre de 2021, com receita de R$ 32 milhões, segundo os analistas. Eles destacam ainda que a corretora tem forte presença no segmento institucional, com aproximadamente 8% da participação de mercado em volume de negociações de ações e é lider de mercado em volume de negociação de derivativos listados, com 13% de participação de mercado.
(Atualiza às 10h40 com comentários de analistas e de executivos)
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