Por Gino Matos para Mercado Bitcoin
São Paulo — As criptomoedas se tornaram, em 2021, um segmento do mercado financeiro difícil de ignorar. Dados coletados pela empresa americana de dados financeiros PitchBook Data Inc. apontam que fundos de investimento alocaram US$ 30 bilhões em empresas do meio cripto, no ano passado, montante maior que o somatório investido por esses fundos entre 2012 e 2020.
O volume de criptomoedas negociado também bateu recorde, tanto em plataformas descentralizadas quanto nas centralizadas. Ao todo, mais de US$ 15 trilhões foram movimentados, valor superior ao Produto Interno Bruto da China, segunda maior economia do mundo.
Com mais investidores aplicando em cripto, a tendência é buscar nichos que se destacam para destinar capital. Especialistas desse segmento falam sobre quais setores de criptoativos deverão ser destaque em 2022.
Metaverso
Grandes gestores globais do universo cripto estimam que o metaverso poderá se tornar um mercado de US$ 1 trilhão nos próximos anos. Para isso, os NFTs e a tecnologia blockchain são fundamentais, pois transportam a ideia de propriedade da vida real para o mundo virtual, afirma Yulgan Lira, CEO da Colb, empresa com sede na Suíça e focada na tokenização de ativos financeiros.
Para Bruno Milanello, executivo de novos negócios do Mercado Bitcoin, maior plataforma para negociação de ativos digitais da América Latina, a restrição de livre circulação das pessoas devido à pandemia fortaleceu a ideia de um universo virtual que simula a vida real.
“As criptomoedas tiveram suas teses validadas pela restrição social, e a abundante liquidez monetária permitiu que os ativos registrassem um salto relevante desde março de 2020″, diz Milanello. “O que faltava era algum meio ou ambiente onde todos se comunicassem e interagissem de forma virtual e, ao mesmo tempo, segura. Os metaversos são a resposta para isso.” Nesse cenário, tendem a manter-se relevantes em 2022, assim como os criptoativos relacionados a eles.
Jogos em blockchain
A tecnologia blockchain deu novo sentido ao ramo dos jogos ao viabilizar o modelo play to earn, ou jogue para ganhar. Nesse modelo, jogadores recebem recompensas na forma de tokens que, geralmente, têm valor no mundo real. Além disso, o uso de NFTs assegura que as conquistas conseguidas nesses jogos sejam mantidas para sempre em blockchain, não dependendo da desenvolvedora para serem utilizados.
Gabriel Boni é uma das pessoas que têm participado ativamente desse mercado. Boni é country manager da Yield Guild Games (YGG), grupo focado em apoiar o desenvolvimento de jogos play to earn baseados em NFT.
“Identifico que mais empresas de jogos do mainstream entrarão neste ano, fazendo com que produtos cada vez mais elaborados sejam desenvolvidos. Isso permitirá que um maior número de pessoas interajam com o mercado de criptomoedas e blockchain justamente por meio dos games. Com esse movimento, acredito que o setor de jogos em blockchain crescerá de cinco a dez vezes em 2022″, diz.
Boni avalia que a tendência para este ano será a criação de jogos para dispositivos mobile, como celulares, ainda envolvendo um ecossistema de tokens.
Fan tokens
Os fan tokens se tornaram populares em 2021, especialmente no Brasil, onde clubes de futebol levantaram mais de R$ 40 milhões por meio da venda desses criptoativos. Enquanto isso, os maiores times de futebol da Europa arrecadaram cerca de US$ 350 milhões com a comercialização de tokens, aponta a BBC.
Os fan tokens são uma forma que o torcedor tem de interagir com seu time do coração, ganhando em troca acesso a conteúdos exclusivos. Paco Roche, chefe de relações públicas da Socios.com, empresa responsável pela emissão de fan tokens de times como Flamengo, Corinthians, São Paulo e Atlético Mineiro, diz que esse segmento seguirá crescendo em 2022.
“Esse mercado está apenas na superfície em relação aos casos de uso desses tokens e na disseminação para outros esportes”, afirma Roche. “O próximo passo, no qual já estamos trabalhando, é a adoção em massa. Para isso, focaremos não só na indústria dos esportes, mas também buscaremos parceiros nos campos cinematográfico e fonográfico.”
Contratos inteligentes
Os contratos inteligentes se tornaram fundamentais para as criptomoedas, especialmente no ramo de finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês). Dois dos tokens que mais valorizaram em 2021, MATIC e LUNA, estão relacionados a DeFi e contratos inteligentes.
Guilherme Guimarães, cofundador da plataforma Pods Finance, explica que a importância dos contratos inteligentes decorre da capacidade de permitir a transferência de valores em blockchain, sendo também responsáveis por reger essas transferências. “Isso permite recriar produtos financeiros, tokenizar ativos do mundo real e até mesmo negociar terrenos no metaverso, por exemplo”, completa Guimarães.
Novas aplicações e produtos experimentais serão criados via contratos inteligentes no mercado cripto em 2022, na visão de Guimarães, bem como serão replicadas mais estruturas comuns do segmento financeiro tradicional.
Parachains
As parachains são conceitos da blockchain Polkadot que, na prática, são um conceito novo para o investidor de criptomoedas. De forma simplificada, parachains são redes adjacentes que se conectam à blockchain principal da Polkadot, processando parte das informações movimentadas por elas. A blockchain principal, no entanto, continua responsável pela sua integridade e a das parachains.
Além de aliviar o esforço da rede principal, a autonomia dessas redes secundárias permite que a Polkadot se conecte a outros protocolos, como Ethereum e Polygon. Isso torna as parachains fundamentais para o ecossistema DeFi da Polkadot. Contudo, existem apenas 100 ‘vagas’ para que essas parachains sejam preenchidas por aplicações.
Por isso, leilões extensos começaram a ser realizados recentemente e devem continuar ao longo do ano, a fim de avaliar qual o projeto que deve ocupar uma dessas vagas. Em razão dessa limitação, a escassez e a aplicabilidade podem criar um potencial de valorização para os tokens nativos dessas aplicações.
O empresário e investidor cofundador do Portal DeFi, que prefere ser conhecido apenas como Luis, diz que os tokens das parachains são diretamente vinculados ao crescimento dessas redes. “No caso de uma parachain dedicada a metaversos, todas as aplicações construídas nela serão regidas pelo token da parachain, podendo ter diversas utilidades conforme o ecossistema é desenvolvido.”