Quem é Brynne McNulty Rojas, fundadora da Habi e liderança feminina de startups

A Bloomberg Línea entrevistou Rojas para saber mais sobre ela e a proptech que está criando na Colômbia

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Miami — Em um jantar recente em Miami com investidores e fundadores de startups da América Latina, a conversa chegou ao tópico do pequeno número de mulheres empreendedoras do segmento na região. De todos os cantos da mesa, as pessoas diziam “mas e a Brynne?”. Embora existam outras mulheres, Brynne McNulty Rojas se destaca. Ela é cofundadora e CEO da Habi, uma proptech com sede na Colômbia que é apoiada pelo Softbank e pela Tiger Global, entre outros investidores notáveis. Desde o lançamento em 2019, a empresa levantou US$ 115 milhões em investimentos.

Rojas mudou-se recentemente para Miami com sua família e eu a entrevistei para saber um pouco mais sobre quem ela é como pessoa e como ela chegou onde está hoje.

Como seu nome pode indicar, ela não é latina. E embora ela tenha nascido e crescido em Nova Jersey, seus pais são irlandeses. Ela foi para o internato de elite Taft School em Connecticut antes de estudar na Wharton School, da Universidade da Pensilvânia. Foi durante uma aula na Wharton que ela conheceu a combinação dos mundos imobiliário e financeiro.

Foi a primeira vez que percebi o poder que políticas eficientes de habitação e o crédito exercem para apoiar a criação de riqueza nas famílias e desbloquear liquidez que pode alavancar o desenvolvimento econômico como um todo”, disse. Tem muita verdade nessa afirmação, que não deixa de ser bem articulada e eloquente.

Rojas sempre gostou de esportes e até jogou no time de lacrosse da Universidade da Pensilvânia, então não é surpresa que sua natureza competitiva a tenha levado para o que tradicionalmente é uma área dominada por homens no setor financeiro, mercado imobiliário e tecnologia. Como conversamos, a concorrência parece irrelevante e o fato de ela ser mulher também.

Após a faculdade, ela trabalhou no Goldman Sachs, em financiamento do setor imobiliário, antes de ir para a Harvard Business School para fazer seu MBA. Então, ela e o marido se mudaram para a Colômbia, onde Rojas conseguiu um emprego na McKinsey como consultora. Enquanto isso, ela também trabalhava na fundação de sua família, The McNulty Foundation, com sede em Nova York e que “busca inspirar, desenvolver e conduzir líderes para resolver os desafios mais críticos de nossa época”.

Após mais alguns empregos e estágios, foi por meio de seu marido que ela conheceu o cofundador da Habi, Sebastian Noguera, um empreendedor em série que também cofundou o Merqueo, maior supermercado on-line da Colômbia, e que também liderou a transformação digital do Banco de Bogotá.

“Eu mergulhei de cabeça. A oportunidade estava ali”, disse Rojas. “Para vender uma casa na Colômbia, era necessário colocar uma placa na janela com seu número de telefone”, contou.

A Colômbia, como outros países latino-americanos, não tinha um serviço de listagem múltipla (MLS, na sigla em inglês) de anúncios de corretores e o mercado imobiliário era fragmentado. Um MLS é uma lista on-line de todas as casas disponíveis para venda e aluguel. O serviço também lista qual corretor está representando cada casa e é usado nos Estados Unidos na maioria das transações imobiliárias.

“Demorou cerca de 10 meses para assinarmos o primeiro contrato de uma casa na Colômbia”, acrescentou Rojas.

Embora a Habi ofereça um MLS, ela também oferece outros ramos de serviços imobiliários, explicou Rojas, incluindo avaliações gratuitas de casas, uma plataforma para corretores, originação de hipotecas e reforma de casas.

A Habi compra casas e as reforma. Embora isso não pareça necessariamente praticável (se você já reformou um imóvel, sabe quanto tempo leva e a infinidade de coisas que podem dar errado), ao trabalhar com 20 empresas de reforma residencial, a Habi simplificou o processo, disse Rojas.

Não entenda mal, não é uma daquelas reformas que vemos na televisão. A Habi faz pequenas reformas porque quer que cada casa vendida siga um determinado padrão.

“Queremos levar cada casa que vendemos a um padrão mínimo da Habi, para que, quando as pessoas comprem nossos imóveis, saibam que estão recebendo uma casa ‘Habi’”, disse Rojas.

Na verdade, as reformas são a principal forma que a Habi ganha dinheiro. Embora Rojas tenha afirmado que vender uma casa para Habi costuma ser mais caro do que vendê-la por meio de um corretor, “a Habi garante o pagamento em um determinado prazo”.

Mas fundar a Habi, mesmo com um cofundador experiente, não foi fácil. Para começar, Rojas engravidou enquanto levantavam dinheiro. “Eu descobri que estava grávida na véspera de viajar para São Francisco para nos encontrar com investidores”, disse. Ela não sabia como os investidores receberiam a notícia, então ela manteve a gravidez em segredo pelo maior tempo possível.

A Habi então teve sua primeira transação em 2019, e Noguera estava pronto para sair comprando casas por aí. Ainda grávida, Rojas estava em Nova York para consultas médicas e os boatos sobre a Covid-19 estavam começando. “Liguei para Sebastian e disse: tem algo acontecendo, pare de comprar casas”, disse.

Quando a Covid-19 atingiu a Colômbia, os investidores da Habi os colocaram em uma situação difícil: demitir 30% dos funcionários, cuja maioria havia sido recém-contratada.

“O que acabamos fazendo foi fazer uma reunião geral e explicar que estávamos sob imensa pressão e que demitiríamos 30% dos funcionários ou, se todos na empresa concordassem em fazer um corte voluntário de 30% nos salários, poderíamos manter todos”, disse ela. Eles conseguiram manter todos na equipe, e, desde então, os salários voltaram ao normal.

Mesmo com esses desafios, a empresa conseguiu crescer 20 vezes ano a ano entre 2020 e 2021 e empregar mais de 500 pessoas. Embora a empresa tenha começado em Bogotá, agora está em Medellín, Cali, Barranquilla e Cidade do México. No curto prazo, a empresa planeja se expandir para Guadalajara e Monterrey no próximo ano.

Fundar uma proptech que opera na América Latina está muito longe do que Rojas pensava que faria quando crescesse, mas o desafio é emocionante para ela. “Sempre quis ser litigante porque gosto da ideia de justiça”, disse. “É um jogo, então talvez meu interesse por esportes tenha me ajudado”.

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