Bloomberg Línea — “O mantra é a diversificação”: Foi o que respondeu a gestora e sócia da Dahlia Capital, Sara Delfim, ao entrar no assunto sobre os planos para os fundos da casa em 2022.
A cofundadora da gestora disse, em entrevista à Bloomberg Línea, que são três os principais elementos que os analistas da casa prestarão mais atenção no próximo ano: Covid, clima e petróleo. Além disso, as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e as eleições presidenciais no país completam o cenário para um ano que promete instabilidades.
“Apesar dos solavancos, o Brasil é um dos principais países em vacinação completa. A covid já está mapeada para nós, agora por aqui é só manter o ritmo dos protocolos”, disse Sara. “O segundo item é que não adianta o BC subir a taxa básica de juros porque isso não vai fazer chover. Isso não vai fazer a safra do mundo melhorar e nem o preço do petróleo cair.”
Tivemos crise hídrica, houve forte choque na cesta básica. Como não choveu no Brasil, estamos em bandeira vermelha de energia elétrica, e isso pesa muito na parte dos alimentos
Sara Delfim
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A gestora segue: “O terceiro elemento é o petróleo. O preço do barril tocou os US$ 85 há dois meses, e agora volta a cair com perspectivas de novos lockdowns pelo mundo. Isso tudo gera inflação. Mas não é uma inflação de demanda, com consumo alto. É uma inflação de oferta. Precisa de mais chuva e mais alimentos.” Outros fatores do cenário global, como a mudança de política do Federal Reserve, o banco central americano, e a provável reaceleração da economia da China após as olimpíadas de inverno também estarão no radar.
A economista com mais de 20 anos no mercado financeiro foi uma das 36 personalidades brasileiras selecionadas para os 100 Empreendedores de 2021 pela Bloomberg Línea. Após quase quatro anos à frente da Dahlia, Sara ainda é uma das poucas mulheres gestoras do país.
Ela defende que o ciclo de alta de juros iniciado pelo Copom neste ano pode não se estender muito por 2022, já que acredita que a inflação deve começar a acomodar e arrefecer as altas constantes no primeiro trimestre do próximo ano.
Subir a Selic não vai fazer esses três elementos mudarem; acaba apertando mais a economia e fazendo as pessoas sofrerem mais, principalmente as classes baixa e média. Um reequilíbrio dos preços do petróleo e aumento das chuvas no Brasil podem levar ao BC a segurar as altas de juros ou até voltar a cortar
Sara Delfim
No Brasil, especificamente, ainda é ano de eleição presidencial. O primeiro turno está agendado para o dia 2 de outubro. “Vai ser polarizado, combativo e barulhento como sempre”, disse. “Já passamos por várias, o processo é sempre volátil e por isso é importante ter exposição e proteção no exterior.”
“É bom ter também ativos de empresas com balanços sólido, marcas fortes que se descolem desse cenário brasileiro, que usem o ciclo de baixa para fazer novas aquisições. Navegar com cautela e protegido, monitorando chuva, petróleo e China serão determinantes.”
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