Opinión - Bloomberg

Só a mão forte do governo pode conter a força da indústria da carne

Preçostêm disparado, respondendo por mais da metade do aumento nos gastos com compras de mercado nos EUA

Casa Branca divulga estratégia para impulsionar a competição no setor de carnes
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — O governo de Joe Biden precisa desesperadamente de uma vitória sobre a inflação, e diminuir o preço que os americanos pagam pela carne bovina teria um impacto imediato na maioria das famílias.

No entanto, a estratégia divulgada pela Casa Branca nesta semana para impulsionar a competição no setor de carnes, que é altamente concentrado, embora prudente, não afetará muito os preços da carne, pelo menos não por enquanto. Também não é provável que ajude a combater a inflação.

Não é à toa que as ações da Tyson Foods, grande produtora de carne bovina e suína, além de frango, subiram mais de 4% desde que o plano foi anunciado.

Os preços da carne têm disparado - respondendo por mais da metade do aumento nos gastos com compras de mercado para as famílias americanas. A culpa, segundo o governo, é das quatro empresas que, juntas, controlam mais de 80% do mercado de frigoríficos. A Casa Branca está focada nessa indústria há meses, argumentando que a concentração excessiva está prejudicando os consumidores, que estão pagando mais por seus bifes e hambúrgueres, bem como os pequenos agricultores, que têm tido dificuldades de permanecer lucrativos.

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O impulso para injetar concorrência no setor de frigoríficos é parte de um esforço mais amplo do governo Biden para desafiar as concentrações de poder nos negócios, em setores que vão de tecnologia a ferrovias e saúde. De acordo com o plano, o governo vai gastar US$ 1 bilhão para ajudar empresas independentes de processamento de carne a expandir suas operações e contratar mais trabalhadores

Ainda assim, vai demorar um pouco até que os fundos prometidos tenham algum impacto. Por um lado, como grande parte da economia dos Estados Unidos, a indústria da carne está lidando com uma escassez de trabalhadores, o que servirá de obstáculo para concorrentes menores expandirem seus negócios sem aumentar os salários.

“Há cerca de quatro a cinco milhões de pessoas ausentes do mercado de trabalho e trabalhar em um matadouro não é exatamente um emprego desejável ‘’, disse Rodrigo Almeida, analista do Banco Santander que acompanha frigoríficos. “Pode-se injetar muito dinheiro no setor, mas se não houver mão-de-obra, é difícil fazer esses planos funcionarem.”

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Também está em debate se a luta contra os monopólios é a melhor maneira de domar a inflação. O ex-secretário do Tesouro, Lawrence Summers, disse recentemente no Twitter que os esforços do governo poderiam ter o efeito oposto, desestimulando investimentos que poderiam aumentar a oferta. Uma abordagem melhor para manter os preços sob controle, sugere Summers, seria abrir o mercado à concorrência internacional.

Isso não quer dizer que o mercado de carne não precise de uma reformulação. Em 1977, as quatro maiores empresas frigoríficas de carne bovina controlavam apenas 25% do mercado, em comparação com 82% hoje. A participação de mercado das quatro grandes - JBS, Cargill, National Beef e Tyson - deu a elas um poder descomunal na fixação dos preços da carne bovina.

É um tanto paradoxal que os preços da carne bovina embalada tenham disparado, mesmo com a queda dos preços do gado. De fato, embora os grandes frigoríficos apontem para o custo crescente de tudo, desde mão de obra até caminhões, como os culpados pela carne mais cara, suas margens de lucro também aumentaram substancialmente. Em outras palavras, todos esses custos, e mais alguns, estão sendo repassados aos consumidores.

Isso sugere que canalizar dinheiro para produtores menores não ajudará por si só. Também é necessária uma postura mais firme por parte do governo quanto ao cumprimento da lei.

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Há sinais de que mais supervisão está a caminho. O governo Biden agora está trabalhando para emitir regras mais rígidas sob o Packers and Stockyards Act, uma lei criada para combater os abusos cometidos por frigoríficos e processadores. Em 2019, o R Calf USA, um grupo que representa os agricultores, processou os quatro grandes frigoríficos, acusando-os de fixação de preços, uma acusação que as empresas negam. O caso ainda está tramitando nos tribunais. Enquanto isso, o Departamento de Justiça está investigando as práticas da indústria desde 2020. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos também começou a publicar os preços que os processadores de carne bovina pagam.

Todos esses pequenos passos podem abalar os quatro grandes. Eles podem até desacelerar a alta nos preços da carne. Mas saiba que por algum tempo, os bifes e hambúrgueres continuarão com preços elevados.

David Wainer é colunista da Bloomberg Opinion que escreve sobre os negócios de entretenimento e telecomunicações. Ele cobriu mercados, saúde, economia e assuntos internacionais para a Bloomberg News.

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Os editoriais são escritos pela diretoria editorial da Bloomberg Opinion

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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