Bloomberg — A inflação na zona do euro acelerou além dos níveis já recordes, desafiando as expectativas de uma desaceleração e complicando a tarefa dos funcionários do Banco Central Europeu (BCE), que insistem que o aumento atual é temporário. O euro se fortaleceu.
Em dezembro, os preços ao consumidor saltaram 5% em relação ao ano anterior – mais rápido que o ganho de 4,9% do mês anterior e mais do que a estimativa mediana de 4,8% em uma pesquisa da Bloomberg com economistas. Uma medida que ignora componentes voláteis, como alimentos e energia, ficou em 2,6% – igualando a leitura de novembro.
Contudo, a confiança econômica na zona do euro caiu mais do que a previsão dos analistas em meio ao surgimento da variante ômicron.
Os dados de inflação desta sexta-feira (7) aumentam a pressão sobre o BCE pois as interrupções na cadeia de suprimentos e os crescentes custos de energia aumentaram os preços no período mais rápido desde que a moeda comum foi criada.
Embora a instituição sediada em Frankfurt tenha mapeado um recuo das medidas de estímulo da crise, um aperto mais agressivo da política monetária por outros grandes bancos centrais levou algumas autoridades a pedirem uma postura mais dura.
A presidente Christine Lagarde disse no mês passado que a inflação provavelmente permanecerá elevada no curto prazo, antes de desacelerar em 2022 e se estabilizar abaixo da meta de 2%. Ela também afirmou que um aumento nas taxas não seria a resposta correta ao atual surto de aumento dos preços, em parte porque seus efeitos só seriam sentidos mais tarde, quando as pressões já estivessem diminuindo.
Isso não impediu que os mercados apostassem em um aumento das taxas no final deste ano. O euro subia 0,1% em relação ao dólar nesta sexta-feira, chegando a US$ 1,1304.
Apesar da aceleração de dezembro, muitos consideram a inflação na zona do euro próxima ou exatamente em seu pico. O presidente do Banco da França, François Villeroy de Galhau, disse o mesmo após dados indicarem que os preços ao consumidor na segunda maior economia do bloco monetário se estabilizaram em dezembro.
Na Alemanha, a inflação desacelerou de seu nível mais alto em décadas no mês passado. Os rendimentos de títulos alemães de 10 anos não reagiram aos números da zona do euro de sexta-feira, permanecendo estáveis em menos 0,06%.
Em queda
“Apesar dos problemas à frente, o cenário é do fim da inflação nos próximos meses – a tendência de aumento começou no ano passado”, disse Nicola Nobile, economista-chefe da Oxford Economics, em relatório enviado por e-mail a clientes. “Graças ao alívio das pressões de energia e dos gargalos no abastecimento, projetamos que a inflação caia para 3,9% no primeiro trimestre e para uma média de 2,6% em todo o ano de 2022″.
No entanto, a energia ainda é uma dor de cabeça. Os preços do gás natural subiram novamente esta semana depois que a Rússia restringiu as entregas para a Europa Ocidental, ameaçando restringir para consumidores e forçar as empresas de setores dependentes de energia a reduzir a produção. O ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, classificou os crescentes custos de energia como uma “emergência absoluta”.
A ômicron também afeta as perspectivas; analistas não sabem ao certo se a perturbação que ela causa provocará a inflação ou terá o efeito oposto ao conter a recuperação econômica.
O relatório de sentimento do cidadão da Comissão Europeia nesta sexta-feira mostrou temores de que a pandemia prejudique a confiança entre os consumidores e os setores de varejo e serviços.
A incerteza levou as autoridades do BCE a exigir flexibilidade em sua abordagem à inflação. O membro do Conselho do BCE, Martins Kazaks, disse esta semana em uma entrevista que as autoridades agirão se as perspectivas para os preços se recuperarem.
--Com a colaboração de Harumi Ichikura, Kristian Siedenburg, James Hirai e William Horobin.
--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, Localization Specialist da Bloomberg Línea.
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