Ipea revisa projeção do PIB da agropecuária e prevê queda de 1,2%

Mudança na base de comparação de 2020 foi o principal motivo para o ajuste na projeção

Queda do abate no terceiro trimestre contribuiu para revisão das projeções
16 de Dezembro, 2021 | 03:37 PM

Bloomberg Línea — O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou hoje sua estimativa para o valor adicionado (VA) do setor agropecuário de 2021. Prevendo até agora um crescimento de 1,2% para este ano, o Ipea ajustou sua projeção para uma queda de 1,2%. O principal motivo para o ajuste foi a mudança significativa na base de comparação após a revisão dos números do valor adicionado do setor em 2020 feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os pesquisadores do Ipea levaram em consideração a queda da produção de bovinos no terceiro trimestre deste ano e as reduções nas estimativas do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) para as produções de milho, cana-de-açúcar e laranja. A revisão das séries de Contas Nacionais Trimestrais (CNT) pelo IBGE, divulgada juntamente com o resultado do PIB do terceiro trimestre, impactou a estimativa para o PIB do setor agropecuário. O crescimento do setor em 2020 foi revisto de 2,0% para 3,8%. Com isso, a base de comparação para a estimativa de 2021 elevou-se, principalmente quando se considera os últimos três trimestres do ano.

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O valor adicionado da produção vegetal para 2021 foi revisado de crescimento de 1,2% para queda de 2,6%. O desempenho negativo sustenta-se nas estimativas de quedas elevadas na produção de seis das sete culturas mais importantes. A soja é a única que apresenta perspectiva de crescimento este ano (+10,5%), mas mesmo esse novo recorde da produção da principal cultura do país não impedirá a queda no agregado da produção vegetal. A piora nas estimativas de queda na produção anual da cana-de-açúcar (-8,3%) e laranja (-13,8%), em virtude do choque climático adverso registrado na safra deste ano, impactou negativamente o resultado do setor agrícola.

Para a produção animal de 2021, a nova expectativa é de redução de 0,7%, ante previsão anterior de alta de 1,2%. Apesar de altas elevadas nas produções de suínos (+8,7%) e aves (+4,5%), a piora se deve à queda muito forte, no terceiro trimestre, na produção de dois produtos de maior relevância no componente: bovinos (-8,9%) e leite (-4,9%).

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“Para 2022, prevemos um crescimento no valor adicionado do setor agropecuário de 2,8% devido à alta esperada para a produção de bovinos, à nova alta estimada para a produção de suínos e da safra de soja e à expectativa de forte recuperação na produtividade e produção do milho, após a quebra de safra de 2021, resultante das questões climáticas adversas. A previsão anterior era de alta de 3,4%, mas levava em consideração a expectativa de safra ainda preliminares feita pela Conab”, disse o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac/Ipea), José Ronaldo Souza Júnior

Os riscos para 2022 ainda persistem com a preocupação em relação aos efeitos mais permanentes das geadas sobre as lavouras de café, por exemplo. Na produção animal, 2022 deve ser um ano de recuperação do abate e manutenção da demanda aquecida doméstica e externa, com a normalização das exportações para a China.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.