Louis Desanges, presidente do Automobile Club de France, fundado há 126 anos, se deparou com uma situação difícil em 2019.
Carlos Ghosn havia renunciado ao cargo de diretor-presidente da Renault após sua prisão em Tóquio e, no fim daquele ano, a montadora nomeou Clotilde Delbos como CEO interina. O clube de Desanges tradicionalmente concede títulos honorários aos líderes das maiores montadoras da França, mas, naquela ocasião, não foi possível: o L’Auto, como o clube é conhecido, não aceita sócias mulheres.
“Poderíamos ter dado a ela um cartão garantindo os mesmos direitos da esposa de um membro”, disse Desanges em entrevista. “Mesmo isso teria sido a primeira vez.” Felizmente, para ele e sua instituição, a mais antiga do tipo no mundo, o reinado de Delbos durou pouco: a executiva foi substituída pelo italiano Luca de Meo, que será sócio.
Embora longe de ser o único clube exclusivamente masculino do mundo, o L’Auto está entre os poucos criados em torno de uma indústria cujos escalões superiores são cada vez menos exclusivos dos homens. Delbos - que não quis comentar - é vice-CEO da Renault; na rival Stellantis, as mulheres comandam as marcas Peugeot, DS e Chrysler, bem como a cadeia de suprimentos e operações de compartilhamento de carros. A fabricante de pneus Michelin tem quatro mulheres no comitê executivo de 11 membros. Nos EUA, Mary Barra está à frente da General Motors.
“Ter um clube como este, parado no século 19 e fechado para mulheres, prejudica todos os esforços da indústria para se abrir para elas”, disse Elisabeth Young, que trabalha no setor há três décadas e é cofundadora e presidente da Women and Vehicles in Europe, ou Wave, uma associação criada em 2008 para atrair mais mulheres para o setor. “É um símbolo muito prejudicial que projeta a imagem de uma indústria automobilística reservada aos homens.”
Isso não abala nenhum um pouco a decisão de Desanges de manter mulheres fora da lista de sócios de seu clube. Nenhuma mulher pode entrar porque o processo precisa do apoio de dois membros existentes, e isso não acontecerá, disse.
“Isso não mudará enquanto eu for presidente”, disse Desanges, de 74 anos. “Sinto que três quartos dos nossos cerca de 2 mil membros não querem que isso mude, e sou muito democrático para impor algo que eles não querem. Temos outras oportunidades de conhecer mulheres em Paris.”
Alguns membros da indústria consideram o L’Auto irrelevante, um clube antiquado para veteranos de outra era que está fora de sintonia com a realidade. Desanges rejeita essa caracterização, apontando que a idade média dos sócios está pouco abaixo de 55 anos. Nos últimos anos, o clube também começou a dar prêmios anuais a startups de tecnologia automobilística promissoras.
O L’Auto é “um lugar tradicional, e não um lugar para idosos”, disse Desanges. “É mais moderno do que parece.”
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