Regulamentação é urgente no ‘insano’ mercado de carbono

Em meio a expectativas de que esse mercado chegará a US$ 180 bilhões até o final da década, o oportunismo predomina

Conforme a ONU, a temperatura do planeta vai subir 2,7°C até 2100 na ausência de metas mais contundentes de redução das emissões
Por Frances Schwartzkopff
06 de Janeiro, 2022 | 01:15 PM

Bloomberg — Quando o banco sueco SEB anunciou a intenção de investir no mercado de créditos de carbono, se deparou com uma série de projetos insatisfatórios.

Segundo o diretor de sustentabilidade do SEB, Hans Beyer, as cerca de 150 propostas que recebeu no ano passado em sua maioria não tinham retaguarda de qualquer órgão reconhecido que validasse as promessas dos projetos de que estariam removendo permanentemente dióxido de carbono da atmosfera. Algumas propostas eram fundamentadas na promessa de não fazer nada a não ser evitar a emissão de CO2 no futuro.

A compra e venda de créditos de compensação das emissões de empresas é um dos pilares do esforço para conter o aquecimento global. Essa prática agora é impulsionada por um acordo celebrado durante a COP26 em Glasgow no ano passado, voltado para a criação de um mecanismo internacional para esse mercado. No entanto, a regulamentação de projetos que recebem esses créditos ainda está em fase inicial. E em meio a expectativas de que esse mercado chegará a US$ 180 bilhões até o final da década, o oportunismo predomina.

“As soluções com base no conceito de ‘não vou poluir e, portanto, devo ser pago’ são provavelmente as piores”, disse Beyer. “Este será um mercado insano, completamente insano, até ser regulamentado.”

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Em um relatório divulgado em outubro, a Organização das Nações Unidas alertou que, na ausência de metas mais contundentes de redução das emissões, a temperatura do planeta vai subir 2,7°C até 2100, com consequências catastróficas. O quadro aumentou a urgência das empresas de anunciar que serão “net zero”, ou seja, farão emissões líquidas nulas de carbono em questão de décadas. Bancos globais com um balanço patrimonial somado de US$ 130 trilhões estão entrando em peso nessas oportunidades.

Na COP26, os líderes globais entraram em acordo acerca dos princípios gerais para projetos que geram créditos de carbono, que incluem iniciativas diversas como reflorestamento, energia renovável e medidas para ajudar famílias a alcançar maior eficiência energética. Segundo as atuais diretrizes, projetos que geram créditos a partir da retirada de carbono da atmosfera precisam funcionar no longo prazo e não causar poluição em outros lugares. A COP26 também concordou com a criação de um registro para monitorar os créditos e a utilização dos recursos que geram.

Porém, a situação atual é que o segmento é coberto por uma colcha de retalhos de padrões voluntários do setor privado que ficam muito aquém de uma supervisão global conjunta. O ceticismo em relação às promessas dos projetos está aumentando e apenas uma fração deles realmente remove CO2 do ar.

“Precisamos de regulamentação”, disse Alberto Carrillo Pineda, fundador da Science Based Targets, que é um programa voluntário de revisão de planos que almejam zero emissões até 2050.

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Os padrões estabelecidos pelo programa, um dos mais respeitados do meio, limitam o uso de créditos pelas empresas para compensar apenas as chamadas emissões residuais (que restam após cortes reais nas operações).

A demanda por compensações está crescendo à medida que as empresas se apressam para divulgar compromissos “net zero” — garantindo que irão eliminar as emissões em suas atividades ou equilibrá-las com uma quantidade equivalente de remoção de gases causadores do efeito estufa. Para Pineda, investidores e consumidores cada vez mais decidem onde colocar seu dinheiro com base nesses planos, mas ainda há poucas formas de exigir que as empresas se responsabilizem pelas promessas que fazem. O foco regulatório está em “risco e divulgação”, não em “ambição e desempenho”.

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