Maior fortuna cripto do mundo começou com um jogo de pôquer amigável

Changpeng Zhao, da Binance, tem um patrimônio líquido em torno de US$ 96 bilhões

CEO da Binance
Por Tom Maloney - Yueqi Yang - Ben Bartenstein
11 de Janeiro, 2022 | 08:03 PM

Bloomberg — O Grande Prêmio de Abu Dhabi atrai príncipes, estrelas de cinema e atletas mundialmente famosos todos os anos para a festa na Ilha Yas, o centro de entretenimento a cerca de 30 minutos do centro da cidade.

Entre eles no mês passado estava uma figura que traçava uma ascensão improvável: um ex-chapeiro e desenvolvedor de software do McDonald’s que, praticamente da noite para o dia, galgou a escadaria do sucesso, tornando-se uma das pessoas mais ricas do mundo - o pioneiro das criptomoedas, Changpeng Zhao.

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CZ, como é conhecido pelos criptófilos, está rapidamente se tornando uma presença constante nos Emirados Árabes Unidos, encontrando-se com a realeza em Abu Dhabi, que está ansiosa para trazer sua bolsa Binance para o país, segundo fontes a par da situação. Ele adquiriu apartamento em Dubai, ofereceu jantares perto do Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo, e na ilha Palm Jumeirah da cidade - tornando-o a personalidade mais proeminente na crescente cena cripto do país.

Em uma região conhecida pela riqueza estonteante, Zhao, 44, se encaixa perfeitamente: seu patrimônio líquido é de US$ 96 bilhões, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg. É a primeira vez que a Bloomberg estima sua fortuna, que supera a pessoa mais rica da Ásia, Mukesh Ambani, e rivais de titãs da tecnologia, incluindo Mark Zuckerberg e os fundadores do Google, Larry Page e Sergey Brin.

A fortuna de Zhao pode ser significativamente maior, já que a estimativa de riqueza não leva em consideração suas propriedades pessoais em criptomoedas, que incluem Bitcoin e o token de sua própria empresa. A Binance Coin, agora chamada de BNB, cresceu cerca de 1.300% no ano passado.

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O sucesso da Binance ressalta as vastas riquezas que estão sendo criadas no mundo sem limites do criptoverso, mesmo com declínios recentes, apesar de polêmicas em torno da empresa.

Banida da China - onde foi fundada - a empresa enfrenta escrutínio regulatório em todo o mundo. O Departamento de Justiça (DOJ) e Receita Federal dos Estados Unidos (IRS) estão investigando se uma entidade controlada por Zhao, a Binance Holdings, é um canal para lavagem de dinheiro e evasão fiscal, de acordo com fontes com conhecimento do assunto. Porta-vozes de ambos os órgão não quiseram comentar.

O futuro da Binance pode depender da capacidade de conciliar os reguladores mundiais e encontrar um local acolhedor para estabelecer sua sede.

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Por enquanto, porém, o dinheiro está entrando.

A Binance gerou pelo menos US$ 20 bilhões de receita no ano passado, de acordo com uma análise da Bloomberg de seu volume de negócios e taxas. Isso é quase o triplo do que os analistas de Wall Street esperam que a Coinbase Global, uma empresa de capital aberto com um valor de mercado de US$ 50 bilhões, arrecade em 2021.

“A Coinbase pode parecer o gorila de 800 libras de uma perspectiva dos EUA, mas a Binance é significativamente maior”, disse o analista da DA Davidson & Co, Chris Brendler.

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Colosso Cripto

Zhao se recusou a comentar sobre esta matéria e a Binance contestou a precisão das estimativas da Bloomberg sobre o valor de mercado da empresa e seu patrimônio líquido.

“As criptomoedas ainda estão em fase de crescimento”, disse a Binance em um comunicado. “Elas estão suscetíveis a níveis mais elevados de volatilidade. Qualquer número que você ouvir em um dia será diferente de um número que você ouvirá no dia seguinte. "

Um mês antes de assistir à batalha das estrelas da Fórmula 1, Lewis Hamilton e Max Verstappen, no Circuito Yas Marina, Zhao falou no Bloomberg New Economy Forum em Singapura, onde listou os números por trás da ascensão meteórica da empresa que ele criou em 2017.

Em um intervalo recente de 24 horas, a Binance concluiu US$ 170 bilhões em transações. Em um dia muito lento, disse ele, costuma ser cerca de US$ 40 bilhões - e isso é um salto dos míseros US$ 10 bilhões de dois anos atrás

No mundo das criptomoedas, esses são números gigantescos. A Binance costuma ter um volume de negociação equivalente às quatro maiores exchanges combinadas.

Quando Erik Schatzker, da Bloomberg, perguntou ao bilionário sobre sua riqueza durante a entrevista de novembro em Singapura, Zhao objetou: “Eu não me importo com riqueza, dinheiro, classificações”, disse ele.

O esguio empresário das criptomoedas, usando óculos sem aros e uma gravata listrada um pouco grande, acrescentou que tais assuntos são uma distração e que ele está preparado para doar quase toda sua fortuna antes de morrer.

Resta ver se Zhao pode se agarrar ao que ganhou, e ele tem muitos motivos para se preocupar com o crescimento desenfreado de sua empresa.

Além da investigação do DOJ e do IRS, a Commodity Futures Trading Commission está investigando uma possível manipulação do mercado e negociações com informações privilegiadas dentro da Binance, e se ela permitiu ilegalmente que clientes dos EUA negociassem derivativos vinculados a criptomoedas, segundo fontes familiarizadas com o assunto. A CFTC não quis comentar.

A Binance também tem sido alvo de alertas ao consumidor no Reino Unido, Japão e Alemanha, entre outros países. Em 30 de dezembro, um regulador de valores mobiliários canadense repreendeu a empresa por dizer aos usuários de sua plataforma de negociação que ela tinha permissão para continuar as operações no país, quando, na verdade, ainda não possui registro para tal.

Um porta-voz da Binance disse que a empresa está “trabalhando com reguladores em todo o mundo e levamos nossas obrigações de conformidade muito a sério”.

Zhao disse que aceita - e deseja - a regulamentação.

“Não sou anarquista”, disse ele no Bloomberg Forum. “Não acredito que a civilização humana seja avançada o suficiente para viver em um mundo sem regras.”

Fortunas construídas no mundo das criptomoedas aumentaram junto com o valor dos tokens digitais, que totalizaram US$ 2,09 trilhões em 7 de janeiro, ante US$ 135 bilhões três anos atrás.

Até recentemente, era raro que um criptoempreendedor aparecesse em classificações globais de riqueza. Um número cada vez maior está chegando lá, à medida que mais empresas do setor obtêm financiamento de capital de risco ou mercados públicos, trazendo maior transparência ao valor desses negócios.

Exchanges como a Coinbase, a Gemini, a FTX e a Kraken atraíram avaliações pesadas nos mercados público e privado, e a popularidade da Binance com os usuários e sua miríade de produtos pode ser ainda mais atraente para os investidores.

Fortunas em criptomoedas, no entanto, são voláteis. O Bitcoin caiu mais de 11% este ano para cerca de US$ 41.000 e está bem abaixo das máximas do início de novembro de quase US$ 69.000. As ações da Coinbase despencaram cerca de 35% nos últimos dois meses.

E algumas empresas entraram em conflito com os reguladores. A BitMex, que já foi a maior bolsa de cripto-derivados do mundo, serve de aviso.

Em agosto, a BitMex pagou US$ 100 milhões para resolver casos com a CFTC e a Rede de Execução de Crimes Financeiros por alegações de que permitia negociações de derivativos ilegais e violava as leis de combate à lavagem de dinheiro. A empresa não admitiu ou negou as alegações. Os fundadores Arthur Hayes, Samuel Reed e Ben Delo estão aguardando julgamento depois de terem se declarado culpados em um caso separado do Departamento de Justiça, que os acusa de violar a Lei de Sigilo Bancário.

O Bloomberg Billionaires Index estimou a receita de 2021 da Binance usando seus volumes na exchange de derivativos e spot denominados em dólares americanos, conforme publicado pelos pesquisadores da indústria Coingecko e Nomics, e suas taxas de negociação anunciadas. O cálculo não inclui outras fontes de receita da empresa, como empréstimos marginais, tecnologia, consultoria e NFTs. Essa avaliação é feita usando o múltiplo de valor para vendas da empresa de pares com capital aberto. Supõe-se que Zhao possua 90% da empresa, com base em suas declarações públicas e registros regulatórios em jurisdições onde essas informações devem ser divulgadas.

A receita da Binance é realizada por meio de centenas de tokens de criptomoedas, que a empresa não converte para as moedas tradicionais, disse Zhao à Bloomberg durante a entrevista de novembro.

“Nós apenas os guardamos”, disse ele. “Se você calcular o número hoje, é um número e 5 minutos depois é um número diferente porque todos os preços estão mudando constantemente.”

Zhao, um cidadão canadense, nasceu na província chinesa de Jiangsu. Seu pai, um professor universitário, foi exilado para o campo durante a Revolução Cultural e, quando CZ tinha 12 anos, mudou-se com a família para Vancouver.

Exposto à tecnologia desde muito jovem, Zhao mais tarde estudou ciência da computação e acabou conseguindo empregos na área de finanças, em Tóquio e Nova York, incluindo um período de quatro anos na Bloomberg LP, controladora da Bloomberg News.

Seu caminho para a cripto-riqueza começou em Xangai em 2013, durante um jogo de pôquer com Bobby Lee, então CEO da BTC China, e o investidor Ron Cao, que o encorajou a alocar 10% de seu patrimônio líquido em Bitcoin.

Depois de passar algum tempo estudando, ele deu o salto de fé e acabou vendendo seu apartamento em troca de Bitcoin. Em 2017, ele fundou a Binance (uma neologismo criado a partir de binary e finance, em inglês) e ela rapidamente se tornou uma potência de criptomoedas. Zhao ainda tatuou o logotipo da empresa em seu braço.

A Binance se tornou o principal destino para o comércio de “moedas alternativas” - criptomoedas que são menos líquidas do que tokens mais estabelecidos, como Bitcoin e Ethereum, que se tornaram alguns dos espaços mais especulativos do mercado. A empresa oferece operações em mais de 350 moedas em sua bolsa internacional, mais do que o dobro do que é oferecido pela Coinbase, de acordo com Coingecko.

A Binance teve sucesso em criar “adesão do usuário”, em parte permitindo que os clientes usassem a Binance Coin para reduzir as taxas de negociação, contou Tim Swanson, chefe de inteligência de mercado da Clearmatics, uma empresa de blockchain com sede em Londres.

“Eles nem mesmo precisam ser os primeiros a listar uma moeda para que a liquidez se agregue”, disse Swanson sobre a Binance.

A empresa de Zhao também é a maior fornecedora de negócios de derivativos por volume, permitindo que os usuários especulem em cima de criptomoedas com ainda mais risco e recompensa potencial.

Inicialmente, a Binance permitia que os clientes abrissem contas com nada mais do que um endereço de e-mail. A empresa se concentrava em transações de cripto-para-cripto, limitando suas interações com bancos tradicionais e seus reguladores. Em agosto, a empresa anunciou que todos os novos usuários precisariam verificar sua identidade, e os usuários existentes que não o fizessem teriam suas operações limitadas a saques.

Nunca teve uma sede formal. A Binance foi fundada na China, banida para o Japão e exilada para Malta, cujo regulador financeiro posteriormente negou ter supervisionado a exchange. Embora a empresa tenha uma presença importante em Singapura, ela sofreu um revés no mês passado quando sua unidade local retirou um pedido para operar a exchange na cidade-estado.

Agora a Binance está tentando estabelecer uma sede, disse Zhao durante a entrevista em novembro, acrescentando que um anúncio sobre isso seria feito “muito em breve”.

Trata-se de uma reviravolta, já que em 2020 Zhao disse que a sede da empresa estava onde quer que ele estivesse. Em processos judiciais, os advogados da empresa disseram que ela foi constituída nas Ilhas Cayman, que é conhecida por ser um paraíso fiscal e regulatório offshore.

A capacidade da Binance de operar em qualquer lugar dificultou o estabelecimento da jurisdição sobre a empresa por parte dos reguladores.

“A abordagem deles era: ’Não precisamos de um regulador, somos descentralizados ‘”, disse Brendler, analista da DA Davidson. “Isso funcionou muito bem para crescimento, escala e inovações de produto.”

A abordagem liberal de Zhao pode precisar mudar, já que a Binance busca levantar dinheiro de investidores externos, que normalmente desejam alguma medida de supervisão do governo como uma garantia de que o negócio é legalmente sólido. Zhao será obrigado a encontrar um regime regulatório de apoio, de acordo com fontes familiarizadas com suas discussões nos Emirados Árabes Unidos.

A Binance vem preenchendo os cargos do alto escalão da empresa com ex-funcionários de reguladores dos Emirados Árabes Unidos e assinou um acordo com a autoridade do Dubai World Trade Center para ajudar a criar uma estrutura regulatória de criptomoedas.

Nem todos os esforços da Binance para agradar os reguladores tiveram êxito.

No ano passado, a Binance.US, uma operação comercial gerenciada separadamente associada à exchange, contratou um ex-tesoureiro da moeda nos EUA como CEO. Sua nomeação foi vista como um passo positivo em direção a questões regulatórias, mas ele durou apenas três meses, partindo em agosto, após citar diferenças sobre a direção estratégica.

Apesar de seus desafios jurídicos, os investidores podem ser tentados a apostar na exchange de criptomoedas mais bem-sucedida do mundo. No final do ano passado, a Binance estava tentando levantar dinheiro de fundos soberanos, e sua afiliada nos EUA também buscava investidores com o objetivo de uma oferta pública inicial. Em novembro, o Wall Street Journal informou que ex-executivos estimaram que a empresa poderia valer até US$ 300 bilhões.

“Para levantar capital, acreditamos que a empresa precisa mostrar um caminho para estabelecer uma sede global e consolidar as operações”, disse Robert Le, analista da Pitchbook.

Se a Binance conseguir, pode ser que Zhao fique ainda mais rico do que Elon Musk, atualmente a pessoa mais rica do mundo, e que o número dois, Jeff Bezos, a quem Zhao disse admirar.

“Eu não o conheço pessoalmente”, disse Zhao, falando no evento Bloomberg de novembro, sobre o fundador da Amazon.com, “mas eu adoraria estar associado a ele no futuro.”

– Com a colaboração de Tom Schoenberg, Benjamin Bain e Erik Schatzker.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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