Curva de juros invertida esconde risco de inflação persistente no Brasil

Expectativas de inflação apuradas pela Bloomberg com economistas brasileiros atingiram 5,8% para o próximo ano, muito acima da meta de 3,5%

Banco Central de Brasil
Por Davison Santana
20 de Dezembro, 2021 | 11:41 AM

Bloomberg — A queda acentuada dos juros futuros de longo prazo está camuflando uma preocupação persistente com a inflação brasileira.

Os riscos de uma recessão prolongada, à medida que o Banco Central aperta a política monetária para combater a inflação acima da meta, desencadearam uma queda nas taxas de DI de longo prazo e uma inversão da curva de juros. A inflação implícita - que é o diferencial entre os rendimentos de títulos prefixados e indexados à inflação - caiu como resultado, disfarçando a preocupação contínua com a alta da inflação entre os investidores.

PUBLICIDADE

Mesmo com a inflação implícita atingindo o menor nível em cinco meses neste mês, as expectativas de inflação apuradas pela Bloomberg com economistas brasileiros atingiram 5,8% para o próximo ano, muito acima da meta de 3,5%. Em novembro, o IPCA atingiu 10,7%, o maior número desde 2003, ainda que tenha ficado abaixo da mediana de 10,9% projetada pela Bloomberg.

“Há um estímulo fiscal adicional que acabou de ser aprovado, que deveria ser inflacionário. Os preços das commodities ainda estão bem altos, o que também contribuirá para a inflação ”, disse Brendan Mckenna, estrategista de câmbio do Wells Fargo em Nova York. “As interrupções na cadeia de abastecimento também são um grande fator e não está claro quando essas pressões inflacionárias podem diminuir.”

  

A demanda por NTN-Bs também permanece forte. O preço dos títulos com vencimento em 2030 subiu quase 7% desde o final de outubro, quando atingiu a menor nível do ano, ressaltando o interesse contínuo dos operadores em proteger uma parte significativa de suas carteiras contra a inflação.

PUBLICIDADE

O Banco Central está sinalizando que o crescimento não é uma prioridade. Os membros do Copom reforçaram a preocupação com a inflação na última reunião, quando elevaram a Selic em 1,5 ponto percentual e sinalizaram um movimento de mesmo tamanho em fevereiro. Eles também recentemente aumentaram suas projeções de inflação para 4,7% em 2022, contra 4,1% em outubro.

Alguns operadores, no entanto, dizem que o Banco Central eventualmente precisará ser menos hawkish para evitar um desastre econômico antes das eleições presidenciais do próximo ano.

Leia Mais: Nômade digital: Buenos Aires promove moeda fraca para atrair trabalhador remoto

PUBLICIDADE
  

Além disso, o Tesouro não parece incomodado com a curva de juros invertida, sugerindo que a atual dinâmica do mercado não deve mudar em breve. O Tesouro ofereceu mais títulos indexados à inflação em seus leilões semanais recentemente, aproveitando rendimentos mais baixos para estender o prazo de sua dívida.

“Não acho que haja convicção para operar agora, apesar da última lwitura da inflação ter sido um pouco melhor do que o esperado”, disse Alvaro Vivanco, estrategista da NatWest Markets em Stamford. “O mercado e o banco central vão esperar por mais dados.”

Veja mais em bloomberg.com

Leia Mais: