Bloomberg — Traders que estão esperando uma reviravolta nas ações asiáticas em 2022 ficarão de olho no estímulo chinês, na direção do dólar, no enfraquecimento da participação do varejo e na perspectiva de listagens de ações.
Para uma recuperação é necessário que valuations mais baixas dêem um empurrãozinho, depois que o MSCI Asia Pacific Index teve um desempenho inferior ao de sua contraparte global em cerca de 20 pontos percentuais no ano passado. Ele caiu cerca de 4% com a repressão regulatória da China e o crescimento mais lento pesando no índice, mas os investidores estão esperançosos de que o retorno de Pequim às políticas pró-crescimento e taxas de vacinação mais altas na região irão reverter a tendência este ano.
“É possível que as ações asiáticas superem seus pares globais”, já que as economias regionais devem começar a ter maiores benefícios com níveis mais altos de vacinação e reaberturas, disse David Chao, estrategista de mercado global para Ásia-Pacífico, ex-Japão, da Invesco.
Aqui estão cinco áreas de foco para os investidores da Ásia ao ingressarem no novo ano:
Eventos políticos
Os traders esperam que as ações do continente se recuperem este ano, já que Pequim promete impulsionar a desaceleração do crescimento econômico, arrastada por uma queda no mercado imobiliário e baixo consumo. Vários ministérios prometeram apoio, incluindo maiores cortes em taxas e impostos, enquanto o Banco Popular da China já está injetando mais liquidez no sistema financeiro. Outras medidas de flexibilização também são esperadas.
Eventos políticos como o Congresso Nacional do Povo, em março, serão observados de perto em busca de mais pistas sobre políticas pró-crescimento e o impulso da política de “prosperidade comum”. O 20º Congresso do Partido, no segundo semestre de 2022, também é importante porque pode consolidar a condução vitalícia do presidente Xi Jinping .
E depois de um ano de regulamentação que fechou o cerco sobre ações de tecnologia, aulas particulares e propriedades privadas, a BlackRock e o HSBC estão entre aqueles que apostam que o pior da repressão regulatória da China já passou. “Parece importante ter um foco na estabilidade e no crescimento em um ano tão importante - e não na reestruturação e em novas regulamentações”, disse Herald van der Linde, chefe de estratégia de ações do HSBC para a Ásia-Pacífico.
Patrulha da Fronteira
A China, o único país do mundo agora com uma política Covid Zero, provavelmente manterá suas fronteiras fechadas antes das Olimpíadas de Inverno em fevereiro, devido ao ressurgimento de casos domésticos do vírus . Mas, assim que as fronteiras internacionais forem abertas, isso poderá ser um grande catalisador para ações cíclicas de companhias aéreas a ações de luxo em toda a região, sendo os turistas chineses os maiores consumidores do mundo.
“Em termos de expectativas, o mercado não deve ter grandes reações à reabertura da China”, disse Zhikai Chen, chefe de ações asiáticas do BNP Paribas Asset Management.
Por outro lado, mais lockdowns podem ter um efeito sobre as cadeias de abastecimento asiáticas. Gigantes regionais como a Samsung e a BYD já estão enfrentando problemas de produção em Xi’an.
Nota de dólar
Com o estímulo de tapering do Federal Reserve e a expectativa de que as taxas aumentem pelo menos três vezes no próximo ano, o impacto do dólar mais forte sobre os ativos asiáticos é uma preocupação. Junto com o crescimento chinês mais fraco, isso pode pesar sobre as commodities e moedas em 2022, aumentando as restrições às economias asiáticas emergentes em um momento de aperto da política monetária doméstica.
As ações do sudeste asiático parecem particularmente vulneráveis a saídas de capital à medida que a ômicron se espalha, embora seja improvável que se repita a reação exagerada ao tapering como a que aconteceu em 2013. Ainda assim, um iene mais fraco é bom para o mercado de ações japonês com grande volume de exportadores.
O estrategista do JPMorgan Asset Management, Tai Hui, vê o Fed se comunicando de maneira adequada “para evitar oscilações bruscas nos rendimentos dos títulos, nas taxas de juros e nas taxas de câmbio”, limitando o impacto negativo sobre as ações asiáticas.
Mania de varejo
Após um frenesi de dois anos, a participação de investidores de varejo e a abertura de novas contas em lugares como a Coreia do Sul e a Índia estão mostrando sinais de fadiga. Isso poderia reduzir a volatilidade e o congestionamento de negociações nos mercados em 2022, permitindo uma maior participação de investidores estrangeiros com base em fundamentos.
“Muitos investidores estrangeiros que tendem a ser mais conservadores começariam a olhar para as ações coreanas novamente”, disse Chetan Seth, estrategista de ações da Ásia-Pacífico na Nomura em uma coletiva de imprensa neste mês. “Esperamos dois aumentos das taxas do banco central de Taiwan em algum momento de 2022, e isso pode ser o catalisador que pode dar uma ligeira desacelerada na participação do comércio de varejo”.
Pipeline de IPO
Depois de um ano tumultuado para as listagens de ações de Hong Kong, os investidores estarão ansiosos por uma série de “IPOs de regresso a casa”, digamos assim, como da Didi, por exemplo. O apetite por essas listagens pode esfriar, no entanto, por conta das questões regulatórias na China.
Enquanto isso, o frenesi das SPACs poderia finalmente chegar à Ásia, à medida que a primeira onda de Empresas com Propósito Especial de Aquisição (ou SPACs, na sigla em inglês) ganha autorização para listagens em Singapura e Hong Kong, que já criou regulamentos para essa modalidade.
--Com a colaboração de Jeanny Yu, Youkyung Lee, Low De Wei e Ashutosh Joshi.
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