Preço de energia na Europa dispara com chegada do inverno

Com problemas de abastecimento, região deve recorrer ao gás, que chegou a aumentar 600%

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Bloomberg — A Europa está se preparando para um período de escassez de energia à medida que o inverno se aproxima, impulsionando a demanda e fazendo disparar os preços em um momento que a oferta simplesmente não consegue acompanhar.

A previsão é de temperaturas abaixo de zero em diversas capitais do continente esta semana, sobrecarregando as redes de eletricidade que já lidam com a baixa velocidade do vento e graves interrupções de energia nuclear na França. Para piorar a situação, a Rússia pretende continuar limitando os fluxos de gás natural através de uma importante rota de trânsito para a Alemanha na segunda-feira (20), após limitar o fornecimento no fim de semana.

Os preços da energia ficaram fora de controle este ano, com o gás europeu subindo cerca de 600%. O contrato referência de gás da região subiu 8,8% na manhã de segunda-feira – o mesmo ocorreu com a eletricidade no curto prazo. Na França, o mercado de energia no dia seguinte chegou ao máximo desde 2009 em um leilão no domingo (19), e seu preço ficou ainda mais alto no trading da segunda-feira. O contrato alemão bateu o terceiro maior recorde e deve batê-lo novamente.

O aumento dos preços alimentou a inflação, um problema para as autoridades, que já lutam com a disseminação da variante ômicron logo antes das festas de fim de ano. As tensões geopolíticas entre a Rússia e a Ucrânia também podem piorar as coisas – uma possível invasão provavelmente fará os preços subirem ainda mais.

Jeremy Weir, CEO da trader de commodities Trafigura Group, alertou no mês passado que a Europa poderia passar por apagões frequentes se o inverno for muito rigoroso. Isso foi antes de a Electricite de France dizer que estava suspendendo reatores responsáveis por 10% da capacidade nuclear do país, deixando a região à mercê do clima no auge do inverno em janeiro e fevereiro.

Os preços referência de gás na Holanda saltaram para quase 149 euros (aproximadamente US$ 168) por megawatt-hora, o mais alto para um contrato ativo desde um aumento de 40% em 6 de outubro. Os traders também estão ansiosos, pois os leilões de capacidade de dutos no mês que vem indicarão se a Gazprom pretende aumentar o fornecimento em janeiro.

A energia elétrica do ano seguinte da Alemanha – referência na Europa – subiu até 1,1%, chegando a 245 euros (aproximadamente US$ 277) por megawatt-hora, a apenas 0,8% de um recorde.

Com a interrupção no fornecimento de energia nuclear, os produtores de eletricidade terão de usar mais gás para manter as luzes acesas. A Rússia planeja que os fluxos de gás para a Alemanha através do gasoduto Yamal-Europa continuem limitados, potencialmente forçando a Europa a contar com seus estoques já drenados. Os locais de armazenamento estão apenas 60% cheios, um recorde para esta época do ano.

Nesta segunda-feira (20), apenas 4% da capacidade foi alocada para enviar gás através da estação alemã de Mallnow, onde termina o gasoduto que atravessa a Bielorrússia e a Polônia. Isso se compara a cerca de 35% do espaço disponível que a Rússia reservou para a maioria dos dias deste mês.

Não há alívio para o aperto do mercado à vista, já que as temperaturas devem permanecer abaixo dos níveis normais no Reino Unido, Dinamarca e norte da Alemanha na próxima semana. Embora os traders esperem que o gás natural liquefeito possa ajudar até certo ponto, devido à menor demanda na Ásia, os desvios de carga levarão tempo, e o aumento das chegadas aos portos europeus não deve ocorrer antes de janeiro.

Enquanto isso, a energia eólica deve permanecer em baixa na Alemanha até 23 de dezembro. Na França e na Grã Bretanha, a geração deve cair na terça-feira (21), causando mais problemas de abastecimento.

--Com assistência de Isis Almeida e Rachel Morison.

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