Por que a XP comprou uma fatia relevante da Suno

Operação é o desfecho de seis meses de negociação e é mais um capítulo da disputa entre XP e BTG pelo bilionário negócio dos CPFs na bolsa

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São Paulo — Em mais um lance da disputa pelo bilionário mercado de pessoas físicas na bolsa brasileira, a XP fechou a compra de de uma fatia minoritária relevante do Grupo Suno, que mantém casa de análises de ativos, uma gestora de recursos e o site de dados financeiros Status Invest.

O negócio, cujo valor não foi divulgado, foi fechado nesta terça (3), após seis meses de negociação. Tiago Reis, fundador da Suno, continua como o principal acionista da empresa.

A Bloomberg Línea apurou que a XP comprou as cotas de dois sócios minoritários, que detinham cerca de 35% da empresa, segundo dados públicos da Junta Comercial de São Paulo, e também deve fazer injeção de capital para o crescimento estratégico da Suno.

Pelo acordo, a XP indicará membros do board e participará de decisões estratégicas, mas não nas decisões do dia-a-dia nem influirá nas decisões da research e da gestora de recursos.

“A Suno é uma empresa com uma reputação muito bem construída como casa de análise e gestora e o negócio faz sentido porque estamos focados na experiência do investidor. A Suno vai continuar 100% independente. A XP fará parte do conselho na parte mais estratégica, de crescimento e futuras aquisições, por exemplo”, explicou o sócio e diretor-executivo da XP, Karel Luketic, à Bloomberg Línea.

“Foi uma negociação de seis meses e a questão da independência da análise sempre foi uma questão central, antes mesmo do início das conversas. Mas a Suno, como gestora, já tem alguns produtos com bom boa relação risco-retorno e agora, com a XP, adiciona muito em termos de distribuição”, disse Tiago Reis.

Criada em 2017, a Suno tem cerca de 280 funcionários, que atuam na área de análise de ativos e na gestão de investimentos. Ao todo, a empresa tem mais de 150 mil clientes pagantes em suas plataformas, audiência estimada em 12 milhões de pessoas em diferentes sites e 6 milhões de seguidores em redes sociais. Reis, principal rosto da Suno no mercado, tem 1,6 milhão de seguidores no Instagram.

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POR QUE ISSO É IMPORTANTE: O negócio com a Suno pode ser visto como parte de um movimento maior no mercado de capitais no país, que é disputa da XP e com o BTG por fatias do bolo de quase 4 milhões de CPFs, que mantêm R$ 450 bilhões em investimentos de renda variável no país.

Em maio de 2021, o BTG anunciou a aquisição da casa de análises Empiricus e da gestora Vitreo (e de outras empresas que fazem parte do grupo, como Money Times e Seu Dinheiro) por R$ 690 milhões. A XP agora adquiriu parte da Suno.

A XP, que tem 3,3 milhões de clientes no Brasil, enxergou sinergias na base de 150 mil assinantes ativos da Suno com os usuários de sua plataforma de negociação de ativos, além de posicionamento forte no ranking de buscas do Google e em redes sociais.

“É a união da maior empresa brasileira de investimentos com a maior autoridade independente sobre finanças no mundo digital do Brasil, com o objetivo de empoderar e facilitar a tomada de decisão do investidor em todas as frentes”, disse Karel Luketic, na nota enviada à imprensa pela XP.

CONTEXTO: Empiricus e Suno são empresas que surgiram como casas de análise (”research”, no jargão do mercado), alcançaram imensas bases de seguidores em redes sociais e ocuparam um espaço no mercado vendendo relatórios de recomendações de investimentos, em termos simples, para investidores individuais. As duas ganharam escala com o boom dos CPFs na bolsa e depois diversificaram com a criação de gestoras de investimentos: a Empiricus criou a Vitreo e a Suno lançou a Suno Asset no ano passado.

Similaridades acabam aí: para se firmarem no mercado, as duas adotaram estratégias de marketing muito diferentes, com a Empiricus sendo muito mais agressiva ao focar em ganhos rápidos (episódio marcante foi o famoso vídeo da Bettina), enquanto a Suno defende uma abordagem de value investing (investimento focado em valor intrínseco de empresas, com foco em longo prazo).

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Há diferenças também no modelo de entrada dos grandes investidores: o BTG comprou a Empiricus inteira, numa operação de aquisição com cláusulas de earn-out (parte do valor anunciado será pago aos sócios nos próximos anos, dependendo do atendimento de algumas cláusulas de desempenho e condições precedentes).

A XP comprou uma participação minoritária relevante, mas não a Suno inteira, que permanece com Reis como principal acionista.

Com a entrada da XP, a Suno passará por uma reorganização societária com foco em manter e atrair talentos para a empresa. Segundo Tiago Reis, quase duas dezenas de executivos da Suno poderão se tornar sócios da empresa através de uma nova pessoa jurídica que deterá parte das cotas do grupo.

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