Bloomberg — Os candidatos ao Congresso estão começando a entrar no mundo das criptomoedas ao vender tokens não fungíveis para ajudar a financiar suas campanhas para as eleições de meio de mandato.
A democrata Shrina Kurani, engenheira que está concorrendo a um assento na Câmara da Califórnia, e o republicano Blake Masters, que disputa o Senado no Arizona, ofereceram NFTs como incentivos para doadores, com vários graus de sucesso.
No entanto, a entrada dos criptoativos na política ainda está no início. Foram poucos os candidatos que lucraram com sua ascensão, que inclui um ganho de 60% no valor do Bitcoin (BTC) em 2021 e uma obra de arte NFT vendida por US$ 69,3 milhões em um leilão da casa de leilões Christie’s.
Um NFT é “cunhado” com um certificado digital exclusivo de autenticidade usando a mesma tecnologia blockchain que cria o Bitcoin e outras criptomoedas. Contudo, deve ser mantido, vendido ou negociado como um ativo, em vez de usado como moeda, e custa dinheiro para ser produzido – assim como camisetas de campanha e outros brindes.
“Os NFTs são nossa fonte de recursos para campanha”, disse Kurani em entrevista.
Kurani, que afirmou ter sido a primeira a distribuir NFTs para doadores de campanha por meio de um mercado digital chamado SolSea, disse que está oferecendo NFTs para buscar o apoio de uma geração mais jovem, assim como o ex-presidente Donald Trump usou bonés com seu slogan “Make America Great Again” (“Devolvam a grandeza dos Estados Unidos”, em tradução livre) para arrecadar milhões de dólares de seus apoiadores.
Ela arrecadou apenas US$ 6.610 e distribuiu menos de uma dúzia de tokens quando a oferta acabou, no final de dezembro.
Quando falei sobre o desejo de lançar um NFT para minha campanha, ninguém entendeu. A maioria das pessoas no mundo político não tinha ideia do que eu estava falando ou apenas conhecia os criptoativos como algo relacionado a criminosos. Estamos repaginando os criptoativos.
Já Masters afirmou ter arrecadado quase US$ 575 mil no fim de dezembro ao prometer aos doadores tokens com a arte da capa de um livro sobre startups que escreveu com o bilionário do Vale do Silício e importante aliado de Trump, Peter Thiel.
Os consultores de arrecadação de fundos dizem que os criptoativos ainda estão longe de se tornar uma fonte regular de contribuições, e ainda há dúvidas sobre a facilidade com que as regulamentações de financiamento de campanha podem ser contornadas.
Desde que a Comissão Eleitoral Federal (FEC, na sigla em inglês) aprovou as contribuições em criptomoedas há quase oito anos, apenas alguns comitês de campanha receberam algum dinheiro por meio de moedas digitais, segundo sua análise de relatórios de divulgação que mencionam criptoativos compartilhada com a Bloomberg Government.
Esses comitês tinham cerca de US$ 1 milhão em transações de criptoativos durante um período em que milhares de comitês de campanha levantaram dezenas de bilhões de dólares.
A senadora Cynthia Lummis, grande entusiasta dos criptoativos no Congresso, pede contribuições para campanha por meio do Bitcoin e está pressionando pela criação de normas e diretrizes para o setor.
“A inovação financeira é uma coisa boa, inclusive na política”, disse Lummis em comunicado. “Os ativos digitais são seguros e fáceis de usar e, embora apenas alguns membros do Congresso atualmente aceitem doações de campanha de ativos digitais, sei que esse número vai aumentar. Estamos no início da revolução dos ativos digitais e espero que meus colegas senadores se juntem a mim na defesa da inovação financeira, porque será um fator-chave na liderança financeira global contínua dos EUA”.
Mistério
O veterano consultor democrata de arrecadação de fundos Mike Fraioli disse que não entende muito de criptoativos e não conhece nenhum candidato que esteja arrecadando muitos fundos com isso, embora muitos pareçam estar tentando.
“Ainda é um mistério para a maioria das pessoas”, disse.
Comitês de campanha e doadores tendem a desconfiar de novas tecnologias devido a regras rígidas de financiamento de campanha e outros fatores, de acordo com Fraioli e outros especialistas em arrecadação de fundos. As contribuições on-line por cartão de crédito a campanhas presidenciais foram aprovadas em 1999, mas não decolaram até que Barack Obama conseguiu arrecadar milhões de dólares on-line em sua campanha de 2008.
Os críticos levantaram preocupações de que as doações de criptomoedas poderiam facilmente evitar a divulgação do doador exigida pelas leis federais de financiamento de campanha. Os democratas da FEC disseram, em uma opinião consultiva de 2014, que as contribuições de campanha em Bitcoin deveriam ser limitadas a US$ 100 cada, semelhante ao limite legal para contribuições em dinheiro, porque são difíceis de rastrear. Os republicanos da FEC discordaram, e a normativa foi aprovada sem a estipulação do limite de US$ 100. De acordo com a decisão, os criptoativos devem obedecer aos requisitos e limites de divulgação de outras contribuições.
No entanto, mais comitês políticos estão tentando entrar na onda dos criptoativos. O deputado Tom Emmer, presidente do Comitê Nacional do Congresso Republicano, anunciou em junho que seria o primeiro comitê nacional do partido a aceitar contribuições em criptomoedas. Ele disse na ocasião que “esta tecnologia inovadora ajudará a fornecer aos republicanos os recursos de que precisamos para ter sucesso”.
O Comitê não quis comentar sobre o valor arrecadado por meio de contribuições em criptomoedas.
--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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