Bloomberg — Após um 2021 para esquecer, os estrategistas de ações veem espaço para recuperação da bolsa brasileira adiante, mas o caminho está longe de ser suave. O Brasil abrigou um dos índices acionários com pior desempenho ao redor do mundo neste ano, com o Ibovespa caminhando para sua primeira queda anual desde 2015.
Com os múltiplos rondando os menores níveis em mais de uma década, analistas consultados pela Bloomberg projetam um ganho médio de cerca de 20% para o mercado no próximo ano. Juros em alta, crescimento mais fraco e uma eleição que deixará os investidores apreensivos devem adicionar volatilidade.
“Há espaço para alta”, disse Caesar Maasry, chefe do time de estratégia cross-asset de mercados emergentes do Goldman Sachs, em Nova York. “Ainda assim, o cenário de médio prazo do Brasil é mais desafiador devido à falta de uma reforma tangível.”
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O Ibovespa deve encerrar 2022 em 127.000 pontos, acima do fechamento de segunda-feira, de 105.554 pontos, de acordo com a estimativa média de 10 estrategistas monitorados pela Bloomberg. Nenhum deles havia previsto a queda deste ano.
Lista de estimativas:
‘Mercado acidentado’
Maasry, do Goldman, é o menos otimista do grupo.
“O desafio fiscal ainda é significativo, e lembramos que a última recuperação econômica do país da recessão de 2016 foi muito superficial e de curta duração”, disse Maasry. “Mais preocupante é que o ambiente externo em 2022 não será particularmente favorável.”
Outros mencionam o valuation descontado do mercado brasileiro. O Ibovespa negocia a cerca de 7,8 vezes o lucro estimado para os próximos 12 meses, bem abaixo da média de 10 anos de 11,7 vezes, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A relação atingiu 7,4 vezes no começo do mês, o menor nível desde 2009.
“Reconhecemos um mercado acidentado à frente com as eleições presidenciais no próximo ano, mas acreditamos que a atual assimetria” é muito atrativa para ser ignorada, disse Ricardo Peretti, estrategista do Santander, em relatório.
Nas eleições de outubro, o presidente Jair Bolsonaro deve enfrentar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem liderado as pesquisas até o momento. Suas visões divergentes em relação a políticas econômicas têm contribuído para alimentar a incerteza quanto à continuidade do ajuste fiscal a partir de 2023.
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Ao mesmo tempo, economistas esperam que o Banco Central entregue altas de juros adicionais, com a economia crescendo provavelmente menos de 1% no ano que vem.
“A relação risco-retorno está, a grosso modo, equilibrada”, disse Will Pruett, que gere cerca de US$ 8 bilhões na Fidelity Investments, incluindo cerca de US$ 300 milhões no Fidelity Latin America Fund. “Estou esperando mais dados sobre o caminho para inflação e juros antes de mudar significativamente meu posicionamento”, disse Pruett, que atualmente está neutro em Brasil.
Investidor estrangeiro
Um ponto de suporte para o mercado local pode ser a continuação da entrada de recursos estrangeiros. O investidor estrangeiro colocou R$ 66,3 bilhões em ações na B3 neste ano até 22 de dezembro, excluindo ingresso via ofertas de ações.
“Do ponto de vista de negociação, a participação de investidores estrangeiros é fundamental para o fim do atual bear market no Brasil”, disseram estrategistas do Morgan Stanley liderados por Guilherme Paiva, que projetam o Ibovespa a 140.000 pontos, em um cenário otimista.
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No cenário pessimista – incluindo preços de commodities em queda, racionamento de energia e políticas macroeconômicas heterodoxas após a eleição presidencial -- eles dizem que o índice poderia cair a cerca de 88.000 pontos.
“Temos uma visão cautelosa sobre o Brasil para 2022”, disse Ed Kuczma, que gere US$ 1,2 bilhão em ações latino-americanas na BlackRock e está underweight (viés de baixa) Brasil. A eleição presidencial “apresenta a possibilidade de ajustes de política que criam incerteza adicional”.
Entre as ações brasileiras, Kuczma tem favorecido locadoras de veículos, telecomunicações e o setor de saúde. A volatilidade antes da eleição pode criar oportunidades para investidores “montarem posições em empresas de qualidade a valuations atrativos”, disse.
O tema de saúde também está entre as preferências de Pruett, da Fidelity. Ele gosta da empresa farmacêutica Hypera e também está positivo com as varejistas alimentares.
“Estamos de volta aos níveis de inflação e juro que antes eram considerados normais para o Brasil”, disse Pruett. “A questão é se os últimos anos de inflação e juro baixo foram ‘outliers’”, afirmou. “Ainda não há resposta.”
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