São Paulo — O Brasil registrou neste ano pelo menos dois casos de morte de animais de estimação durante um voo com ampla repercussão no país, provocando um debate sobre a necessidade de revisão de regras do transporte de pet nos aviões. Os dois episódios fizeram a Latam suspender a venda desse serviço por dois meses, só retomada no último dia 15 de dezembro, quando passou a adotar uma nova política para embarque de bichos no porão das aeronaves.
- Em setembro, Zion, filhote da raça Golden Retriever, morreu após um voo da Latam entre Guarulhos e Rio de Janeiro;
- Em outubro, o cão Weiser, da raça American Bully, foi encontrado morto após ter embarcado de Guarulhos rumo a Aracaju;
“A Latam aprimorou seus procedimentos para o transporte de pets, adotou novas restrições e protocolos na prestação do serviço”, respondeu a companhia ao pedido de comentários feito por Bloomberg Línea sobre o que mudou após as duas mortes desses cachorros. A empresa aérea diz que tomou as seguintes providências:
- A companhia realizou um mapeamento de todos os seus processos. Além disso, conduziu um processo de escutas ativas com especialistas do tema para ajudá-la a identificar oportunidades à luz das melhores práticas do mercado e para garantir cada vez mais eficiência nesse tipo de transporte
- A empresa reduziu os tempos de transporte, buscando um processo mais claro de informações sobre os procedimentos necessários para se reduzir os riscos em toda a jornada do transporte do pet, evidenciando as responsabilidades da empresa e dos clientes (tutores) para garantir e resguardar o bem-estar animal
- Firmou uma parceria com a ONG Ampara Animal, instituição que atua desde 2010. O foco da parceria é ajudar a Latam para que a empresa esteja alinhada com as melhores práticas internacionais no transporte de pets, baseadas na ciência do bem-estar animal, e a fim de minimizar e reduzir o risco no transporte aéreo de cães e gatos
“O transporte de pets é um processo que está em constante observação, aprendizado e melhoria. O que concluímos é a primeira etapa desse projeto, com algumas medidas mais restritivas já implementadas. Por isso, a partir de 2022, avançaremos para a segunda etapa, quando contaremos com a parceria da Ampara Animal e todo o seu conhecimento técnico-científico que irá nos ajudar a promover ainda mais excelência em nosso serviço”, disse Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, em nota anunciando a retomada do serviço.
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A Latam só transporta cachorros e gatos e possui três modalidades de transporte de animais de estimação. O pet pode viajar na cabine, na parte inferior da aeronave (porão) no mesmo voo que o do tutor ou também transportado pela Latam Cargo, dependendo do tamanho, raça e peso. O serviço de animais de estimação no porão só está permitido em itinerários com o máximo de uma conexão em seu itinerário completo. Há outros requisitos que precisam ser cumpridos:
- Documentação necessária para a origem, conexão e destino da viagem
- A caixa de transporte (kennel) deve cumprir com as condições estabelecidas pela Latam (revisar com detalhe as caixa de transporte de cada viagem)
- Os pets devem estar em ótimas condições de saúde para viajar
- Devem ter no mínimo 16 semanas de idade (4 meses) e devem ter sido desmamados há pelo menos 5 dias antes da viagem
- Que não sejam fêmeas em período de amamentação
- Que não estejam em período de cio
- Que não tenham estado grávidas ou que tenham dado à luz nas últimas 48 horas
Sumiço em Guarulhos
Enfrentar esse tipo de problema não é exclusividade da Latam no Brasil. A Gol atravessa uma experiência do gênero. Na última quarta-feira (15), a cadela Pandora, animal de estimação de um cliente proveniente de Recife (PE), que faria conexão em Guarulhos (SP) com destino a Navegantes (SC), escapou da caixa de transporte durante o processo de conexão no maior aeroporto do país. Nesta terça-feira (21), o tutor de Pandora, o garçom Reinaldo Gomes, ainda não desistiu de encontrar sua mascote.
“Eu não tenho a pretensão de ir embora. Eu só saio daqui com a minha cachorra”, disse Gomes à Bloomberg Línea, nesta manhã.
A Gol diz que, pelas câmeras de segurança, foi possível apurar que a cadela fugiu pelo pátio, invadiu o terminal de cargas do aeroporto, seguiu sentido a rodovia Hélio Smidt, mas depois não foi mais vista. “A companhia lamenta muito o incidente e está agindo de todas as formas para encontrar Pandora e devolvê-la ao dono”, informou a Gol.
Gomes diz que pagou R$ 669 pela caixa de transporte (kennel), além de R$ 850 pelo transporte do animal. “A Gol está pagando meu hotel e o táxi que estou usando para verificar as pistas sobre o paradeiro de Pandora”, conta.
Na manhã de hoje, ele seguiu uma pista de que a cadela estava em um bairro próximo do terminal. Uma pessoa em situação de rua disse que viu o animal, mas não era Pandora, apenas outro cachorro parecido.
A situação fez a Gol contratar a empresa Alerta Pet, que presta serviços de divulgação de casos de cães perdidos, com afixação de cartazes ao longo da área em que Pandora poderia ter escapado, bem como nas redes sociais, em páginas de busca de pets e por anúncios feitos por geolocalização para Guarulhos e região. Um cão farejador foi usado para tentar localizar a cadela, sem sucesso.
“O cliente recebeu todo o apoio das equipes da Gol em Guarulhos e ficou ciente dos esforços da companhia para encontrar seu animal de estimação. Desde quarta-feira ele está acomodado em hotel e aguardando informações sobre as buscas que não cessarão enquanto Pandora não for encontrada”, acrescentou a companhia.
O sumiço do animal pode atrapalhar os planos profissionais do garçom de Recife, que estava com viagem marcada para Suíça, de onde recebeu uma proposta de emprego como chapeiro. O apego à Pandora se traduz nas diversas fotos de recordação em que aparece ao lado de sua mascote e que compartilhou as imagens com a reportagem.
Coelho
Quem não tem cão nem gato sofre para conseguir embarcar seu pet. No último dia 19 de novembro, um casal chegou a ser barrado de embarcar em um voo internacional da KLM em Guarulhos, pois carregava um coelho. Houve discussão, troca de palavrões e ameaças, tudo flagrado em vídeo que viralizou nas redes sociais. O casal tinha autorização judicial para levar o coelho Alfredo. Uma segunda autorização da Justiça foi conseguida, e o casal e seu coelho conseguiram embarcar.
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O surgimento desses incidentes pode ter relação com a pandemia da Covid-19. As ordens de confinamento acabaram criando uma nova rotina das famílias, que gastaram mais tempo com seus bichos de estimação, nos períodos de “lockdown” e, agora com a retomada das viagens, não desejam se separar de suas mascotes mesmo enfrentando uma jornada de requisitos para embarcá-los em viagens internacionais.
Dado da Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação) aponta que o Brasil com seus 215 milhões de habitantes possui mais de 140 milhões de animais de companhia. Diante dessa mudança comportamental, o mercado de pet shop não sabe o que é crise. Segundo o Instituto Pet Brasil, o segmento é promissor, com faturamento de R$ 40,1 bilhões em 2020, aumento de 13,5% em um ano. O Brasil está entre os três maiores mercados do mundo para produtos pet, ao lado de EUA e Reino Unido, segundo a entidade.
“É um segmento que tem inovado para atrair novos negócios. Não a toa, em 62,8% das empresas, o gasto médio varia entre R$ 25 a R$ 100″, diz a economista da Federação, Gabriela Martins, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais, que fez uma pesquisa sobre esse mercado. Para fidelizar esse público, 54,5% dos empresários entrevistados afirmaram, segundo a Fecomércio-MG, oferecer algum diferencial em relação à concorrência. Entre os atrativos estão programas de fidelidade e assinatura, qualidade no atendimento, transporte para os animais, variedade de produtos e serviços, atendimento personalizado e promoções.
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