Bloomberg — Os chilenos estão elegendo um novo presidente no domingo em uma disputa acirrada votação de segundo turno entre dois candidatos de visões díspares sobre como o país – conhecido por sua estabilidade e próspero – moldará seu futuro econômico, com repercussões na América Latina.
Os eleitores escolherão Jose Antonio Kast (extrema-direita) e Gabriel Boric (esquerda).
Kast tem 55 anos, diz-se católico devoto, defensor do livre mercado e com uma abordagem dura sobre manutenção da ordem pública e favorável a medidas contra a imigração. Ele foi o primeiro colocado no primeiro turno, em novembro.
Boric tem 35 anos, é um advogado e deputado que surgiu na política como líder estudantil e defende que o Chile deve dividir sua riqueza de maneira mais equilibrada, respeitar os direitos das minorias e promover a economia verde.
Pesquisas recentes mostram que Boric está um pouco à frente nas intenções de votos, mas o quadro está tão apertado que e os dois candidatos têm sinalizado ao centro nos últimos dias de campanha. A polarização entre os apoiadores das duas campanhas sugere que a batalha pode não terminar quando os votos forem contados. Qualquer um dos dois pode encontrar dificuldades para governar.
A votação começou às 8h e foi até às 18h, com previsão de que os resultados saiam por volta das 20h (hora de Brasília).
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Boric votou em sua cidade natal, Punta Arenas, no extremo sul do Chile, dizendo aos eleitores que, se eleito, seu governo dará início a um novo tipo de política. “Somos uma nova geração que está entrando na política com as mãos limpas, o coração quente e a cabeça fria. Temos certeza de que vamos tornar o Chile mais humano, decente e igualitário “.
Enquanto isso, Kast votou na cidade de Paine, próxima da capital, Santiago, dizendo a seus apoiadores que seu governo garantiria segurança e progresso. “Já conquistamos algo muito importante, que é a recuperação do equilíbrio político desta nação. Estou convencido de que vamos vencer. "
A eleição expôs feridas que infeccionaram no país por anos.
Boric está explorando o descontentamento entre a classe média e os jovens que exigem melhores serviços públicos e uma maior participação na riqueza da mineração do país. Em contraste, Kast atrai o apoio dos pobres e ricos alarmados com grandes protestos dos últimos anos, violência crescente e aumento da criminalidade.
Boric e Kast subiram à medida que os eleitores rejeitaram as coalizões de centro-esquerda ou a direita tradicional que governaram o Chile, desde a saída do ditador Augusto Pinochet em 1990. Em um sinal de descontentamento com o status quo da política chilena, o economista Franco Parisi – que fez campanha morando nos Estados Unidos e não passou pelo Chile para pedir votos – terminou em terceiro lugar na votação do primeiro turno do mês passado, derrotando candidatos que eram apoiados por partidos tradicionais. No sábado, Parisi deu seu apoio a Kast.
O mercado de ações do Chile foi o que mais subiu no mundo depois que Kast liderou terminou à frente no primeiro turno, mas parte desse movimento se inverteu após as pesquisas mostrarem que Boric estava avançando.
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O déficit público deve aumentar para 8,3% do PIB este ano, ainda como efeito dos gastos extraordinários por causa da pandemis, de acordo com o último relatório de finanças públicas.
O índice de de referência da bolsa do Chile sofreu uma reviravolta nos últimos dias. Ele saltou 2,8% na quinta-feira. Na sexta-feira, o indicador caiu até 2,4%, antes de reduzir as perdas e fechar em 0,8%.
Boric continua sendo o favorito neste momento, de acordo com Mauricio Morales, um cientista político da Universidad de Talca. Ainda assim, Kast é capaz de obter uma vitória se houver “forte participação nas comunidades ricas, segmentos rurais e no norte do país”.
O vencedor da votação de domingo presidirá a redação de uma nova Constituição, que será submetida a um referendo em 2022. Os redatores eleitos para reescrevê-la inclinam-se à esquerda. Kast inicialmente se opôs aos apelos para revisar a Carta dos tempos de Pinochet e questionou o colegiado eleito para redigir a nova Constituição. Boric apóia o processo.
O próximo presidente enfrentará desaceleração econômica, a inflação deve fechar o ano em uma alta recorde próxima de 12% e uma taxa de crescimento de 2% (baixa para o padrão chileno), segundo o banco central. Taxas de juros estão em alta por causa da inflação.
(Atualizada às 18h21 de domingo, 19/12, com informações sobre os votos de Boric e Kast)
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