Bloomberg Opinion — E os altos e baixos de gastos para o consumidor continuam.
Quando o mundo parou em 2020, compramos tudo o que precisávamos para ficar em casa: aparelhos de ginástica, roupas confortáveis e comida para nossos pets (e para nós mesmos). Em 2021, as compras refletiram o clima de reabertura: maquiagem, cosméticos e roupas mais sofisticadas. A maioria dos grupos de bens de consumo, varejo e luxo tiveram um bom ano.
Mas os setores de consumo agora estão enfrentando outra mudança de hábitos, e esta pode não ser tão favorável.
A variante ômicron ameaça os setores de turismo, hotelaria e varejo. Mesmo se a última onda de infecções atingir seu pico em breve, existem outros perigos à frente – desde a economia realizada durante o lockdown sendo drenada com os aumentos nos preços até uma política monetária mais rígida e custos de empréstimos mais elevados, algo que os consumidores não tiveram que aguentar por vários anos.
Os problemas estão começando a surgir.
Mesmo antes do aumento de casos da variante ômicron, havia sinais de que os consumidores estavam ficando mais cautelosos. A varejista britânica Currys, por exemplo, afirmou que a demanda por seus eletrônicos estava menor que o esperado. Em meio à redução do fluxo de pessoas nas cidades e nos escritórios, a famosa loja de departamentos de Londres, Harrods, antecipou sua liquidação de 26 de dezembro para 17 de dezembro. Outras regiões metropolitanas, como Nova York, também foram afetadas.
Mas não é apenas a nova variante que está preocupando os consumidores. As vendas no varejo dos Estados Unidos aumentaram menos que o esperado em novembro. Parte dos gastos foram antecipados para outubro, quando muitas varejistas fizeram liquidações e os consumidores aproveitaram para driblar uma eventual escassez de produtos. Contudo, a verdadeira preocupação é que o aumento dos preços finalmente começou a pesar no bolso do consumidor.
Até agora, os consumidores conseguiram suportar o aumento da inflação que incide sobre tudo. Muitas pessoas aumentaram suas economias ao ficar em casa nos últimos dois anos. Mas a reabertura da economia drenou esses recursos.
E agora os preços estão disparando. A maioria das empresas de bens de consumo já estão negociando os aumentos nos preços com a varejistas ou o farão em janeiro. Com a inflação chegando nas commodities, do petróleo às embalagens, isso dificultará algumas negociações. E provavelmente levará a mais aumentos. Os preços dos alimentos nos EUA subiram 6,1% em novembro – maior nível em 13 anos. O mesmo pode acontecer na Europa.
Embora os salários também estejam aumentando, o ritmo da inflação nos EUA está bem mais acelerado: a diferença é a maior em 20 anos.
Inclusive, as dificuldades da Currys na Inglaterra podem ser reflexo da queda nos gastos. Afinal, seus produtos – notebooks, iPhones e eletrodomésticos – são classificados como grandes compras. Nos EUA, a Lowe’s, do ramo de materiais de construção, afirmou que já esperava que o boom nas reformas diminuiria.
Muitas pessoas aproveitaram para gastar mais durante a pandemia, principalmente com novas casas. Esse também pode ser um ponto fraco com o aumento das taxas de juros. Espera-se que os custos de empréstimos aumentem em 2022, o que pode levar americanos e europeus a colocar o escorpião de volta no bolso.
Embora itens maiores e mais caros possam ser os primeiros a ser afetados, outras áreas também vão sucumbir. Consumidores tendem a escolher marcas mais baratas ou cortar alguns itens da lista quando começa a faltar dinheiro. Cortar os mimos que conseguimos na pandemia, como delivery de comida, pode ser outra forma de economizar.
Mas existe um lado bom. Embora o surgimento da ômicron afete os setores de lazer e turismo, no curto prazo pode até aliviar a pressão sobre o consumidor. Voltar ao trabalho remoto significa economizar com transporte e restaurantes. A espera pelo “Natal da vingança” – chutar o balde este ano devido ao fim de ano decepcionante de 2020 – já está esvanecendo, já que as pessoas estão cancelando seus planos de grandes jantares.
Janeiro sempre é um mês fraco para varejistas, restaurantes e bares. Afinal, é quando chega a fatura dos cartões utilizados nas compras de fim de ano. No entanto, as vacas podem ficar ainda mais magras este ano.
É um lembrete oportuno de que, assim como o mercado acionário, as variações de consumo têm seus altos e baixos.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Andrea Felsted é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre os setores de varejo e bens de consumo. Anteriormente, escrevia para o Financial Times.
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