Bloomberg — Aparentemente, os veículos elétricos foram a sensação deste ano.
Em março, nove países da União Europeia pediram que a Comissão Europeia acelerasse a eliminação progressiva dos veículos movidos a gasolina e diesel em toda a UE. Em novembro, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou uma legislação que exigirá que todas as casas e edifícios de escritórios recém-construídos na Inglaterra incluam recursos de carregamento para veículos elétricos. Desde 1º de dezembro, mais de 15 estados dos EUA prometeram eliminar gradualmente as vendas de carros novos com motores a combustão.
Feiras de automóveis, como a de Munique em setembro, deixaram de ser entediantes convenções comerciais anuais e se transformaram em confabulações glamourosas de mobilidade elétrica, cujas estrelas eram cápsulas elétricas e conceitos de carros de corrida elétricos. Wall Street gastou bilhões de dólares em startups de eletricidade, prometendo um futuro brilhante para veículos elétricos que ainda nem foram fabricados.
A Hennessey e a Rolls-Royce anunciaram planos para seus próprios veículos supercarregados. A Bugatti tem um novo queridinho elétrico. Os gigantes automotivos tradicionais de trabalharam duro – e gastaram bilhões – para convencer os consumidores e legisladores de que estavam abraçando um futuro totalmente elétrico.
Os analistas chegaram a declarar o fim do motor a combustão.
Mas essa não é bem a realidade. Até a Califórnia, maior mercado de veículos elétricos do país, relata que apenas 6% dos carros em suas estradas são elétricos. No resto dos Estados Unidos, o percentual cai para cerca de 2%. Até 2040, os veículos elétricos somarão apenas 31% de todos os carros nas estradas americanas, de acordo com a BloombergNEF.
Temos uma longa estrada até que os veículos elétricos sejam perfeitos. A maioria apresenta preços elevados em comparação com os veículos com motor convencional, e muitos possuem falhas nas funções elétricas e de software durante os primeiros test drives. Outros têm um acabamento interno tosco e uma qualidade duvidosa. Depois, há a questão da independência, que na verdade tem a ver com a falta de uma rede nacional de recarga elétrica para motoristas.
Mesmo assim, a empolgação reflete algo real. Escrevo sobre carros, utilitários esportivos, caminhões e motocicletas há quase duas décadas e nunca vi uma época mais empolgante, desafiadora e surpreendente na indústria automotiva. Os consumidores, em última instâncias, serão os maiores vencedores de todo o processo de eletrificação, porque os veículos estão cada vez melhores.
Veja quais foram os cinco melhores veículos elétricos que dirigi em 2021:
Mercedes EQS
O Mercedes-Benz S Class foi simplesmente o melhor carro que dirigi este ano. Seu equivalente elétrico, o EQS, que custa US$ 102 mil, não é tão suntuoso e não possui as perfeitas calibrações mecânicas e tecnológicas deste sedã executivo. No entanto, o centro de comando touchscreen interativo desse veículo elétrico (disponível no modelo topo de linha EQS 580 4Matic) e a poderosa qualidade de acionamento rápido oferecem um vislumbre saudável de como serão os melhores sedãs elétricos do futuro.
Em comparação com concorrentes, o EQS se sai melhor no debate de ansiedade de alcance (o medo de um motorista quanto ao armazenamento insuficiente de carga de seu veículo elétrico): seu alcance de 485 milhas (aproximadamente 780 km) supera as 412 milhas (aproximadamente 663 km) do Tesla Model S e as menos de 300 milhas (aproximadamente 482 km) do Porsche Taycan. Ele carrega até 80% da capacidade em 31 minutos com carregamento rápido de corrente contínua – aproximadamente a taxa atual.
Não é exatamente o veículo mais rápido – o topo de linha EQS 580 4Matic obtém 516 cv e 631 libra-pés (87 quilogramas-força) de torque e vai de zero a 60 mph (aproximadamente 96 km/h) em 4,1 segundos em seu chassi com tração nas quatro rodas, mais lento que as versões mais altas do Taycan e do Modelo S. Mas em um carro com acessórios internos e tecnologia que excede em muito esses modelos, o proprietário do EQS dificilmente notará – ou se importará – com essa diferença.
Rivian R1T
Este foi talvez o veículo mais badalado do ano, com a novata fabricante de veículos elétricos Rivian atingindo o valor máximo de US$ 100 bilhões ao abrir o capital em novembro. Eu e alguns outros repórteres podemos assumir parte da culpa por isso: eu disse que o R1T era o veículo que mais queria dirigir em 2021.
O porte do mercado de camionetes elétricas no mundo deve chegar a US$ 1,9 bilhão até 2027, segundo a Allied Market Research – uma alta em comparação aos US$ 422,5 milhões de 2019. O que a Tesla fez para os carros elétricos – levá-los ao mainstream – ainda precisa ser feito para as camionetes elétricas.
O R1T da Rivia é o pioneiro da categoria. Voltado para o triatleta alpinista “gorp-core” (termo utilizado para identificar quem gosta de aventuras) que trabalha no Vale do Silício, a picape de US$ 74 mil conta com muitas invenções inéditas em seu nome, incluindo um espaço de armazenamento sob a carroceria e um compressor de ar integrado de fábrica para emergências em áreas selvagens. Além disso, tem um alcance de 314 milhas (aproximadamente 505 km) e parece ser boa o suficiente para sustentar a afirmação da empresa de que é a “Patagônia das camionetes”.
Eu dirigi essa camionete por alguns dias e posso dizer que o software da R1T é um pouco falho – não é tão robusto quanto os modelos da Jeep e Land Rover com preços semelhantes – mas é uma primeira oferta empolgante de uma empresa que certamente ainda veremos muito por aí.
Audi RS eTron GT
O Audi RS eTron GT, que custa US$ 140 mil, é fabricado na mesma plataforma elétrica do Porsche Taycan, com a mesma transmissão automática de duas velocidades de sua controladora, a Volkswagen. Ambos superam o Tesla Model S em aparência, qualidade de construção, design interior e intuitividade de infoentretenimento. Portanto, é importante observar como diferem os modelos, especialmente porque o Taycan, que chegou ao mercado um ano antes do eTron, é uma opção muito forte para fanáticos por veículos elétricos. Afinal, do contrário, você estaria apenas escolhendo o distintivo que fica no capô do carro, não?
Para mim, o eTron GT parece melhor que o Taycan. O modelo é mais esbelto, com teto mais elegante – o mais baixo de qualquer Audi, exceto o modelo R8 – e uma postura agressiva aprimorada por rodas de 21 polegadas cortadas como lâminas e faróis de LED brilhantes traçados em azul. O teto solar panorâmico de vidro vem de fábrica para o modelo GT básico, ao passo que as versões RS mais requintadas e mais caras vêm de fábrica com teto solar de fibra de carbono (nesse caso, o teto solar de vidro é opcional).
O novo elemento mais notável no eTron GT é a minúscula caixa de câmbio (o Taycan também tem uma). Por outro lado, o interior tem qualidade mínima, com menos computadores e telas touchscreen que o Taycan e folheado de madeira por toda parte.
Quanto ao desempenho, o eTron GT de 637 cavalos tem velocidade máxima de 155 mph (aproximadamente 250 km por hora) e vai de zero a 60 mph (aproximadamente 96 km/h) em 3,1 segundos. Com uma direção tranquila, seu alcance é de 232 milhas (aproximadamente 373 quilômetros) com uma carga. Segundo a Audi, a carga vai de 5% a 80% em 22,5 minutos com um carregador de 270kW. O Taycan Turbo, que custa US$ 151 mil, possui 670 cavalos de potência, velocidade máxima de 161 mph (aproximadamente 260 km/h) e vai de zero a 96 km/h em três segundos. Seu alcance é de 212 milhas (341 quilômetros) com uma carga.
Então os modelos estão bem próximos. Muitos consumidores escolherão segundo sua lealdade de marca. Mas o Audi eTron prova que os sedãs esportivos elétricos serão tão envolventes e eficientes quanto seus primos movidos a combustão interna. Por ser o modelo novinho que dirigi este ano, vou dar a ele a vantagem na lista.
BMW iX
Este modelo foi essencial para que a BMW acertasse. O primeiro utilitário elétrico da marca é a base para a meta da BMW de decuplicar as vendas de veículos elétricos a bateria de 2020 a 2025, o que representaria 15% do mix de vendas, ou 450 mil unidades no total, de acordo com a Bloomberg Intelligence.
A máquina de US$ 83 mil não é muito empolgante para se dirigir, pois não conta com o estilo do X6M da BMW – um dos meus utilitários favoritos de todos os tempos. Mas com cinco lugares e alcance de mais de 300 milhas (aproximadamente 480 quilômetros) com uma carga, o veículo oferece uma cabine bem construída e cuidadosamente decorada e um manuseio decente para seu grande porte.
Minha parte favorita foi a simplicidade da cabine relaxante e de alta qualidade e a excelente nova interface de infoentretenimento. Portas sem moldura, teto solar panorâmico de vidro, painel de madeira, botões em cristal e uma caixa de câmbio de rolagem – todos pareciam modernos em vez de frios e robóticos.
Porsche Taycan Cross Turismo
Camionetes elétricas e outras plataformas elétricas verdadeiramente focadas em funções estão a caminho, mas uma perua elétrica já está disponível. O Porsche Taycan Cross Turismo, que custa US$ 91 mil, combina a potência comprovada e a fabricação alemã do Taycan com o espaço adicional e a praticidade de uma perua hatch.
O Taycan Cross Turismo básico tem 469 cavalos de potência de desempenho, além dos quatro modos de direção em duas “marchas” – uma para grande potência em velocidades mais baixas e outra para eficiência sustentada em altas velocidades – e o alcance do Taycan regular. A aceleração é suave, indo de zero a 60 mph (aproximadamente 96 km/h) em 4,8 segundos com velocidade máxima de 136 mph.
Suas opções esportivas tornam a perua com tração nas quatro rodas realmente brilhante. O Pacote de Design Offroad (US$ 1.780) o eleva 10 mm acima da altura normal de um carro de passeio (um total de 30 mm mais alto que o sedã Taycan) e oferece painéis de proteção adicionais ao longo da parte inferior da frente, nas laterais e nas cavas das rodas, ótimo para andar por riachos. Além disso, adiciona dois pés cúbicos (aproximadamente 0,05 metro cúbico) de capacidade de carga na parte traseira – chegando a quase 16 pés cúbicos (0,4 metro cúbico) de 14,3 pés cúbicos (0,45 metro cúbico) no Taycan regular. Ao todo, o Taycan Cross Turismo fica com 42,8 pés cúbicos (1,2 metro cúbico) de espaço de armazenamento na parte de trás quando os assentos traseiros estão abaixados.
É o suficiente para fazer qualquer pessoa querer sair com ele por aí para explorar. O fato de ser um veículo elétrico bem feito e verdadeiramente viável para o cotidiano é a cereja do bolo.
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