Sem plano de gastos e Fed, economia dos EUA pode perder impulso

O governo americano gastou quantias históricas para apoiar a economia durante a pandemia. A retiradas desses estímulos vai criar uma queda rara nos gastos fiscais

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Bloomberg — A economia dos Estados Unidos terá que aprender a conviver com o coronavírus sem muita ajuda do Federal Reserve ou do governo federal em 2022, especialmente depois de o plano de gastos de US$ 1,75 trilhão do presidente Joe Biden emperrar no Congresso.

O giro da política do Fed na semana passada em direção a condições de crédito mais apertadas - com a decisão de encerrar o programa emergencial de compra de títulos em março e abrir caminho para juros mais altos - se soma à reversão dos programas de gastos do governo implementados no auge da pandemia. O aperto fiscal será ainda maior se os democratas não puderem salvar o pacote de gastos sociais de Biden diante da oposição de um senador moderado.

O resultado, dizem economistas, seria a desaceleração causada por políticas em uma economia que encerra 2021 em forte ritmo: a previsão é de crescimento de 7% ou mais no quarto trimestre.

A boa notícia é que isso deve ajudar a esfriar a inflação, atualmente no maior nível em várias décadas. A má notícia: esse cenário deixará a economia mais vulnerável a choques como a variante ômicron altamente transmissível, que já provoca uma retração na atividade econômica dos EUA.

A ômicron “vai causar alguns estragos na economia”, com menor gasto de consumidores em viagens, restaurantes e outros serviços presenciais, disse Wendy Edelberg, diretora do Projeto Hamilton do Brookings Institution. Mas ela destacou que sua expectativa é de continuidade da expansão.

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Isso tudo deve favorecera ainda mais uma política ágil de Jerome Powell e autoridades do Fed sem necessariamente aderirem às projeções de três aumentos dos juros em 2022, enquanto buscam um pouso suave da economia.

“Existem muitas variáveis e incertezas”, disse Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics. “É como pousar o avião econômico na pista durante uma tempestade com vento contrário de 160 quilômetros por hora em alguns pontos e vento de cauda de 160 quilômetros por hora em outros.”

Em nota de pesquisa no domingo, economistas do Goldman Sachs disseram que a não aprovação do programa de gastos sociais e ambientais de Biden “apresentaria algum risco” à previsão do banco de que o Fed aumentará os juros em março.

Com a aprovação do plano cada vez mais improvável, economistas do Goldman reduziram as previsões para o crescimento do PIB dos EUA nos próximos meses: para o primeiro trimestre, a projeção baixou de 3% para 2%.

A incapacidade dos democratas de se unirem em torno do chamado “Build Back Better” pode afetar o consumo, porque o governo terá que suspender benefícios de crédito tributário infantil para famílias. O destino do pacote caiu no limbo no domingo depois da recusa do senador da Virgínia Ocidental, Joe Manchin, em apoiar o plano

Esse obstáculo se somaria ao impacto fiscal de mais de 3% do PIB em 2022 com o término das medidas temporárias de alívio da pandemia, de acordo com o economista do Goldman, Alec Phillips.

Um possível ponto positivo para os mercados financeiros: o fim do plano de gastos de Biden também congelaria impostos mais altos sobre empresas esperados como parte do pacote.

Alguns economistas apontam o aumento das economias das famílias como outro ponto positivo. Graças em parte aos pagamentos de estímulo pelo governo, consumidores acumularam cerca de US$ 2 trilhões a US$ 3 trilhões.

Ainda assim, se os democratas não conseguirem aprovar medidas de gastos adicionais, isso teria impacto significativo na economia no próximo ano. Zandi, da Moody’s Analytics, vê forte desaceleração para um crescimento abaixo de 1,5% no quarto trimestre de 2022 se o programa de US$ 1,75 trilhão de Biden não for aprovado.

“Isso nos tornaria vulneráveis no fim do ano que vem”, disse. “Nessa taxa de crescimento, você corre o risco de parar se algo mais der errado.”

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