Qual é o plano de Biden que derrubou as ações da JBS e Marfrig

Empresas não comentam mas, nos bastidores, sentimento é medidas não irão mudar em nada o preços nem a concentração do setor

Joe Biden vai aplicar US$ 1 bilhão para controlar preço da carne e reduzir concentração no setor frigorífico
03 de Janeiro, 2022 | 06:23 PM

Bloomberg Línea — As ações dos frigoríficos brasileiros não começaram o ano bem. Os papéis da JBS, Marfrig e Minerva terminaram o primeiro pregão de 2022 em queda, influenciados pelo plano do presidente americano Joe Biden para tentar conter a alta dos preços das carnes e criar um ambiente mais competitivo para o setor. Marfrig e JBS têm nos Estados Unidos a maior parte de suas receitas e operações e, por isso, suas ações fecharam o pregão de hoje em queda de 3,31% e 4,19%, respectivamente. Apesar de a Minerva não ter operações no mercado americano acabou sendo contaminado pelo setor.

Resumidamente, a Casa Branca quer injetar US$ 1 bilhão para reduzir a concentração do setor. Atualmente, Cargill, Tyson, JBS e National Beef (Marfrig) são responsáveis por 85% da produção de carne bovina dos Estados Unidos. O TOP 4 controla ainda 54% do mercado de aves e 70% do mercado de carne suína.

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Diante desse quadro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) vai destinar US$ 350 milhões para projetos independentes de frigoríficos. Desse total, US$ 150 milhões serão aplicados para financiar o início de 15 projetos de indústrias no curto prazo. Até o próximo verão americano, outros US$ 225 milhões serão direcionados a projetos adicionais.

O plano prevê ainda US$ 275 milhões em linhas de crédito para os frigoríficos independentes, garantindo principalmente capital de giro para compra de animais, entre outros gastos. Outros US$ 100 milhões irão para financiar a expansão da infraestrutura destinada a essas empresas, como construção de estruturas de armazenagem e transporte de produtos refrigerados.

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E não para por aí. Mais US$ 100 milhões serão dedicados ao treinamento da mão-de-obra que irá atuar nessas empresas. Outros US$ 50 milhões vão para investimento em assistência técnica e mais US$ 100 milhões para financiar os gastos com hora-extra de funcionários que trabalharão nas indústrias, em um cenário de aumento da demanda.

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Nos Estados Unidos, Sarah Little, porta-voz do North American Meat Institute, disse que a mão-de-obra continua sendo o maior desafio e que a falta de trabalhadores qualificados para atuar na indústria está limitando o aumento da produção e elevando os custos. “Nossos membros de todos os tamanhos não podem operar em sua capacidade porque lutam para empregar uma força de trabalho estável a longo prazo. Nova capacidade e capacidade expandida criada pelo governo terão o mesmo problema”, disse a representante do setor.

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No Brasil, Marfrig e JBS não comentaram o assunto. Contudo, fontes das duas empresas consideram que as medidas anunciadas por Biden não irão interferir em seus negócios nos Estados Unidos. Mais do que isso, as medidas estão sendo consideradas irrelevantes, tanto do ponto de vista dos preços da carne quanto da concentração do mercado e que a atitude do presidente americano tem um viés muito mais político do que econômico. Na prática, alguns analistas consideram que a alta dos preços vai muito além da questão da concentração, afinal, há décadas as quatro maiores empresas controlam a maior parte da produção americana.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.