Bloomberg Opinion — Nos Estados Unidos, as crianças em idade escolar sofreram danos terríveis durante a pandemia – as mais afetadas foram as crianças pobres das comunidades negra e latina. Dados de todo o país tornam esse fato dolorosamente claro. E infelizmente, a situação está prestes a piorar.
A decisão dos professores de Chicago de abandonar seus alunos e se recusar a voltar para as salas de aula na quarta-feira (5) é uma abdicação perturbadora do dever que deveria ser recebida com indignação pública – e oposição nacional à sua disseminação.
A prefeita de Chicago, Lori Lightfoot, e o CEO das Escolas Públicas de Chicago, Pedro Martinez, corretamente insistiram que as escolas reabrissem para aulas presenciais após um recesso de duas semanas. Professores e alunos têm muito a fazer, como em todo o país.
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O ensino remoto foi um fracasso colossal para os alunos mais vulneráveis dos EUA. Em Chicago, menos de um em cada cinco alunos do terceiro ano atingiu os padrões estaduais de matemática e leitura no ano passado. Em outras palavras: mais de 80% dos alunos não estão conseguindo alcançar proficiência básica nas duas habilidades mais importantes que determinam sua trajetória de vida e sucesso profissional.
Antes da pandemia, a pontuação era baixa, mas, mesmo assim, o patamar era o dobro: cerca de 40% dos alunos atingiram os padrões de leitura e cerca de 33% ficaram na média para matemática.
Como as pontuações passaram de muito ruins a intoleráveis, a maioria dos 330 mil alunos da cidade – dos quais 83% são negros ou latinos – correm o risco de ficar no limbo. Nesse ritmo, é uma dura e vergonhosa verdade que esses alunos estão no rumo do fracasso – nunca terão as habilidades de que precisam para obter empregos ou carreiras profissionais. É claro, o resultado é uma perpetuação da pobreza intergeracional.
Nós não gostamos de falar isso em voz alta. No entanto, décadas de experiência mostram que é verdade. Para começar a mudar isso, precisamos dizer em alto e bom som – como democratas, republicanos e independentes – que os professores são trabalhadores essenciais, que precisamos deles fisicamente nas salas de aula e que não apoiaremos as paralisações.
Ao mesmo tempo, devemos parar de usar a frase “ensino remoto”. “Estagnação remota” é um termo mais correto, como os pais bem sabem. Eles estão furiosos – e com razão – porque as escolas deixaram seus filhos à deriva virtual.
Infelizmente, não é só em Chicago que os professores estão abandonando as salas. Os sindicatos de outras cidades também pressionaram (com sucesso) as escolas a voltarem para as aulas virtuais. Parece cada vez mais que os sindicatos enxergam as aulas presenciais como opcionais na função de um professor – e muitos democratas eleitos estão aceitando essa visão.
Obviamente, os professores não devem trabalhar se estiverem doentes ou tiverem testado positivo para covid. Eles merecem ter acesso a máscaras de qualidade e proteção individual. Lightfoot já comentou que a cidade de Chicago gastou mais de US$ 100 milhões para minimizar a disseminação do vírus nas escolas. Muitos outros distritos escolares também aumentaram os investimentos em segurança nas escolas.
Os dois anos de dados que temos mostram que a transmissão nas escolas está em patamares baixos. Embora a variante ômicron ameace isso, as melhores evidências indicam que a vacina é altamente eficaz em prevenir casos graves da doença, e os professores de todo o país apresentam altas taxas de adesão à vacina.
É bom ver Lightfoot e outros prefeitos – como Eric Adams, de Nova York – fazendo o que é certo para alunos e insistindo no ensino presencial. Essa é uma mudança bem-vinda em relação ao ano anterior. À medida que os sindicatos pressionam, os prefeitos devem manter-se firmes – e devemos dar todo o nosso apoio.
Ao mesmo tempo, a pandemia deixou claro que o sistema de educação pública dos Estados Unidos está fundamentalmente falido. O objetivo não é “voltar ao normal” – não quando o “normal” é o fracasso escolar, principalmente para a grande maioria das crianças negras e latinas dos EUA. Devemos almejar muito mais alto, e isso exige muito mais ousadia.
No mês passado, anunciei uma iniciativa de US$ 750 milhões para criar 150 mil vagas em escolas ao abrir e ampliar as escolas públicas autônomas de alta qualidade. As escolas públicas autônomas dão muito mais autonomia aos diretores e professores em troca de uma responsabilidade muito maior – e proporcionam aos alunos e pais uma alternativa para as escolas tradicionais em declínio em suas comunidades.
Todas as crianças merecem frequentar uma escola de primeira classe, independentemente da sua raça, etnia ou renda familiar. E todas as crianças merecem ter professores à frente das suas salas de aula que lhes exijam excelência e os ajudem a concretizar o seu potencial.
Todos sabemos a diferença que ótimos professores fazem nas vidas dos jovens – eu bem sei. Há muitos ótimos professores nas escolas públicas dos EUA. Eles merecem um sistema que os apoie e que exija tanto quanto eles oferecem a seus alunos todos os dias.
Os alunos de Chicago precisam de seus professores. E as crianças dos EUA precisam de mais escolas que nunca desistam delas.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Michael R. Bloomberg é fundador e proprietário majoritário da Bloomberg LP, controladora da Bloomberg News, e enviado especial da ONU para Ambições e Soluções Climáticas.
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