São Paulo — Pelo menos quatro companhias brasileiras já formalizaram desistências de ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) neste começo do ano, segundo a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Elas tinham encaminhado pedidos de registro dessas operações, no ano passado, quando o apetite dos investidores por novos papéis era maior, antes da piora das condições de mercado com a inflação, juros, incerteza fiscal, crise política e novas variantes da covid.
Monte Rodovias, Ammo Varejo, Dori Alimentos e Environmental ESG Participações queriam estrear no pregão da B3, mas foram atropeladas pela mudança do cenário macroeconômico, que costuma exibir maior aversão ao risco em ano de eleições gerais no Brasil. Segundo dados do site da CVM, essas quatro empresas desistiram de seus IPOs, situação que foi formalizada no último dia 6 de janeiro.
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Operadora de concessões, a Monte Rodovias, fundada em 2020, integra o grupo Monte Equity, que também possui ativos de energia e imobiliários, além de três concessões (rodovias Bahia Norte, Rota do Atlântico e Rota dos Coqueiros) na Bahia e Pernambuco.
A Ammo Varejo, braço de varejo do grupo têxtil mineiro Coteminas, é dona das marcas MMartan, Casa Moysés e Artex. A empresa planejava levantar de R$ 550 milhões a R$ 750 milhões, o que poderia fazer a companhia estrear na B3 avaliada entre R$ 2,2 bilhões e R$ 3 bilhões. O dinheiro captado seria usado para expandir rede de lojas físicas e desenvolver logística.
Já a Dori Alimentos, dona de marcas como Dori, Pettiz, Gomets, Bolete e Yogurte 100, é uma das maiores empresas de snacks (amendoins, chocolates, balas de goma e gelatina, entre outros). Ela tinha escolhido o Itaú BBA para liderar a distribuição primária e secundária de ações.
Por sua vez, a Environmental ESG, controlada pelo grupo Ambipar, suspendeu, em outubro, sua oferta pública inicial de ações em meio a condições deterioradas do mercado. A subsidiária da Ambipar havia contratado Bradesco BBI, Santander Brasil e UBS BB para coordenar a oferta.
Recorde
Em 2021, 46 empresas fizeram IPO e estrearam na B3, movimentando mais de R$ 65,6 bilhões, segundo relatório da XP, assinado pelo estrategista-chefe Fernando Ferreira, pela estrategista de ações Jennie Li e analista de estratégia de ações Rebecca Nossig.
“O ano de 2021 foi um ano recorde para ofertas iniciais de ações no Brasil em valor, superando o ano de 2007, que era o recorde anterior. Porém, 2007 segue sendo o ano recorde para número de transações, quando 64 companhias se tornaram públicas e movimentaram R$ 55,6 bilhões”, citaram.
O segundo semestre mudou a direção dos ventos para as ofertas iniciais. “Apesar de dados fortes de IPO em 2021, nota-se que grande parte das ofertas ocorreram até julho, e maiores preocupações fiscais levaram a uma deterioração no sentimento para novas ofertas na segunda metade do ano – foram apenas 6 IPOs realizados a partir de agosto. Além disso, segundo dados da CVM, até o mês de novembro de 2021, foram contabilizadas 61 desistências de ofertas primárias no ano”, destacou a XP.
Fatores como a vacinação contra a Covid-19, a retomada da economia e melhora no cenário global atraíram investidores domésticos e estrangeiros para a Bolsa brasileira e para os IPOs, segundo a avaliação da corretora. No ano passado, os investidores pessoas físicas na Bolsa superaram 4 milhões, uma alta de 26% em relação a 2020, e houve um forte fluxo de investidores estrangeiros que somou mais de R$ 100 bilhões no ano.
“Tudo isso tornou o mercado acionário mais atraente para empresários, fazendo com que 2021 se consolidasse como o segundo ano com maior número de IPOs no país”, resumiu o relatório da XP, que em agosto do ano passado projetava um recorde de operações.
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