Bloomberg Opinion — Não são apenas brinquedos e chips que estão em falta neste Natal. Relógios Rolex também estão escassos. Felizmente para os que procuram o acessório, existem outras maneiras de entrar no boom de relógios de luxo.
A combinação de economia durante o lockdown, mercados em alta (pelo menos até o momento), as compras por vingança (por ter ficado em casa tanto tempo) e um interesse mais amplo em ativos alternativos fez com que a demanda pelos relógios superasse em muito a oferta. As listas de espera ficaram mais longas e os preços no mercado de segunda mão dispararam.
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O interesse por modelos emblemáticos – como o Rolex Daytona, o Patek Philippe Nautilus e o Audemars Piguet Royal Oak – é antigo. Também há alarde em torno dos relógios feitos por Richard Mille: o Rolex Submariner e o GMT-Master II. Entre os modelos mais aclamados recentemente está o Rolex com mostrador com estampa de palmeira.
Claro, sempre houve mais compradores do que relógios disponíveis. Estima-se que a Rolex fabrique cerca de 1,1 milhão de relógios por ano, enquanto a Patek Philippe fabrica cerca de 65 mil e a Audemars Piguet, cerca de 45 mil – o suficiente para satisfazer os compradores de artigos de luxo.
Mas o interesse por relógios explodiu nos últimos dois anos, à medida que os lockdowns levaram as pessoas a canalizar recursos que outrora teriam sido destinados a viagens e jantares finos em produtos de luxo. A primeira escolha para os homens era um relógio, e muitos compradores procuraram as marcas que conheciam melhor. Os recordes em mercados acionários e o crescimento das criptomoedas não só trouxeram riqueza, mas também geraram um interesse mais amplo em investir em classes de ativos alternativas, sejam eles tokens não fungíveis ou relógios.
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O descompasso ficou tão grande que, em setembro, a Rolex tomou a atitude bastante incomum de emitir uma declaração de que a escassez não era uma estratégia. A empresa não conseguiu acompanhar a demanda sem reduzir a qualidade. O grupo não quis fazer outros comentários
Até mesmo a varejista Watches of Switzerland, que sempre conseguiu garantir relógios Rolex para suas boutiques no Reino Unido e nos Estados Unidos, ficou sem estoque em julho, graças ao aumento da demanda mês após mês. Agora, a empresa trabalha com a Rolex em um novo conceito, no qual terá uma gama de relógios apenas para exposição. Os clientes podem entrar e experimentar os modelos, incluindo o Submariner e o Daytona (que raramente ficavam nas lojas antes), e então registrar seu interesse – como em um showroom de automóveis.
A Watches of Switzerland não mantém listas de espera além de dois anos. Senão, as listas dos modelos mais populares se estenderiam muito além desse limite. Curiosamente, há relatos de esperas pela Daytona que chegam a 10 anos.
A escassez também aumentou os preços no mercado secundário, preenchido por operadoras como a Chrono24, da Alemanha, a Watchfinder (de propriedade da Cie Financiere Richemont) e A Collected Man, de Londres. O Rolex Daytona, AP Royal Oak e Patek Nautilus podem ser revendidos por três a quatro vezes seu preço de varejo original. Outros relógios Rolex visados podem ser negociados por pelo menos o dobro do preço.
Talvez ainda mais frustrante do que não conseguir um desses modelos é que os três fabricantes são de propriedade privada, portanto, há poucas maneiras de os investidores participarem. Uma delas é por meio da Watches of Switzerland, que gera de 50% a 60% de seu faturamento da Rolex, AP e Patek. Suas ações quase triplicaram no ano passado.
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Enquanto isso, o interesse por relógios está se espalhando das marcas com maior restrição de oferta para aquelas pertencentes a empresas listadas na bolsa: Swatch Group e Richemont.
A Omega, de propriedade da Swatch, tem muitos fãs. Seu Speedmaster é muito popular na Ásia, e o último relógio James Bond Seamaster, produzido para coincidir com o filme mais recente da franquia, também é muito procurado. A Cartier, da Richemont relançou ou atualizou alguns de seus modelos clássicos nos últimos cinco anos. A estratégia da empresa é manter a oferta ligeiramente abaixo da demanda, depois de comprar de volta o estoque excedente na esteira da campanha anticorrupção da China, que levou a um excesso de relógios no mercado há cerca de cinco anos.
A plataforma de relógios on-line A Collected Man, especializada em fabricantes suíças independentes, também viu um aumento no interesse por duas outras marcas da Richemont: A. Lange & Sohne e Vacheron Constantin.
A grande questão é se o frenesi atual e os valores crescentes podem continuar. O recente nervosismo do mercado e o aumento dos preços de muitos produtos essenciais podem significar que o tempo está se esgotando. A pressão sobre as criptomoedas seria outro desafio. Enquanto isso, os esforços para conter o consumo conspícuo na China podem significar menos demanda por relógios de luxo na região.
Mas, com o principal problema agora sendo as restrições na oferta, uma desaceleração na China pode significar desdobramentos em outros mercados de luxo em expansão, como os EUA. Portanto, se você conseguir colocar as mãos em um Rolex neste Natal, não vai ser só motivo para vangloriar-se, será uma proteção contra a prosperidade comum também.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Andrea Felsted é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre os setores de varejo e bens de consumo. Anteriormente, escrevia para o Financial Times.
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