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Fundos de pensão estão atentos às criptomoedas, diz diretor da Abrapp

Mas sem regulamentação e ambiente legal, setor olha mercado a distância

Sérgio Wilson (foto), da Abrapp: é preciso investir na informação para que todos entendam o mercado cripto
Tempo de leitura: 4 minutos

Por Roseli Lopes para Mercado Bitcoin

São Paulo - Responsáveis pela gestão de R$ 1,104 trilhão em ativos, em setembro de 2021, que representa 13,7% do Produto Interno Bruto (PIB), os fundos de pensão (Entidades Fechadas de Previdência Complementar, as EFPCs) no Brasil terminaram 2020 com um superávit de R$ 7,5 bilhões.

O resultado foi o primeiro positivo dos últimos sete anos, segundo dados da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), puxado principalmente pelo retorno conseguido nas aplicações em renda variável, onde as EFPCs, tradicionalmente conservadoras, ampliaram a alocação dos 19,6% de 2019 para 20,4%, no ano seguinte.

Com a bolsa enfrentando forte turbulência nos últimos meses e diante da perspectiva de muitos analistas financeiros de que poderá fechar 2021 em queda superior a 10%, sob os efeitos de risco fiscal, inflação em alta, juros elevados e real em desvalorização, e da previsão de continuidade desse ambiente ruim, é hora de rever as carteiras.

Em entrevista concedida ao Mercado Bitcoin, Sergio Wilson, diretor de investimentos da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), fala do desafio de buscar novos produtos no mercado para garantir a aposentadoria dos participantes.

“Estamos atentos à tendência das criptomoedas”, diz o executivo, destacando o tamanho desse mercado, que já ultrapassa os US$ 3 trilhões, e a relevância que ganhou, expandindo as oportunidades dentro do sistema financeiro mundial.

Entretanto, Wilson afirma que, no curto prazo, as moedas digitais não deverão ser incorporadas às estratégias de investimento das EFPCs. “É preciso ampliar o ambiente legal do setor, ter regulamentação e mais comunicação para que todos conheçam o mercado”, diz, em referência à norma que proíbe os fundos de investir no ativo de forma direta.

Mercado Bitcoin – O atual cenário de perda de dinamismo da economia tem imposto a gestores de fundos de investimento o realocamento do portfólio para garantir ganhos maiores. Como os fundos de pensão enxergam as criptomoedas nesse horizonte?

Sergio Wilson – Temos hoje no Brasil muitas oportunidades de investimento que têm nos permitido cumprir nossa meta atuarial, hoje em torno de 4,5% mais a inflação. A bolsa ficou barata, descolada dos mercados emergentes. A renda fixa, que ocupa mais de 70% da carteira das EFPCs, deve nos permitir obter melhores ganhos com as recentes altas dos juros, que tendem a perdurar até 2022. Temos participações menores, perto de 1%, em outros produtos. E agora temos os ativos da economia digital, pelos quais cresce o interesse de vários setores. Quanto aos fundos de pensão, estamos atentos à tendência das criptomoedas, mas não vejo nenhum investimento nelas no curto prazo.

MB – O que impede esses fundos de olhar neste momento para as cripto como uma alternativa?

Wilson – As criptomoedas são uma forma de diversificar, mas é preciso ampliar seu ambiente legal. Esse vácuo que ainda existe na legislação dificulta o investimento dos fundos de pensão nesses ativos. É preciso lembrar que as EFPCs geram hoje a poupança de quem vai se aposentar amanhã. Sem também uma regulamentação por parte dos órgãos competentes, os fundos de pensão vão continuar olhando esse mercado a distância.

MB – Quais os impedimentos legais que os fundos de pensão têm para  investir em criptomoedas?

Wilson – A Resolução 4.661 da CVM [a Comissão de Valores Mobiliários], de 2018, que dispõe sobre as normas para aplicação de recursos garantidores dos planos administrados pelas entidades fechadas de previdência complementar, impede que os fundos de pensão invistam diretamente no mercado de criptomoedas. A exemplo do que se vê no exterior, hoje eles podem investir em produtos com exposição a esses ativos. Como os ETFs [Exchange Trade Funds, fundos de índices negociados na bolsa brasileira].

MB – Em dezembro, o Brasil ficou mais perto de ter uma legislação para o mercado de criptomoedas após a Câmara dos Deputados aprovar um dos projetos de lei que tratam da regulamentação das criptomoedas. De que maneira isso pode impactar na decisão das EFPCs a respeito das criptos?

Wilson – Foi dado o primeiro passo, mas não basta. Não somos um investidor qualquer. Somos gestores fiduciários do futuro dos participantes. Estamos falando da sobrevivência dessas pessoas quando deixarem de trabalhar. Como é um segmento relativamente novo para o dono do dinheiro, que é o cotista dos fundos de pensão, é preciso, além da regulamentação, que os grandes players desse mercado invistam para mostrar que as criptomoedas são um ativo confiável, para que o mercado se desenvolva de forma saudável em comunicação e credibilidade, porque explicar sobre criptomoedas para nosso participante é complicado. Elas ainda são estigmatizadas por algumas pessoas.

MB - E quanto à capacidade de gestão das criptomoedas, na eventualidade de os fundos entrarem para o mercado cripto?

Wilson - É outro problema que teria de ser resolvido. São ativos que talvez demandem a criação ou parceria com uma empresa de custódia. Também tem a governança, outra questão a ser vencida. Precisamos ter regras de governança para esse segmento. Lembrando que muitos consumidores que hoje participam do mercado de fundos de pensão não dominam o mundo das criptos, que é novo e, por ser descentralizado, ainda é visto como complexo.

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