Boom de dívida verde cresce mais rápido que impacto real

Volume de ativos financeiros verdes nos balanços dos bancos e gestoras de ativos supera os investimentos verdes do mundo real

Desconexão dos investimentos com projetos verdes no mundo real pode complicar os esforços para rastrear a contribuição à descarbonização
Por Greg Ritchie e Priscila Azevedo Rocha
22 de Dezembro, 2021 | 09:22 PM

Bloomberg — O mercado de dívida verde cresce em ritmo mais rápido do que os projetos do mundo real para os quais foi criado para apoiar, graças a certa engenharia financeira.

Embora não exista nenhuma estimativa oficial para a diferença entre finanças verdes e projetos verdes reais, um coro crescente de auditores, pesquisadores e ativistas climáticos alerta que os números fornecidos por bancos oferecem uma imagem exagerada de seu papel no combate à mudança climática.

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“As instituições financeiras podem pintar um quadro de si mesmas, o que torna sua contribuição para a transição climática mais significativa do que realmente é”, disse Stanisław Stefaniak, pesquisador de finanças sustentáveis do think-tank Instrat, com sede em Varsóvia.

A preocupação tem como foco a revenda de empréstimos verdes, em que a contribuição da indústria financeira para um projeto subjacente é contabilizada com a mesma frequência com a qual a dívida original é refinanciada. Depois de emitir empréstimos verdes, os banqueiros podem agrupá-los em um título verde que pode então ser vendido a outra instituição financeira. Ambos podem alegar que estão financiando a transição climática.

Com o enigma contábil, o volume de ativos financeiros verdes nos balanços dos bancos e gestoras de ativos supera os investimentos verdes do mundo real. Neste ano, instituições financeiras registraram um recorde de US$ 180 bilhões em títulos verdes, mais do que qualquer outro setor privado.

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“É difícil dar um número para o nível de contagem dupla resultante devido à natureza privada do mercado de empréstimos”, disse Maia Godemer, analista de finanças sustentáveis da BloombergNEF. A “ressalva”, no entanto, é que corremos o risco de acabar com uma “imagem mais brilhante sobre a descarbonização real possibilitada pelas instituições de crédito”, disse.

O reempacotamento e reestruturação da dívida é uma forma bem estabelecida e totalmente legal de engenharia financeira. Embora exemplos mostrem que esses modelos podem sair pela culatra se aplicados sem restrições - o colapso das hipotecas de alto risco é um exemplo -, a recomposição da dívida também pode adicionar liquidez e trazer mais interessados ao mercado para ajudá-lo a crescer.

Com os bancos sob pressão de reguladores, especialmente na Europa, para tornar seus empréstimos mais verdes, esse tipo de refinanciamento os atende bem. Mas a desconexão com projetos verdes no mundo real pode complicar os esforços para rastrear sua contribuição à descarbonização urgente e necessária com o objetivo de evitar uma catástrofe climática.

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“Se o banco tem uma exposição legítima que pode divulgar, mas depois vende ou reempacota o empréstimo, existe o risco de que o comprador que obtém o crédito possa ser visto como um beneficiado da engenharia financeira em vez de representar o dinheiro sustentável que vai para a economia real”, disse Tim Conduit, sócio da Allen & Overy. “É uma questão de como as diferentes exposições verdes são divulgadas.”

Autoridades começam a se opor a esse potencial de lavagem verde no mercado de dívida. Emendas propostas à norma para títulos verdes da União Europeia inclui uma cláusula que impediria “a criação de títulos verdes do nada” com o refinanciamento contínuo, de acordo com Paul Tang, parlamentar responsável por orientar a legislação no Parlamento Europeu.

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