Por Gino Matos para Mercado Bitcoin
São Paulo — A indústria da saúde é a que deverá apresentar, em todo o mundo, o maior crescimento na geração de dados até 2025, aponta estudo da empresa americana de inteligência de mercado International Data Corporation, divulgado em 2021. Para ser suportado, esse aumento exigirá o apoio da tecnologia e da inovação para a gestão das informações.
Um exemplo da necessidade de uma gestão adequada é o prontuário eletrônico dos pacientes, com um histórico completo dos atendimentos e tratamentos, capaz de auxiliar médicos no diagnóstico de doenças. O tema, classificado como cuidados personalizados, baseados em dados, foi discutido durante o Fórum Econômico Mundial (FEM), no ano passado, com destaque para o setor de saúde na América Latina.
Segundo o FEM, a América Latina, em média, apresenta bons números quanto à personalização do atendimento médico. O Brasil, contudo, registra a segunda pior performance nesse quesito entre dez países da região. Ashmita Thapa, analista de operações da Patientory, empresa americana especializada no registro de informações médicas em blockchain, diz que a tecnologia pode ajudar o setor médico na administração de informações em todo o mundo.
Ela explica que os cuidados personalizados de saúde incluem um sistema de prontuários eletrônicos criados com uso de dispositivos e aplicativos. “A centralização dos dados médicos é um problema crônico da indústria da saúde, dificultando seu compartilhamento. A falta de acesso, interoperabilidade e personalização resulta em aumento de doenças crônicas, vazamento de dados, custos maiores e insatisfação quanto à qualidade dos atendimentos”, diz.
O paciente é o centro do sistema de saúde, devendo os métodos de gestão de seus dados refletir isso, diz Ashmita. Ao criar uma rede imutável, segura e transparente, a blockchain democratiza e agiliza o compartilhamento, na visão do analista.
Sigilo
A transparência das informações clínicas pode gerar discussões quanto à privacidade do paciente. Ashmita, no entanto, explica que o acesso ao que foi registrado em blockchain deve ter a autorização do paciente.
“As pessoas são detentoras de seus dados pessoais, controlando quem poderá ver seus registros médicos”, diz. Nesse ecossistema, os “silos de informação” dentro de hospitais e demais prestadores de serviços da medicina serão integrados em uma mesma rede, criando uma interoperabilidade entre instituições, completa.
Como exemplo, Ashmita cita o caso das alergias. Um paciente com determinado tipo de alergia terá esse problema registrado na rede, conta. Essa informação, acessada pelo médico na blockchain, será útil em um futuro atendimento na medida em que servirá de indicativo quanto à restrição de uso de determinados medicamentos.
Ashmita diz que até mesmo os dados coletados via dispositivos wearables, como smartwatches, e aplicativos em celulares podem ser úteis ao paciente, sendo facilmente coletados.
O acesso simples pode incluir variáveis sociais e econômicas dos doentes, algo que, na visão de Ashmita, poderia facilitar os estudos médicos em regiões específicas.
Saúde na América Latina
Em relação à América Latina, dos dez países da região listados no Índice de Saúde Personalizado, criado pela companhia suíça de produtos farmacêuticos Roche para medir a modernização do setor da saúde, apenas quatro registram mais da metade dos pontos (ver tabela abaixo).
A predominância de marcações em amarelo nas métricas de informações médicas e tecnologias personalizadas, que significam um desempenho razoável, aponta para um problema no tratamento de dados na região.
Ashmita novamente destaca que a tecnologia blockchain é uma das principais formas de reduzir os problemas envolvendo registros médicos incompletos, ambíguos ou conflitantes.