Pacientes com ômicron enchem hospitais dos EUA

Pode ser que o pico atingido no inverno de 2020 seja ultrapassado nos próximos dias

Chegam aos hospitais norte-americanos
Por Carey Goldberg - Jonathan Levin
06 de Janeiro, 2022 | 04:02 PM

Bloomberg — Embora a variante ômicron tenda a ser mais branda, está se espalhando tão explosivamente pelos Estados Unidos, que muitos hospitais esperam que ela rivalize ou supere os recordes anteriores de internação de pacientes por Covid.

Os hospitais estão se preparando para um aumento contínuo na demanda por leitos relacionados à Covid para o mês que vem, de acordo com modelos de várias instalações em todo o país.

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No Yale New Haven Hospital, em Connecticut, “nosso pico de todos os tempos foi de 451 pacientes com Covid, em abril de 2020″, disse Robert Fogerty, que supervisiona o gerenciamento de capacidade do hospital de 1541 leitos. “Acho que vamos ultrapassar isso na próxima semana.”

A boa notícia, segundo ele e outros especialistas em dados hospitalares, é que, em comparação com as ondas anteriores, a ômicron está levando muito menos pessoas para as unidades de terapia intensiva, especialmente em regiões onde as taxas de vacinação são altas.

A crescente demanda por leitos fez com que as autoridades de saúde intensificassem algumas medidas de proteção, incluindo encorajar as pessoas a tomar a dose de reforço da vacina e usar máscaras de alta qualidade, embora as infecções por ômicron pareçam causar sintomas mais brandos do que as cepas anteriores.

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“Vai ser um inverno difícil, e o período de ocupação máxima parece que está prestes a se desenrolar nas próximas semanas”, disse o especialista em doenças infecciosas da Harvard Medical School, Jacob Lemieux. “Portanto, se as pessoas puderem ficar em casa o máximo possível, isso seria um serviço à sociedade.”

A onda ômicron tende a baixar rapidamente, pelo menos é o que já se tem visto em alguns países, mas quão íngreme será sua trajetória para cima e para baixo nos EUA permanece uma questão em aberto. Uma projeção do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington mostra a necessidade de recursos hospitalares chegando ao pico nacional em meados de fevereiro.

O Cedars-Sinai, em Los Angeles, também projeta que o número de pacientes com Covid em seus hospitais continuará a aumentar até meados de fevereiro. Em São Francisco, o Diretor de Saúde, Grant Colfax, disse esta semana em um briefing que acredita que “o auge do aumento é agora” e que espera que as internações atinjam aproximadamente o mesmo nível do inverno passado.

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“Por enquanto, temos leitos hospitalares suficientes para gerenciar esse volume, o que é uma boa notícia”, disse Colfax. “No entanto, outra preocupação é a equipe do hospital ser infectada devido à disseminação comunitária e isso acabar os obrigando a ficar em casa.”

Cirurgias limitadas

No Texas, a modelagem feita pelo Houston Methodist Hospital prevê que os casos em Houston atingirão o pico no final do mês e a carga de pacientes com Covid poderá aumentar, dos atuais 680 para um recorde de 850.

Lá, também, a doença entre membros da equipe aumenta a tensão: quase 10% dos 28.000 funcionários do sistema de saúde testaram positivo durante a onda ômicron, de acordo com Roberta Schwartz, vice-presidente executiva do hospital.

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“Reduzimos muitas cirurgias”, disse Schwartz. “Temos alguns leitos fechados e não conseguimos aceitar o mesmo número de transferências que normalmente fazemos.”

Um número significativo de pessoas hospitalizadas com Covid foram admitidas por outros motivos, de acordo com funcionários de vários hospitais. Embora menos severa, a ômicron ainda consome recursos enquanto a equipe trabalha para proteger a si mesma e a outros pacientes. Em Miami, que tem tido um dos maiores números de casos no país, por exemplo, o Jackson Health System informou na quarta-feira (5) que 235 de seus atuais 468 pacientes com Covid-19 estavam lá “principalmente por motivos não relacionados à Covid”.

Na University of Michigan Health, os números de internações por Covid começaram a disparar na semana passada e podem aumentar mais de 50%, para 150 nas próximas semanas, disse Vikas Parekh, que lidera a modelagem Covid do sistema.

Embora alguns vejam uma dissociação entre as taxas de casos e as taxas de hospitalização, ele afirmou que elas permanecem vinculadas, embora a proporção tenha mudado: “Costumava ser assim: 6,5% dos casos nacionalmente terminavam em uma nova internação hospitalar”, disse ele, “e agora é 3,3% - não está desassociado, é apenas menos do que delta.”

Mas o grande número de casos significa “que mesmo com taxas de hospitalização mais baixas, há lugares que batem recordes”, disse ele.

Em Boston, dois grandes hospitais, o Beth Israel Deaconess Medical Center e o Massachusetts General Hospital, projetam que sua carga de pacientes com Covid poderá atingir o pico que foi registrado no inverno passado nas próximas semanas.

“Isso é um desafio a todos nós na área da saúde de uma forma que nunca vimos antes”, disse Jennifer Stevens, que lidera a modelagem para o Beth Israel Deaconess Medical Center.

Do lado positivo, as altas taxas de vacinação na região metropolitana de Boston se traduzem em doenças menos agudas quando as pessoas adoecem, disse Peter Dunn, que gerencia a capacidade dos pacientes em Massachusetts e ajuda a supervisionar a capacidade do hospital para atender casos de Covid em toda a região.

No primeiro surto da pandemia, o Mass General tinha 14 pacientes cuja condição era tão terrível que precisavam de máquinas para dar suporte a seus corações e pulmões. “Agora temos zero” pacientes nesse estado, disse Dunn.

Na terça-feira (4), o Mass General tinha 183 pacientes com Covid, com 32 em terapia intensiva e apenas 22 deles por causa da Covid, relatou Dunn. Os outros tinham Covid, mas estavam internados por outros motivos. No pico da primeira onda, o hospital tinha cerca de 400 pacientes com Covid.

“Esta onda não é como a primeira ou a segunda ondas”, disse ele. “É completamente diferente.”

-- Com colaboração de Shelly Hagan e David R. Baker.

-- Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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