Bloomberg — O setor de financiamento climático continuou a crescer rapidamente este ano. Após resistir ao Covid-19 e se tornar o centro das atenções na COP26, a tendência não deve diminuir em 2022.
Mas o que o financiamento – público ou privado – pode fazer com relação às mudanças climáticas? Até que ponto pode impulsionar a ação, em vez de simplesmente refletir as estruturas de poder do momento? Os trilhões de dólares em ativos sob algum tipo de mandato relacionado ao clima devem ter algum impacto – mas como, exatamente?
Confira as maiores questões climáticas de 2022 que podem responder algumas dessas perguntas:
Além da teoria
O fantasma do greenwashing pairou ainda mais perto da infinita gama de produtos e serviços lançados este ano voltados para clientes preocupados com o clima. No entanto, poucas empresas parecem dispostas ou capazes de resolver o problema.
Dois ex-executivos de investimentos sustentáveis, Tariq Fancy, da BlackRock, e Desiree Fixler, da DWS do Deutsche Bank, foram a público separadamente neste ano com acusações de que seus ex-empregadores apenas faziam promessas vazias quanto às métricas ambientais, sociais e de governança, conhecidas como ESG.
Fixler disse que a DWS não tinha uma maneira robusta de avaliar as classificações ESG das empresas e implementá-la em seus investimentos – ao contrário do que a gerente de ativos afirmou publicamente. Suas afirmações agora estão sendo investigadas pelo órgão regulador financeiro da Alemanha. Fancy disse que a BlackRock comercializou seus produtos de investimento com rótulo de sustentabilidade como uma força do bem para o mundo, ao mesmo tempo que reconhecia internamente que não faziam muita diferença.
Mudanças internas
As críticas de Fancy são um pouco mais filosóficas do que as de Fixler. Sua base é o pressuposto de que fazer o bem é a meta, em vez de simplesmente gerenciar os riscos ESG de uma carteira. Afinal, os clientes tendem a esperar que os produtos financeiros comercializados como “sustentáveis” ou “focados no clima” promovam ativamente um comportamento corporativo mais ecológico. As preocupações com o greenwashing são mais altas do que as preocupações com as tarifas.
Pelo menos alguns gerentes de investimento concordam. Uma grande pesquisa publicada pela empresa de pesquisas CREATE-Research constatou que a maioria dos proprietários e gestores de ativos sentem o dever de tornar o mundo um lugar melhor porque investem em todo o mercado. Eles também acreditam que tentar obrigar as empresas a serem melhores em relação às mudanças climáticas é tão importante quanto se desfazer das empresas poluentes de uma vez. Esse trabalho, conhecido como “stewardship” é bem diferente – e mais difícil – do que simplesmente comprar e vender ações, disseram os entrevistados.
Não está nada claro se os investidores conseguem fazer isso em escala. Tentar realizar mudanças na qualidade de acionista requer um envolvimento meticuloso com empresas e governos, e mesmo esforços prolongados podem falhar.
Abandono de regulamentos
Há alguns anos, havia esperança de que as autoridades financeiras pudessem progredir na ação climática onde as políticas públicas falharam.
A Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD, na sigla em inglês) completará cinco anos em meados de 2022. A iniciativa, que apresenta uma estrutura para relatar as emissões, ajudou os órgãos reguladores financeiros a explorar como enfrentar a crise climática adequadamente (Michael Bloomberg, fundador e proprietário majoritário da Bloomberg LP, é presidente da TCFD).
Mesmo assim, muitas dessas autoridades ficaram atoladas em uma longa busca por dados melhores e acabaram impedidas por uma interpretação restrita de seus mandatos. Os bancos centrais, por exemplo, ainda parecem acreditar que devem apenas reagir aos riscos atuais em vez de explorar políticas de precaução para enfrentar uma ameaça clara e crescente à estabilidade monetária e financeira.
Alguns estão caminhando para uma abordagem mais proativa: o Banco Central Europeu está revisando as estruturas de garantia, e o Banco da Inglaterra está avaliando se os requisitos de capital devem refletir os riscos climáticos. Já é um progresso, mas está longe de reduzir as emissões de dióxido de carbono pela metade até o final da década – a melhor chance que o planeta tem para evitar o aquecimento global catastrófico.
Enquanto isso, a mesma política e interesses que impediram a ação climática internacional e nacional por décadas continuam impedindo uma regulamentação climática mais forte. O exemplo mais claro ainda são as tentativas de enfraquecer a taxonomia financeira sustentável da União Europeia por parte da Alemanha e da França para proteger seus setores de gás e energia nuclear. Outros países poderiam seguir o mesmo caminho – o projeto de taxonomia da Coréia do Sul também permite a proteção da energia a gás.
Se permissões semelhantes forem liberadas em todo o mundo, será muito mais difícil para a economia global largar seu vício em combustíveis fósseis.
E para onde vai o dinheiro destinado à sustentabilidade?
São necessários trilhões de dólares para financiar a transição global para a energia sustentável e lidar com condições climáticas mais extremas. Descobrir como canalizar dinheiro para os países em desenvolvimento que mais precisam é uma grande preocupação do processo de descarbonização.
Uma questão importante é qual parcela deve ser financiada pelos governos e onde deve entrar o setor privado; o risco é deixar que os mercados façam essas escolhas. Embora os investidores sejam receptivos a projetos de energia limpa e montadoras de veículos elétricos, eles estão menos animados com medidas que não se adequam muito bem às classes de ativos e estruturas de financiamento existentes, como aumentar a eficiência energética residencial ou expandir novas tecnologias. A maioria das medidas de “adaptação” – necessárias para proteger contra os efeitos das mudanças climáticas – não tem fluxo de receita e, logo, nenhum apelo óbvio para os investidores.
Um sistema financeiro global que não pode ser acessado pelos países mais pobres não pode suportar as mudanças rápidas necessárias para limitar o aquecimento a 1,5°C. Para fazer a diferença, os líderes e tomadores de decisão terão de adotar abordagens disruptivas que realmente rompam com o passado. Caso contrário, estaremos caminhando para o início de um doloroso acerto de contas sobre o que realmente pode ser alcançado com o financiamento.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Kate Mackenzie escreve a coluna Stranded Assets para a Bloomberg Green. Ela aconselha organizações que trabalham para limitar as mudanças climáticas às metas do Acordo de Paris. Seu perfil no Twitter é @kmac.
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