RaiaDrogasil espera dobrar coleta de medicamentos vencidos em um ano

Em entrevista à Bloomberg Línea, diretora de sustentabilidade da companhia, Giuliana Ortega, fala sobre os 35 compromissos da agenda ESG para 2030

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São Paulo — O recolhimento de medicamentos vencidos, uma ameaça ambiental e social no caso de um descarte inadequado, faz parte de uma série de ações previstas na agenda ESG (Ambiental, Social e Governança) da RD (RaiaDrogasil), que encerra o ano com mais de 2.400 farmácias presentes em todos os estados do Brasil. Em entrevista à Bloomberg Línea, a diretor de sustentabilidade da companhia, Giuliana Ortega, diz que a RD deve fechar 2021 dobrando o volume de remédios fora do vencimento retirados de circulação em relação ao ano passado.

“A gente recolheu 63 toneladas em 2020. Até outubro deste ano, já foram 105 toneladas em todas as lojas. Precisamos ainda ver os dados de novembro e dezembro, mas acredito que a gente vai provavelmente dobrar esse número de um ano para outro, chegando a 120 toneladas. Para o ano que vem, esperamos um crescimento acelerado desse número, principalmente porque vamos investir em comunicação para que nossos clientes saibam dessa possibilidade e entendam o impacto ambiental do descarte desses produtos no lixo comum”, afirma a executiva, acrescentando que hoje já são mais de 2.000 coletores de medicamentos vencidos em suas unidades espalhadas pelo país.

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Ela lembra que a atual política brasileira sobre gestão de resíduos sólidos divide as responsabilidades entre varejo e indústria. Com isso, a RD incentiva o consumidor, mesmo que não seja seu cliente, a levar remédios vencidos para os coletores instalados nas farmácias. Esses produtos são levados para os centros de distribuição da companhia, onde as indústrias farmacêuticas recolhem a carga para incineração, como determina a lei. “São produtos químicos que vão acabar poluindo rios, lençol freático. O impacto é invisível e sistêmico, causa danos para o meio ambiente e para a saúde humana”, destaca Ortega.

O descarte correto e seguro de medicamentos vencidos é apenas uma das preocupações do setor farmacêutico. Na RD, a agenda ESG se traduz em três pilares ou motes (”pessoas mais saudáveis”, “planeta mais saudável” e “negócios mais saudáveis”), segundo Ortega, com metas a serem alcançadas até 2030, envolvendo questões que vão desde aumentar a representatividade de mulheres, pessoas negras e com deficiência em cargos na empresa como redução de emissões de gás carbônico e compensação de gases de efeito estufa. “Compromissos 2030″ é o nome do documento que a companhia lançou neste ano para apresentar ao mercado como pretende desenvolver a temática ESG até a próxima década, partir da definição de 35 compromissos com metas numéricas.

“Há 20 anos trabalho com sustentabilidade. É bacana ver agora a ascensão da agenda ESG, que está ganhando muita força agora, entrando na pauta das empresas, dos investidores, dos conselhos, dos comitês estratégicos. Virou assunto na mesa dos negócios”, observa a diretora da RD, que sublinha o conceito do “triple bottom line”, como é conhecido o tripé da sustentabilidade, sintetizado pela ideia de que uma companhia deve buscar resultados “financeiros, sociais e ambientais”, três dimensões interligadas da atividade econômica geradoras de valor para investidores, funcionários e sociedade.

Em seu documento “Compromissos 2030″, a RD cita como meta alcançar a equidade de mulheres e homens em todas as categorias funcionais, operacionais, gerenciais e executivas. “Até 2030, em cada uma dessas camadas, a companhia terá de ter no mínimo 50% de mulheres nessas funções. Considerando cargos de gerentes e acima, pelo menos 50% devem ser de pessoas negras. Outra meta é dobrar o percentual de pessoas com mais de 50 anos, na comparação com os dados de 2020. Há ainda a meta de ter 6% de participação das pessoas com deficiência, no mínimo, de forma estável na empresa. Reduzir o turnover (rotatividade de funcionários) também é um desafio que a empresa tem”, detalha Ortega.

A diretora de sustentabilidade da RD cita ainda os compromissos ambientais, como buscar ser reconhecida como uma empresa “zero carbono” e “zero aterro”. “A área ambiental tem metas de redução de emissões de escopo 1 e 2. Não fechamos ainda um percentual, estamos propondo entre 40% e 50% de redução para 2030, o que não for reduzido, vamos compensar. Colocamos meta de compensar emissões no mínimo em 115% até 2030. Temos ainda metas de comunidade: beneficiar pelo menos 3 milhões de pessoas em projetos de saúde integral, metas de embalagens ecoeficientes de nossos produtos”, destaca.

ISE

O treinamento dos funcionários para possibilitar a execução dessas metas já começou na RD, segundo a executiva. Discussões sobre as temáticas da agenda ESG são realizadas frequentemente no âmbito da direção, conselho e comitê estratégico, envolvendo todas as áreas da empresa, incluindo a cadeia de fornecedores, diz Ortega. Os esforços da companhia para avançar nessas questões fez a RD ser incluída na 17ª carteira do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da B3, que valerá a partir de janeiro.

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“Neste ano, foi um processo diferente. O questionário do ISE mudou muito. Houve questões aprofundadas, modificadas, incluídas e outras retiradas. Houve um rigor muito maior na questão das evidências, na comprovação daquilo que você respondeu. Aprendeu-se muito nesse processo”, reconhece Ortega.

Ela não acredita que no futuro haverá uma padronização mundial única para as ferramentas e normas de gestão ESG. “Não acredito que vai ter uma única ferramenta. A gente vai ter uso maior das ferramentas que o mercado entender como mais úteis. O mercado se autorregula, e alguns padrões passam a ser mais usados do que outros. O mercado vai legitimando seus padrões, os investidores olham padrões diferentes, dão pesos diferentes”, diz a diretora da RD, lembrando que uma metodologia única para a área já é discutida há tanto tempo, sem tentativas bem-sucedidas.

Por enquanto, a RD não estuda, segundo Ortega, lançar nenhuma operação no mercado de capitais, como emissões de títulos de dívida, atreladas a metas ESG, como fazem algumas companhias do setor de saúde, como o grupo Fleury. “Não está no nosso radar no curto prazo. Estamos ainda acompanhando, aprendendo. Lançamos nossa estratégia há seis meses. Queremos entender melhor. Nosso foco é construir nosso mapa até 2030, definindo como vai ser nossa jornada até lá, os planos de ação, ano a ano. Não estamos planejando nada assim, por enquanto”.