Testes de clínicas privadas mostram avanço da ômicron no Brasil

Pra especialistas, há um surto silencioso da variante acontecendo no país

Problemas no sistema oficial de contagem do governo dificultam leitura da pandemia no país
Por Caroline Aragaki - Rachel Gamarski
06 de Janeiro, 2022 | 03:19 PM

Bloomberg — A Ômicron, variante altamente contagiosa da covid-19, está causando um aumento acentuado de casos no Brasil após uma longa trégua, apesar de os dados oficiais não refletirem o número de vítimas da nova onda.

Empresas privadas de diagnóstico como o Grupo Fleury e a Diagnosticos da América viram as taxas de positividade dispararem e menos de 5% apenas um mês atrás para 40% em janeiro. A demanda por exames está aumentando e os pronto-socorros de cidades como São Paulo e Brasília estão lotados de pessoas relatando sintomas semelhantes aos da gripe. No Rio de Janeiro, as infecções diárias aumentaram para 1.200 em 1º de janeiro, ante 90 no mês anterior.

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Na quarta-feira (5), o Brasil registrou 27.267 novos casos, o maior número diário em cerca de três meses. Embora seja uma fração dos mais de 100.000 registrados no pico da pandemia em meados de 2021, os números reais são provavelmente muito maiores, de acordo com especialistas em saúde. Isso porque o sistema utilizado por estados, municípios e laboratórios privados para relatar casos ao governo federal está praticamente inativo após um ciberataque em dezembro.

“Há uma pandemia silenciosa de ômicron no Brasil”, disse Pedro Hallal, epidemiologista e professor da Universidade Federal de Pelotas. “Não há evidências oficiais ou estatísticas suficientes para mostrar o quanto o número de pessoas infectadas está crescendo.”

Embora as hospitalizações tenham aumentado no Brasil nas últimas semanas, não houve uma enxurrada de pacientes procurando unidades de terapia intensiva até meados de 2021, antes que as vacinas se tornassem amplamente disponíveis. A Argentina ao sul está registrando uma contagem recorde de casos diários, mas sem um salto correspondente em hospitalizações ou mortes, repetindo um padrão documentado em outros países como África do Sul e Dinamarca.

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Após as comemorações do final do ano, as infecções devem continuar a aumentar. Um surto em navios de cruzeiro, com cerca de 800 casos registrados apenas entre o Natal e o Ano Novo, já levou a vigilância sanitária do país a pedir às empresas que parassem de operar. Destinos turísticos no litoral da Bahia e do Piauí estão entre os que relataram um aumento significativo de infecções após as férias.

Em resposta a perguntas por e-mail, o Ministério da Saúde afirmou que o ataque cibernético tornou indisponíveis alguns de seus dados sobre doenças respiratórias e Covid e que está trabalhando incansavelmente para resolver os problemas. Ainda assim, não há um cronograma para o backup completo dos sistemas.

Há 12 dias, pelo menos quatro estados brasileiros não atualizam os dados do coronavírus, alegando dificuldades de acesso aos sistemas do Ministério da Saúde. O Tocantins, na região Norte, não é atualizado há 22 dias.

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“O fato de não termos acesso a dados formais há tanto tempo sem uma explicação clara do que está acontecendo está afetando qualquer tipo de análise que possamos fazer”, disse Marcelo Gomes, que supervisiona um boletim de doenças respiratórias publicado pela Oswaldo Fundação Cruz, um dos institutos de ciência e saúde mais importantes da América Latina. “Está tendo um impacto muito grande na capacidade da população de agir contra a pandemia”.

As empresas privadas estão lançando alguma luz sobre a última onda. Na Diagnostics da America, um dos maiores provedores de diagnósticos do país, as taxas de positividade mais do que dobraram entre 27 de dezembro e 2 de janeiro, com quase um em cada três testes positivos. No início de dezembro, esse número era de apenas 1,4%. No Fleury, outro grande player do setor privado de saúde no Brasil, até 40% dos exames são positivos, mesmo número que o laboratório viu no momento mais complicado da pandemia, no ano passado.

“Estamos tentando cumprir os requisitos de notificação, mas o sistema que o governo implantou no ano passado não funciona desde o início de dezembro”, disse Carolina Lazari, especialista em doenças infecciosas do Fleury.

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Especialistas em saúde dizem que a escassez de dados é grave, mas está longe de ser o único desafio para acompanhar a pandemia na maior nação da América Latina. Domingos Alves, médico acadêmico que faz parte do grupo de monitoramento covid-19 do Brasil, estima que o país não registra entre 6% e 10% dos casos. Apenas 30% da população tem acesso a testes, de acordo com o virologista Anderson F. Brito.

--Com a colaboração de Martha Viotti Beck.

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